Shakira, Tony Blair e o Rei da Jordânia: a lista dos principais implicados nos ‘Pandora Papers’
O último vazamento coordenado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos revela as finanças ‘offshore’ de monarcas, políticos e artistas
Mais de 11,9 milhões de documentos confidenciais vieram à luz e expuseram os negócios offshore de algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo. Os Pandora Papers, uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) em que o EL PAÍS e o canal de televisão La Sexta colaboraram com meios de comunicação de mais de 100 países, revelam o uso de estruturas opacas por monarcas, políticos ou artistas. Esse tipo de empresas, localizadas em países diferentes do domicílio fiscal de seus administradores, são legais desde que o proprietário as declare onde reside. O problema começa, aos olhos das autoridades, quando o que se busca nesses países é anonimato e nenhuma tributação.
Este é um resumo das descobertas mais importantes reveladas até agora.
Shakira
A cantora colombiana Shakira é mencionada em três empresas registradas nas Ilhas Virgens Britânicas, um território caribenho apontado muitas vezes como paraíso fiscal devido ao seu regime preferencial de impostos e à confidencialidade que oferece, a Light Productions Limited, a Light Tours Limited e a Titania Management Inc.
As empresas foram abertas em abril de 2019 por meio do escritório panamenho OMC, quando a imprensa já havia anunciado que o fisco espanhol estava investigando as finanças da artista. “O fato de ter empresas no exterior se baseia em uma questão puramente operacional e comercial e em nenhum caso para usufruir de vantagem ou benefício fiscal”, afirmam seus representantes legais.
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair
O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e sua esposa, Cherie Blair adquiriram um edifício vitoriano em Londres, avaliado em 8,8 milhões de dólares (cerca de 47,22 milhões de reais), de acordo com o The Guardian e a BBC. A compra foi feita em 2017 junto ao ministro da Indústria e Turismo do Bahrein por meio da aquisição de uma empresa das Ilhas Virgens Britânicas registrada como proprietária legal do imóvel.
Cherie Blair, que usou o imóvel como sede de seu escritório, afirma que seu marido não esteve envolvido na transação e que sua intenção não era adquirir uma empresa offshore, mas “devolver a empresa e o edifício ao regime legal e regulatório do Reino Unido”.
O rei Abdullah II da Jordânia
O Rei da Jordânia, Abdullah II, comprou três mansões em Malibu, (Califórnia), avaliadas em 68 milhões de dólares, de acordo com uma investigação do Washington Post. As transações foram realizadas por meio de três empresas opacas das Ilhas Virgens Britânicas. O ICIJ destaca que o Monarca está ligado a mais de trinta empresas de fachada que usou para adquirir um total de 14 residências de forma secreta nos EUA e no Reino Unido, algumas registradas pouco depois da Primavera Árabe, na qual o jordanianos protestaram contra o desemprego e a corrupção. Seus advogados argumentam que a lei jordaniana não o obriga a pagar impostos e que usou as empresas offshore por motivos de privacidade e segurança. Também rejeitam que o Rei tenha se apropriado indevidamente de recursos públicos.
O antigo chefe do FMI, Dominique Strauss Kahn
Dominique Strauss-Kahn, ex-chefe do Fundo Monetário Internacional, figura no vazamento como diretor e acionista de uma empresa criada em Dubai com domicílio no Marrocos, onde cresceu. Depois que sua carreira política foi interrompida após ser acusado de abuso sexual, Strauss-Kahn se dedicou a oferecer serviços de consultoria, especialmente na África. As informações obtidas indicam que utilizou essa rede offshore para administrar seus ganhos como consultor internacional, segundo o Le Desk de Marrocos e o jornal francês Le Monde.
Andrej Babis, primero ministro tcheco
O primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis, comprou o Chateau Bigaud, um castelo na Riviera Francesa, em 2009, informa o portal Investigace.cz. A transação foi concluída por meio de uma extensa rede de empresas opacas e um ano depois adquiriu sete propriedades próximas ao castelo por meio de uma empresa de Mônaco. Considerado o segundo homem mais rico de seu país, Babis assumiu o poder em 2017 com a promessa de acabar com a corrupção, mas omitiu esses bens de sua declaração patrimonial.
O mandatário não respondeu aos pedidos de comentários, mas um consórcio imobiliário ligado a ele, que posteriormente assumiu o controle das empresas e das propriedades, afirma que atende a todos os requisitos legais.
Guillermo Lasso, presidente de Equador
Guillermo Lasso é presidente do Equador depois de vencer as eleições presidenciais de abril deste ano. Lasso é uma figura totalmente diferente de seus antecessores, os ex-presidentes Rafael Correa e Lenín Moreno. É um empresário conservador, bem-sucedido, ex-diretor do Banco de Guayaquil, um dos maiores do país.
O agora presidente recorreu a 14 empresas financeiras opacas nos Estados Unidos e no Panamá, como agora revelam os Pandora Papers. Mas quando se candidatou pela terceira vez à presidência, o mandatário se desfez de grande parte da rede offshore que havia atesourado nos últimos anos para respeitar uma lei promovida pelo correísmo em 2017.
“Sempre cumpri a lei equatoriana que proíbe candidatos e funcionários públicos de manter empresas offshore, como indiquei em minhas declarações juramentadas”, respondeu Lasso a uma carta enviada pelo ICIJ e pelo jornal El Universo. Atualmente, 10 das 14 empresas estão inativas e sobre as outras quatro o presidente nega qualquer relação ou benefício.
Paulo Guedes, ministro da Economia
Paulo Guedes, ministro da Economia, fundou em 2014 a empresa Dreadnoughts International Group, nas Ilhas Virgens Britânicas. Homem forte do Governo de Jair Bolsonaro, Guedes injetou 9,5 milhões de dólares na empresa nos meses seguintes, segundo o EL PAÍS e a revista Piauí. O Brasil proíbe que altos funcionários tenham investimentos dentro ou fora do país que possam se beneficiar de políticas governamentais a partir de informações privilegiadas.
Depois de assumir o cargo em janeiro de 2019, Guedes não fechou sua empresa no Caribe, mas informou a Comissão de Ética Pública que a tinha. A entidade não encontrou nenhuma irregularidade e arquivou a investigação no ano passado. Guedes está envolvido na negociação de uma reforma fiscal que poderia tributar brasileiros que possuem ativos no exterior. O ministro respondeu em um comunicado que sua atuação “respeitou a legislação aplicável e foi guiada pela ética e pela responsabilidade”.
Wopke Hoekstra, ministro das finanças holandês
O ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, fez várias aquisições de ações da empresa offshore Candace Management LTD, constituída nas Ilhas Virgens Britânicas, entre 2010 e 2014. Junto com ele, segundo o ICIJ, aparecem como acionistas vários executivos –atuais e aposentados– de um dos maiores bancos da Holanda, o ABN AMRO.
Como parte do Governo de seu país, o ministro criticou a indústria das finanças offshore e pressionou para a introdução de medidas de transparência. Hoekstra afirma não saber que a Candace Management LTD estava sediada nas Ilhas Virgens Britânicas e que tampouco conhecia a identidade dos outros acionistas da empresa.
Jho Low, financista e fugitivo malaio
Financista acusado de desviar 4,5 bilhões de solares do fundo de desenvolvimento econômico malaio 1MDB, Jho Low contratou os serviços do Baker McKenzie, o maior escritório de advocacia dos EUA, para construir uma rede de empresas com sedes em Hong Kong e na Malásia. A investigação do ICIJ revela que Low, agora foragido, e seus comparsas usaram algumas dessas empresas para desviar o dinheiro subtraído do 1MDB. Um porta-voz do escritório de advocacia norte-americano afirma que a firma se esforça para “assegurar que seus clientes cumpram a lei e as melhores práticas”.
Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia
O ator e político Volodimir Zelenski, atual presidente da Ucrânia, tinha ações da empresa Maltex Multicapital Corp, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo os Pandora Papers, a finalidade dessa entidade era ter participações em empresas de produção e distribuição cinematográfica.
Em março de 2019, um mês antes de vencer as eleições, Zelenzki transferiu suas ações para Sergiy Shefir, um amigo próximo e parceiro de negócios que mais tarde se tornou um de seus principais assessores políticos em Kiev. Nem o ministro nem seus assessores responderam aos pedidos de comentários.
El ícone pop, Elton John
Sir Elton Jhon tem mais de uma dezena de companhias registradas nas Ilhas Virgens Britânicas para canalizar suas receitas provenientes de diferentes atividades. Seu marido, David Furnish, é listado como diretor em todas elas. Além de seu trabalho como cantor e compositor, John escreveu músicas para adaptações teatrais como The Lion King e Billy Elliot: O Musical. Os nomes de algumas de suas empresas foram inspirados neles: WAB Lion King Ltd, HST Billy Elliot Ltd ... Os representantes do artista garantiram ao ICIJ que todas as suas empresas offshore são tributadas no Reino Unido e que não foram usadas para reduzir seus impostos.
A top model Claudia Schiffer
Claudia Schiffer aparece nos Pandora Papers como beneficiária da 51 Red Balloons Holdings Limited e do trust fund The Roxy Trust, junto com outras estruturas estabelecidas nas Ilhas Virgens Britânicas para administrar os direitos de sua marca comercial. A modelo figura nos documentos com seu nome de casada, Claudia De Vere Drummond, de acordo com os veículos de comunicação alemães Westdeutscher Rundfunk e Süddeutsche Zeitung. Os representantes da modelo afirmam que está em dia com o pagamento de seus impostos no Reino Unido, onde reside.
O músico britânico, Ringo Starr
O ex-baterista dos Beatles criou duas empresas nas Bahamas que eram usadas para comprar imóveis, incluindo uma “casa particular” em Los Angeles. Um mínimo de cinco trustes panamenhos também aparecem nos Pandora Papers: três deles são de seguro de vida que têm seus filhos como beneficiários e outro tem sua receita de royalties e apresentações ao vivo. Os representantes do artista não responderam às perguntas do ICIJ.
Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.