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Novo massacre na penitenciária de Guayaquil deixa ao menos 58 mortos

Equador decretou estado de emergência em todos os presídios no final de setembro, após um violento confronto entre facções que deixou 119 vítimas

Masacre Ecuador
O corpo de um preso aparece rodeado de policiais no teto do Presídio do Litoral em Guayaquil (Equador), na manhã seguinte ao início dos distúrbios, em 13 de novembro de 2021.Jose Sanchez (AP)

Outra madrugada violenta na penitenciária de Guayaquil deixa uma cena de horror num Equador abalado pela insegurança e um saldo de pelo menos 58 detentos mortos. Como ocorreu há apenas dois meses, um confronto entre facções dentro do maior presídio do país terminou com dezenas de corpos esquartejados e queimados. Segundo testemunhas e informações da imprensa local, os disparos começaram a ser ouvidos nos bairros vizinhos na noite de sexta-feira, mas nenhuma autoridade se pronunciou sobre o novo massacre até a manhã deste sábado.

O relatório preliminar fala de 58 mortos, todos réus, mas afirma que o número poderia ser muito maior. Também há 12 feridos. A cifra foi confirmada nesta manhã pelo governador da província de Guayas, Pablo Arosemena. O delegado do Governo descreveu a situação como “selvageria e falta de humanidade”, relacionando-a com uma disputa de poder entre facções que queriam “subjugar” os presos do pavilhão 2. “O líder da facção deste pavilhão não estava lá, porque dias atrás ele havia sido solto por um juiz ao cumprir 60% da pena”, explicou Arosemena. “Queriam sitiá-los, cercá-los, fazer um massacre total.” Neste pavilhão convivem 700 detentos.

Tudo começou na tarde de sexta-feira, segundo a comandante-geral da Polícia, Tanya Varela. Os policiais receberam um alerta por causa de detonações —disparos— e entraram para controlar o surto de violência. Saíram de lá porque “as condições foram adversas a noite toda”. Os presos portavam armas curtas, longas e até explosivos. “Não eram condições para uma intervenção, e buscamos outras estratégias”, afirmou Varela. Os presos de três pavilhões inteiros caminhavam livremente, e os agentes tentaram dispersá-los com gás lacrimogêneo. “Às 2:20 da madrugada, a Polícia decidiu entrar, até às 7h, e continua lá dentro. É possível que haja novas ações.”

Durante a operação, que durou toda a noite, os presos transmitiram ao vivo de seus celulares através do Facebook para mostrar o que estava acontecendo e pedir ajuda ao Governo. Não havia luz, e soavam disparos constantes. Os detentos ligavam e gritavam entre si. Apontavam para um drone da Polícia que iluminava alguns deles. O governador Arosemena contou que, ao não poderem entrar pela porta, os atacantes do pavilhão 2 tentaram abrir um buraco na parede com dinamite. “Queimaram colchões para fazer com que [os presos do pavilhão] saíssem com a fumaça tóxica. Fizeram de tudo para subjugá-los.”

Trata-se de um episódio similar ao confronto entre facções criminosas do final de setembro. Os 199 mortos foram aparecendo à medida que a Polícia entrava no presídio tentando retomar o controle, pavilhão por pavilhão. Foi o incidente mais grave do sistema carcerário equatoriano e motivou o presidente, Guillermo Lasso, a decretar estado de emergência em todas as prisões do país.

A agressiva convivência dentro dos presídios irrompeu no Governo do mandatário anterior, Lenín Moreno, que decretou o primeiro estado de exceção em junho de 2019, após uma série de motins que escandalizaram o país por sua crueldade. Foram 10 mortos. A situação explode agora, com Guillermo Lasso na presidência: já são três confrontos graves entre os presos. O primeiro ocorreu em julho, com 22 mortos; o segundo em setembro, com 119; e este da sexta-feira, cuja real dimensão ainda será conhecida.

“Estamos lutando contra o narcotráfico, contra facções criminosas que disputam o território para distribuir drogas”, disse o governador de Guayas, como explicação para o aumento da violência. “Lutar contra o narcotráfico é muito duro. Quando há ação, há consequências.” Faltam apenas duas semanas para o fim do período de exceção, e as mortes dos presos não terminaram. O último relatório falava de sete detentos enforcados.

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