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Trump enlameia o processo eleitoral ao sugerir que os votos contados depois de terça-feira serão ilegítimos

Republicanos preparam o terreno para contestar a apuração e lançam dúvidas sobre a validade do escrutínio da votação por correio, majoritariamente democrata e causada pela pandemia

Caixa para depositar o voto por correio em Miami.
Caixa para depositar o voto por correio em Miami.CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH (EFE)
Pablo Guimón

É um dos fatores que acrescentam tensão a uma noite eleitoral já em alerta máximo. Donald Trump e sua equipe há meses preparam o terreno para contestar a apuração, se o resultado não lhes for favorável. Agora, na reta final da campanha, o presidente lança mais suspeitas e enlameia ainda mais o terreno introduzindo conflitos legais que, na verdade, não são mais do que barulho. Mas um barulho perigoso. “A eleição deveria terminar em 3 de novembro, não semanas mais tarde”, tuitou. Algo que dificilmente ocorrerá: mesmo em eleições sem tanto voto por correio, quase nenhum Estado reporta os dados definitivos no mesmo dia da votação. Mais de 80 milhões de norte-americanos já votaram por correio e os republicanos, que acreditam que a maioria de seus eleitores depositará sua cédula nas urnas no dia da votação, flertam com o perigoso jogo de proclamar vencedor seu candidato quando acabar a contagem dos votos depositados na terça-feira.

“O presidente Trump estará na frente na noite eleitoral”, disse na televisão Jason Miller, assessor da campanha de reeleição do presidente, contando com o fato de que a maioria dos democratas votou antecipado e o grosso dos eleitores republicanos se concentra na jornada de terça-feira. “E então eles tentarão roubá-la após a eleição”, acrescentou, em uma perigosa e insólita acusação aos democratas.

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Dias antes, em um ato de campanha, o próprio presidente já apontou na mesma direção: “Deveríamos querer ter os votos contados, tabulados e encerrados na tarde-noite de 3 de novembro”. Um cenário praticamente impossível na prática, além de não ser contemplado em legislação alguma. Quando se proclama um ganhador na noite eleitoral, não é porque a apuração tenha sido completada, e sim porque as projeções da imprensa deduzem que, mesmo que a contagem não tenha acabado, um dos candidatos já tem uma vantagem que os votos restantes não podem mudar.

As mensagens indicam a possibilidade de que a campanha republicana decida empreender uma batalha legal para tentar anular os votos por correio que não tenham sido contados antes do fim da jornada eleitoral. Uma tentativa de forçar os Estados a deter a apuração após a eleição por via judicial seria uma subversão sem precedentes do processo eleitoral, que tiraria o direito de participação política de milhões de pessoas que depositaram seus votos de maneira legal e nos prazos estabelecidos.

Em meio a uma pandemia em que as autoridades sanitárias desaconselham o contato físico com outras pessoas, se espera que mais de 80 milhões votem por correio nestas eleições. É mais do que o dobro dos que o fizeram há quatro anos, um insólito crescimento que colocou o foco no processo pelo qual os diferentes Estados verificam a identidade dos eleitores. Os dois partidos, e também grupos de ativistas, entraram com ações contra tais técnicas de verificação, frequentemente por falhas no processo de notificação aos eleitores para corrigir eventuais erros e dar-lhes a oportunidade de corrigi-los. O presidente Trump foi muito mais longe, sugerindo publicamente, sem evidências que o justifiquem, que essas práticas são uma oportunidade à fraude eleitoral.

Os votos por correio costumam demorar mais em ser processados dos que os feitos em pessoa durante a jornada eleitoral. A mensagem da campanha de Trump é de minimizar a pandemia e dar uma impressão de normalidade, apesar de numerosos Estados reportarem recordes de contrário por esses dias. A campanha de Biden, pelo contrário, exibe uma atitude mais de acordo com as recomendações das autoridades sanitárias, os candidatos sempre com máscaras e limitando os eventos em que pode existir risco de contágios. Por isso se estima, e as pesquisas comprovam, que a maioria dos eleitores que escolheram participar por correio é de democratas. Extrapolar conclusões sobre o resultado final em função do voto por correio seria tão pouco preciso como fazê-lo em função somente do voto presencial na terça-feira.

Em alguns Estados há, de fato, a previsão de que se pode declarar um vencedor na noite eleitoral. É o caso da Flórida, um Estado vital, sem o qual as opções de Trump se reduzem dramaticamente. Lá a lei permite começar a apuração do voto por correio antes da jornada eleitoral. Mas em outros Estados, incluindo um importantíssimo para a vitória no colégio eleitoral como a Pensilvânia, onde muitos condados só começarão a apuração do voto por correio na quarta-feira, o resultado pode demorar vários dias. O que não seria o resultado de uma fraude, como sugere o presidente, e sim o funcionamento normal do processo eleitoral.

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