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Pandemia dispara na África e já alcança 850.000 casos

África do Sul se torna o quinto país mais afetado do mundo, e a OMS alerta para o “longo caminho” à frente no continente

Vista aérea de vários funerais simultâneos no cemitério de Olifantsvlei, em Soweto (África do Sul), no sábado.
Vista aérea de vários funerais simultâneos no cemitério de Olifantsvlei, em Soweto (África do Sul), no sábado.MARCO LONGARI (AFP)
José Naranjo


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Duesseldorf (Germany), 27/07/2020.- A traveler gets his swab sample collected in a walk-in test center for coronavirus at the International Airport in Duesseldorf, Germany, 27 July 2020. Within a few days, a test centre has now also been set up at Duesseldorf International Airport, where returnees from risk areas can be tested for COVID-19. (Alemania) EFE/EPA/SASCHA STEINBACH
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A man walks past a graffiti by Mathare Roots's youth group, which advocates against the spread of the coronavirus disease (COVID-19), at the Mathare Valley slum, in Nairobi, Kenya April 19, 2020. Picture taken April 19, 2020. REUTERS/Thomas Mukoya
“Na África está só começando”
Una trabajadora sanitaria enseña a lavarse las manos a los niños del suburbio de Umlazi, cerca de Durban (Sudáfrica), el 4 de abril de 2020, para detener el contagio por coronavirus.
África do Sul dá a chave para a propagação do coronavírus em hospitais

“Neste momento estou muito preocupado porque estamos começando a ver uma aceleração da pandemia de coronavírus na África.” Com estas palavras, pronunciadas na semana passada, Michael Ryan, chefe de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), tratava de chamar a atenção para uma nova realidade: o continente africano, até agora o segundo menos afetado pela covid-19, atrás apenas da Oceania, está vivendo um assustador aumento dos contágios. Há apenas dois meses, as cifras eram de 100.000 casos, com menos de 5.000 novos diagnósticos diários; atualmente, já são 850.000 casos, com 17.500 mortos, e o ritmo de novos afetados beira os 20.000 por dia.

“E isso que ainda não chegamos ao pico”, observa Mery Stephen, médica nigeriana que trabalha no escritório regional da OMS na África. Na sua avaliação, “resta um longo caminho a percorrer” até o controle da pandemia. “O continente conseguiu desacelerar a difusão da pandemia com medidas agressivas —como confinamentos, toque de recolher e fechamento de fronteiras— quando contava pouquíssimos casos, mas os Governos não tiveram como mantê-las por muito tempo devido às peculiaridades socioeconômicas do continente, onde há muita gente que vive com o que ganha a cada dia. Esse relaxamento está por trás do aumento de contágios que vivemos atualmente.”

A África é muita diversa, e também há países onde o impacto da covid-19 continua sendo muito menor devido ao seu reduzido tamanho, por serem ilhas ou por terem gerido adequadamente a pandemia —caso das Seychelles, Gâmbia e Mauricio. Em outros, com maior população ou mais vínculos com o exterior, como Nigéria, Gana, Argélia, Quênia, Etiópia e Madagascar, o aumento de casos positivos preocupa as autoridades sanitárias. Mas é a África do Sul que lidera todos os registros: trata-se do país que mais casos diários notifica, uma média de 13.000 na última semana, que encabeça o número de contágios, com 435.000— ou seja, mais da metade do total africano—, e que mais pacientes enterrou até agora, 6.655. Já é a quinta nação mais afetada do mundo, atrás dos Estados Unidos, Brasil, Índia e Rússia.

“Não se pode dizer que a situação esteja fora de controle”, afirma Laura Triviño, coordenadora médica da ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) na África do Sul, “mas estamos começando a ver os hospitais do Johanesburgo se saturando de pacientes”. O epicentro da pandemia neste país se deslocou da província do Cabo Ocidental, onde fica a Cidade do Cabo, para as do Cabo Oriental, Gauteng (com as cidades de Johanesburgo e Pretória como focos mais ativos) e Kwazulu-Natal. “No Cabo Oriental os hospitais não estão preparados, a cifra de mortes é inclusive mais elevada por lá”, acrescenta Triviño.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, tinha ordenado um dos confinamentos mais duros do mundo, mas no final de abril decidiu aliviar a pressão. Agora acaba de anunciar a suspensão das aulas durante duas semanas para tentar interromper a expansão do vírus. “A máscara é obrigatória e as fronteiras continuam fechadas, mas a maioria dos contágios se dá nas favelas, onde é mais difícil manter o distanciamento social”, observa Triviño. Nesta semana, foi divulgada uma cifra inquietante: segundo o Conselho Sul-Africano de Pesquisa Médica, entre 6 de maio e 14 de julho houve 17.000 mortes a mais por causas naturais do que na média histórica desse período. Todos os indícios apontam para os efeitos da pandemia.

Também na África Meridional, o ministro malgaxe da Saúde fez nesta quarta-feira um apelo à comunidade internacional, relatando que os hospitais de Madagascar estão superlotados e precisam de equipamentos de proteção para evitar o contágio do pessoal sanitário, assim como tratamentos eficazes. A coordenadora da OMS na África, a médica Matshidiso Moeti, revelou que mais de 10.000 profissionais sanitários já deram positivo nos exames de covid-19 no continente, que só 16% das estruturas sanitárias contam com recursos ideais para enfrentar a epidemia, e que apenas 8% dessas clínicas e hospitais —pouco mais de 2.000 no total— têm capacidade de isolar pacientes.

A solidariedade internacional e sobretudo o acesso mais fácil dos países africanos aos insumos necessários serão cruciais. Um exemplo são os exames. Com 1,3 bilhão de habitantes, foram feitos apenas 6 milhões de testes, segundo dados fornecidos pelos Centros de Controle de Doenças (CDC) do continente. Seu diretor, John Nkengasong, pediu aos Governos que façam um esforço para aumentar sua capacidade diagnóstica. Apesar disso, Mery Stephen não acredita que os números oficiais sejam muito mais afetados por esta carência do que em outros continentes. “É um problema global, e a África não é uma exceção.”

Na opinião dela, o mais importante agora é não baixar a guarda. “Estamos assistindo a um relaxamento dos comportamentos individuais e sociais. No princípio muitos levaram a sério, mas depois não viam grande quantidade de doentes nem mortos e abandonaram as precauções. A percepção de riscos pelos Governos, mas também por parte da população, será importante para a evolução da pandemia nos próximos meses”, conclui Stephen.

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