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Ursula Von der Leyen: “O mundo precisará de mais vacinas para as novas variantes do coronavírus”

Presidenta da Comissão Europeia defende que os contratos com as farmacêuticas foram um sucesso que permitirá vacinar até o final do verão 70% da população adulta da Europa

A presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.
A presidenta da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.JOHANNA GERON (Reuters)

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Sorriso imperturbável, inquietação por dentro. A presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, respondeu nesta segunda-feira a enxurrada de críticas que recebeu pelo lento começo das campanhas de vacinação na Europa. “Estamos diante de uma tarefa titânica, mas conseguiremos”, disse Von der Leyen durante um encontro com o EL PAÍS e outros veículos de imprensa europeus no quinto andar do edifício Berlaymont, sede da comissão em Bruxelas. A política alemã, seriamente questionada nos últimos dias, defende que a estratégia europeia de vacinação é a adequada, atribui os atrasos injustificados a uma só empresa (AstraZeneca) e continua convencida de que 70% da população europeia estará imunizada no final do verão no continente (em setembro). Fontes do órgão comunitário indicam que as 100 milhões de doses esperadas neste trimestre se somarão provisoriamente às outras 380 milhões durante o segundo trimestre. Um número que permitirá imunizar por volta de 200 milhões de habitantes.

Pergunta. Em 2020 a senhora terminou o ano cercada de sucessos, como o acordo do Brexit e o início da vacinação. Mas tudo mudou. Cometeu algum erro?

Resposta. Em política sempre há altos e baixos e ainda mais em tempos de crise, mas o que importa é a avaliação final. Lembro que no começo da pandemia também foi difícil para a comissão, que não tem atribuições sanitárias, convencer os Estados-membros da necessidade de coordenação e elaboração de um projeto europeu. Agora estamos iniciando uma campanha de vacinação maciça, de uma envergadura que jamais vimos. Estamos diante de uma tarefa titânica, uma maratona que requer nervos de aço, mas estou convencida de que conseguiremos o objetivo.

P. Mas na sexta-feira a proposta da comissão de controlar as exportações disparou os alarmes em Dublin e Londres pelo risco de colocar em perigo os acordos do Brexit sobre as ausências de fronteiras na Irlanda.

R. Sou consciente de como o protocolo da Irlanda do Norte é sensível. Está claro. E me alegra que no final tenha sido encontrada uma boa solução e que contou com o apoio do primeiro-ministro irlandês. Em tempos normais, os procedimentos são mais lentos. Mas neste ano de crise precisamos tomar quase 900 decisões emergenciais. E decisões emergenciais significam rapidez. E sempre há o risco de que algo passe despercebido, mas o importante é que o resultado final é positivo.

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P. Acha que esses tropeços prejudicam sua credibilidade?

R. Vamos esperar o final do mandato para ver os sucessos e erros e então faremos o balanço.

P. A população e os Governos se impacientam pela lenta chegada das vacinas.

R. Entendo que as pessoas queiram ter já a vacina, porque a pandemia submeteu a população e a sociedade a um enorme estresse. É compreensível a pressão e a aceito. Mas as vacinas foram desenvolvidas em 10 meses, com um investimento maciço, quando normalmente teriam demorado de 5 a 10 anos. E nunca houve uma campanha de vacinação e de produção de vacinas dessa magnitude. É um processo muito complicado. Começamos em dezembro e em um mês já foram distribuídas 18 milhões de doses. Em fevereiro serão distribuídas mais 33 milhões. E em março, outras 55 milhões. E no segundo trimestre teremos ainda mais.

P. Fora da Europa há países que estão mais rápidos. Os senhores demoraram demais em fechar os acordos?

R. O fator que influenciou na velocidade foi o processo de autorização, a negociação dos contratos não influenciou em nada. No início da pandemia existiam 160 instituições pesquisando para desenvolver a vacina. E nós precisamos escolher no verão com quem fazer os contratos. E colocando em perspectiva, acho que acertamos na escolha. Todas as empresas que chegaram à vacina estão em nossa carteira de contratos. Assinamos em agosto o primeiro contrato com a AstraZeneca, que parecia a favorita. Mas depois também com a BioNTech, em quem quase ninguém apostava e foi a primeira. A BioNTech esperou a aprovação e, uma vez obtida, começou imediatamente as entregas. O mesmo aconteceu com a Moderna. O conflito que temos é com a terceira empresa (AstraZeneca) porque uma vez completado o processo de autorização, esperávamos a entrega e queremos uma explicação de por que não chegou.

P. Algumas fontes apontam que a AstraZeneca tinha contratos com Londres que davam prioridade ao Reino Unido.

R. Nosso contrato é claro. Não há condições prévias. É um contrato que a empresa deve cumprir. A AstraZeneca é uma empresa com produção mundial. Cabe a eles decidir como se organizam para atender a todos os seus clientes. Não sabemos, e não nos preocupa, quem são seus outros clientes. A boa notícia é que a AstraZeneca nos comunicou que adiantará a primeira entrega em 7 de fevereiro, com 3,2 milhões de doses. Em 17 de fevereiro, outras 4,9 milhões. E até o final de fevereiro, 9,2 milhões. No total, mais de 17 milhões neste mês. E em março, serão 23 milhões. No total, 40 milhões em dois meses. Isso descreve o processo em que estamos.

P. Mas esse número ainda está abaixo do que se esperava no primeiro trimestre, por volta de 100 milhões de doses.

R. Com certeza, esperamos que a AstraZeneca cumpra seu contrato. Deixamos claro que queremos transparência e também se estabelecerá através da regulamentação sobre autorização de exportações porque essa lei obriga a detalhar o que se exportou e para onde desde dezembro. Quando tivermos esses dados poderemos nos sentar com a empresa e dizer-lhes: estes são os fatos, trabalharemos em um plano para recuperar o atraso. Queremos as vacinas. Cabe à empresa explicar e dizer como cumprirão o contrato. O pior já passou com a AstraZeneca. Entenderam que falamos sério. E é positivo que a empresa já tenha mostrado caminhos para sair dessa situação difícil e melhorar e acelerar as entregas.

P. Há quem culpe a UE por ter investido muito pouco nas vacinas.

R. Investimos 2,7 bilhões de euros (18 bilhões de reais) nos contratos de aquisição, que eram um investimento adiantado nas empresas para que desenvolvessem suas capacidades de produção. Não era o pagamento das vacinas, somente o investimento em capacidades, para que pudessem começar a fabricar antes de receber a autorização da vacina. Também se acrescenta a esse número o que os Estados membros pagam pelas doses, de modo que é uma enorme quantidade de dinheiro. E é preciso lembrar que as vacinações começaram antes do que se esperava. Em outubro do ano passado se calculava que começaríamos em março. E foi antes, em 27 de dezembro.

P. Mais tarde do que o Reino Unido, por exemplo.

R. É verdade que outros começaram antes. Mas a diferença é que nós decidimos, em acordo com os 27 Estados-membros, que é muito importante que uma vacina seja eficiente e segura. Por isso não admitimos atalhos no escrutínio e análise dos dados. Outros aprovaram uma autorização de emergência em 24 horas. Acho que fizemos bem em recusar essa possibilidade e apostar em um processo completo de revisão que demorou duas ou três semanas. Começamos um pouco mais tarde. Mas a vacinação é injetar uma substância biológica em uma pessoa saudável. É uma enorme responsabilidade. De modo que acho que foi um acerto nossa fórmula com a autorização comercial provisória em duas ou três semanas, que ainda assim é mais rápido do que um processo normal de autorização.

P. A senhora ainda acha factível vacinar 70% da população europeia até o final do verão?

R. Sim, com certeza. Será possível ter vacinado 70% da população adulta ao final do verão.

P. Qual é sua maior inquietude a partir de agora?

R. Como médica estou surpresa com a velocidade com que se chegou à vacina, nunca havia acontecido. É milagroso o que a ciência conseguiu. O que me preocupa agora são as variantes, porque sei que os vírus sofrem mutações. Por isso acho que é preciso se preparar para cenários que esperamos que não ocorram. Neste domingo me reuni com os executivos-chefes das farmacêuticas com as quais temos contratos, com cientistas e com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA). Queremos acelerar os preparativos caso apareçam variantes que causem mais problemas. Primeiro, aumentar e melhorar o uso dos dados relativos ao sequenciamento do vírus, para ver se muda e como. Segundo, investir em pesquisa para tentar adaptar as vacinas ao surgimento das possíveis variantes. Terceiro, manter uma estreita colaboração entre as farmacêuticas e a EMA para que a agência receba dados sobre as possíveis vacinas de segunda e terceira geração e assim acelerar o processo de autorização. E quarto, e mais importante, aumentar a capacidade de produção. Porque se existe algo indubitável é que o mundo precisará de mais vacinas se levarmos as variantes em consideração.

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