Três rebeliões simultâneas deixam ao menos 75 mortos em prisões no Equador
Governo atribui as revoltas a uma luta entre gangues pelo controle das prisões
A situação nas prisões do Equador é crítica. Há pelo menos dois anos, mas nesta terça-feira o nível de violência interna saiu do controle. Ao menos 75 presos morreram e oito ficaram feridos em uma série de rebeliões simultâneas em três presídios do país. O presidente Lenín Moreno afirmou que por trás dos confrontos entre presidiários existem “organizações criminosas”.
O diretor do Sistema Penitenciário, Edmundo Moncayo, atribuiu a escalada de violência à luta pelo poder entre duas gangues, exacerbada pelo assassinato de um de seus líderes depois de recuperar a liberdade. “Há outra organização criminosa que reúne forças para assumir a liderança deixada por um cidadão que foi abatido em dezembro. Esperávamos uma ação imediata, mas demorou, e é a que aconteceu hoje. Dois grupos tentando encontrar uma liderança criminosa dentro dos centros de detenção”, disse Moncayo em uma entrevista coletiva na tarde de terça-feira.
Os três presídios onde ocorreram os distúrbios concentram 70% da população carcerária do país, disse Moncayo, com 38.000 detentos pertencentes a esse tipo de organização dentro das prisões. Segundo seu relatório, todos os mortos eram presos: 33 no presídio de Turi, em Cuenca; 8 no de Latacunga, em Cotopaxi; e os outros 21 no de Guayaquil. Durante o período de perguntas, Moncayo corrigiu seu número inicial de 67 mortes, reduzindo-o para 62. Poucas horas depois, as autoridades penitenciárias do Equador acrescentaram outras 13 vítimas, num total de 75.
O Governo enviou reforços da polícia “para retomar o controle das prisões de Guayaquil, Cuenca e Latacunga”, disse o presidente Lenín Moreno ao meio-dia. Às nove da manhã os primeiros alarmes dispararam. Sete horas depois, apenas a prisão de Guayaquil, uma das maiores, tinha sido pacificada. O Governo não confirmou se as outras duas prisões ainda estão sob o controle dos detentos.
A Procuradoria confirmou a retirada de oito corpos do presídio de Latacunga, na província de Cotopaxi, onde o ex-vice-presidente de Rafael Correa, Jorge Glas, cumpre pena pelo caso Odebrecht. O diretor do sistema penitenciário confirmou posteriormente que havia policiais feridos, mas que os agentes penitenciários tinham conseguido sair a tempo. O ministro de Governo, Patricio Carrillo, indicou que entre os rebeldes daquele centro havia presos de “alto risco”.
O Posto de Comando Unificado, formado por policiais e militares, foi então convocado para retomar o controle das prisões. Como explicação preliminar, o Serviço Nacional de Atenção Integral aos Privados de Liberdade (SNAI), responsável pela direção das prisões, apontou uma revista realizada na noite anterior como o estopim das revoltas. “Foi realizada uma revista no Centro de Privação de Liberdade de Guayas nº 4 ―o de Guayaquil―, pelo que se presume que estes acontecimentos sejam um sinal de resistência e rejeição por parte dos presos face às ações de controle”, afirmou nas redes sociais.
Posteriormente, o diretor do sistema penitenciário confirmou essa hipótese, indicando que duas armas de fogo foram apreendidas durante a inspeção. “Eram para vitimizar [assassinar] um dos líderes das organizações criminosas do centro de Guayaquil”, disse. Os distúrbios simultâneos começaram, segundo Moncayo, porque a outra gangue rival, que está no presídio de segurança máxima de Latacunga, se antecipou e ordenou uma reação violenta para “assassinar” presos nas outras duas prisões.
Não é a primeira vez que as autoridades atribuem os conflitos entre presidiários às guerras de gangues. Nos últimos dois anos, o Governo decretou dois estados de exceção para retomar o controle dentro das prisões. Em maio de 2019, três revoltas no período de um mês e meio deixaram 10 presos mortos e imagens nítidas de corpos incinerados e um decapitado. A declaração de emergência foi prorrogada por 90 dias. Exatamente um ano depois, em agosto de 2020, em meio à pandemia, outro surto de violência levou a um novo estado de exceção de 90 dias, depois que uma testemunha-chave em um caso de corrupção hospitalar foi assassinada dentro da prisão. O diretor do sistema penitenciário reconheceu então que havia problemas recorrentes, entre eles a superlotação.
Diante dessa situação, o diretor das prisões pediu um “marco legal suficientemente forte contra essas pessoas que não dão valor à vida dos seres humanos”.
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