_
_
_
_
_

A NBA também vota

Jogadores se envolvem numa campanha manchada pelo ácido conflito entre Donald Trump e astros como LeBron James

Robert Álvarez
Anthony Davis, LeBron James e Quinn Cook, dos Lakers, com o lema “Vote” em suas camisetas.
Anthony Davis, LeBron James e Quinn Cook, dos Lakers, com o lema “Vote” em suas camisetas.Mike Ehrmann (Getty Images)
Mais informações
Lebron James politica Trump racismo
Esporte brasileiro carece de um LeBron James
Eleições EUA
Biden é favorito, mas Trump tem chance de vencer: O que as pesquisas mostram
Brazil's President Jair Bolsonaro rubs his mouth during a ceremony to commemorate Public Servant Day, at the Planalto Presidential Palace in Brasilia, Brazil, Wednesday, Oct. 28, 2020. (AP Photo/Eraldo Peres)
Brasil: pressão por economia verde com Biden e aceno de acordo com Trump
TOPSHOT - US President Donald Trump speaks during a Make America Great Again rally at Ocala International Airport in Ocala, Florida on October 16, 2020. (Photo by Brendan Smialowski / AFP)
Trump enlameia o processo eleitoral ao questionar votos contados depois de terça-feira

LeBron James rompeu com o papel asséptico adotado por muitos astros do esporte mundial quando se trata de política, essa cômoda postura de que finge que o problema não é consigo – algo que foi tão recriminado em Michael Jordan e outras figuras de sua geração. Na campanha para a eleição presidencial norte-americana desta terça-feira, vários jogadores da NBA e de outras modalidades esportivas de destaque promoveram a prática do voto e se envolveram no debate eleitoral.

Não somos só atletas. Também somos pais, maridos, filhos. E temos a chance de mudar o mundo. Por que não aproveitar esta chance?”, diz Kyle Lowry, líder dos Toronto Raptors. Chris Paul, base do Oklahoma City e presidente do sindicato dos jogadores profissionais de basquete (NBPA), participou de comícios do candidato democrata, Joe Biden, que foi acompanhado também pelo lendário Magic Johnson. Pronunciaram-se igualmente treinadores como Steve Kerr, do Golden State, Doc Rivers, que acaba de ser contratado pelo Philadelphia Sixers, e Gregg Popovich, que além de dirigir há mais de 20 anos o San Antonio Spurs é o treinador da seleção nacional de basquete. A cruzada de Popovich contra Donald Trump foi especialmente ácida. Chegou a chamar o presidente de idiota e sociopata.

Nas eleições de 2016 só 20% dos jogadores da NBA votaram. Desta vez, 96% se registraram para ir às urnas. O envolvimento deles em protestos populares – Jaylen Brown viajou 15 horas de carro de Boston a Atlanta para encabeçar uma passeata depois da morte de George Floyd, em 25 de maio – os estimulou a pressionarem a NBA para que seu descontentamento ficasse mais visível. Antes das partidas, a maioria dos atletas atualmente ouve o hino norte-americano fazendo o famoso gesto de protesto antirracista, com um joelho no chão, e usando camisetas com a inscrição “vidas negras importam”. Depois de um boicote histórico que interrompeu a competição durante três dias, pactuou-se com o sindicato de jogadores que os ginásios da NBA seriam usados como seções de votação, promessa cumprida em 21 instalações. “Com o boicote, dissemos ao mundo que somos algo além de jogadores de basquete, que lutamos para facilitar o acesso à votação e defendemos uma reforma significativa da polícia e da justiça penal”, afirmaram os jogadores em nota.

A mudança de Shaquille O’Neal

Um dos que melhor expressam a mudança de mentalidade é Shaquille O’Neal. Astro do Orlando, Lakers, Miami e Phoenix entre 1992 e 2011, e agora, aos 48 anos, comentarista de televisão, confessou que nunca tinha votado até este ano. “Não tinha tempo. Mas essa é uma desculpa ruim. Minha mãe estava decepcionada. Meu tio estava decepcionado. Agora estou fazendo campanha a favor do voto”, diz O’Neal, também partidário de Biden.

LeBron James, que segundo uma pesquisa é um dos famosos com mais influência sobre os eleitores, ao lado de Tom Hanks, Dwayne Johnson, Oprah Winfrey e Taylor Swift, encabeçou a campanha Mais Que um Voto, promovida por um coletivo de esportistas com a colaboração da ex-primeira-dama Michelle Obama. “Sou um homem de 35 anos, marido e pai de três filhos”, conta LeBron, amigo do ex-presidente Barack Obama. “Cheguei a entender quem sou e o que defendo. E não se trata só de mim, trata-se da minha gente. Os negros têm sido afastados do nosso dever cívico. Durante muitos anos nos alimentaram com informações errôneas.”

Trump respondeu com desprezo: “A gente não quer se sentar, assistir a um jogo de basquete e ver alguém que te odeia”, comentou. Entre os cartolas do esporte, há uma clara preferência pelos republicanos. Segundo a ESPN, os 144 proprietários das 122 equipes das grandes ligas profissionais dos Estados Unidos doaram 47 milhões de dólares (270 milhões de reais, pelo câmbio atual) para campanhas federais desde 2015, sendo que apenas pouco mais de 11 milhões foram para o Partido Democrata. Os donos das franquias da NBA doaram nos últimos seis anos 8,3 milhões ao Partido Republicano e 2,6 milhões ao Democrata. Só na NBA feminina a situação se inverte: 1,6 milhão de dólares para os democratas, 300.000 a mais que para os republicanos.

Apoie nosso jornalismo. Assine o EL PAÍS clicando aqui

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_