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Argentina apela para controle de preços diante de alta da inflação

Medida do Executivo envolve mais de 1.000 alimentos, que subiram 53,4% nos últimos 12 meses

Inflación en Argentina
Grupo de pessoas faz compras no Mercado Central de Buenos Aires, em janeiro.Juan Ignacio Roncoroni (EFE)

A inflação voltou a acelerar na Argentina. Em setembro ficou em 3,5%, um ponto percentual a mais que em agosto, e com um trimestre para fechar o ano já acumula 37% em 2021. A rápida alta dos preços é ainda mais sentida nos alimentos: em setembro de 2021 custavam 53,4% a mais que no mesmo mês do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). O Governo de Alberto Fernández quer evitar que a inflação ganhe a disputa com os salários na reta final do ano, marcada pelas eleições legislativas de 14 de novembro. Para isso voltou à ofensiva com uma velha arma: o controle dos preços dos alimentos, nas mãos de um novo secretário de Comércio Interno, Roberto Feletti.

Feletti manteve contatos com fabricantes de alimentos e supermercados para manter fixos os preços de 1.245 produtos até o próximo dia 7 de janeiro. Leite, farinha, óleo, arroz, pão e outros produtos da dieta argentina fazem parte da longa lista anunciada pela Secretaria.

“Tivemos um ano difícil e precisamos gerar uma trégua na última parte do ano para que os salários comecem a se recompor depois de quatro anos de queda”, disse o ministro da Produção, Matías Kulfas, ao defender o congelamento de preços anunciado pelo Governo durante o colóquio empresarial Idea. Quando Fernández assumiu a presidência da Argentina, em dezembro de 2019, a cesta básica representava 9% do salário médio dos trabalhadores registrados no país. Hoje representa 11%. “O equilíbrio social da Argentina depende de que esta pressão sobre os salários por parte dos alimentos baixe”, concordou Feletti.

A perda de poder aquisitivo dos argentinos se agravou no ano passado, quando a economia despencou 9,9% em decorrência da paralisação das atividades decretada pela pandemia de covid-19. A pobreza cresceu 6,5 pontos percentuais e agora atinge 42% da população, o número mais alto desde a crise do corralito de 2001-2002.

Os reajustes aprovados em 2021 para o salário mínimo, as aposentadorias e nas negociações setoriais coletivas (conhecidas na Argentina como paritárias) buscaram reverter esse quadro. No entanto, seu sucesso depende de que a inflação não acelere, condição que poucos acreditam ser possível dada a elevada emissão de moeda.

“Precisamos estabilizar nosso país. Há 20 anos que vamos de crise em crise. É fundamental porque todas as crises empobreceram cada vez mais os setores populares”, disse no colóquio da Idea Gildo Onorato, secretário-geral de um dos grandes movimentos sociais da Argentina, a União dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular. Os números confirmam essa afirmação: no primeiro semestre de 2021 a pobreza caiu apenas 1,4 ponto percentual, ainda longe dos 35% pré-pandemia.

Antecedentes

A estratégia de congelamento de preços tem vários antecedentes na Argentina. Raúl Alfonsín, Néstor Kirchner, Cristina Kirchner e Mauricio Macri aprovaram antes de Alberto Fernández medidas para conter temporariamente o aumento dos alimentos e/ou das tarifas de serviços básicos. Foram eficazes no curto prazo, mas fracassaram no longo prazo ao aumentar os desequilíbrios fiscais.

O novo plano anunciado pelo Governo carece, por enquanto, de uma resolução oficial que torne obrigatório manter fixos os preços, o que aumenta as dúvidas sobre seu cumprimento, especialmente à medida que se aproximem as festas natalinas.

Ao mesmo tempo, os preços da eletricidade, água, gás e transporte público permanecem inalterados para as famílias argentinas à custa do aumento dos subsídios estatais. As tarifas voltarão a subir em 2022, quando o Executivo planeja começar a aplicar uma segmentação de acordo com a capacidade de pagamento dos usuários.

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