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Trump se posiciona contra o movimento de revisão da simbologia racista dos Estados Unidos

O presidente, que voltará aos comícios em 19 de junho em Tulsa, carregado de simbolismo histórico, rejeita o debate sobre a mudança de nome de bases militares em homenagem a oficiais confederados

Pablo Guimón
O presidente Donald Trump toma um avião nesta quinta-feira em Washington.
O presidente Donald Trump toma um avião nesta quinta-feira em Washington.JONATHAN ERNST (Reuters)

Os Estados Unidos entraram totalmente em uma conversa sobre o racismo, o tema fundamental da história do país, depois dos protestos contra a morte do negro George Floyd nas mãos da polícia. No centro do debate está o legado simbólico da Confederação, e o presidente Donald Trump tomou partido. “Aqueles que negam sua história estão condenados a repeti-la!”, tuitou na quinta-feira.

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Na quarta-feira, o mesmo dia em que o irmão de Floyd pediu no Congresso medidas para acabar com a injustiça racial, o presidente arremeteu contra uma iniciativa debatida no Pentágono que propõe mudar o nome das bases militares batizadas em homenagem a oficiais confederados que lutaram contra a União na Guerra de Secessão. “Foi sugerido que deveríamos renomear até 10 de nossas lendárias bases militares, como Fort Bragg na Carolina do Norte, Fort Hood no Texas, Fort Benning na Geórgia, etc. Essas bases monumentais e muito poderosas se tornaram parte do Grande Legado Americano e história de ganhar, de vitória e liberdade. Os Estados Unidos da América treinaram e mobilizaram nossos heróis nesses terrenos sagrados e ganharam duas Guerras Mundiais. Portanto, minha Administração nunca considerará renomear essas magníficas e lendárias instalações militares”, tuitou. Mais tarde a Casa Branca afirmou que o presidente estaria disposto a se recusar a assinar a lei do orçamento anual de Defesa se o Congresso tentasse forçar a medida.

A defesa de Trump dos nomes confederados das bases acontece quando se repetem por todo o país iniciativas para retirar do espaço público monumentos de figuras dos Estados Secessionistas do sul, que defendiam a supremacia branca e a instituição da escravidão. A líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, pediu a remoção de 11 monumentos de figuras confederadas depois que o governador da Virgínia, o também democrata Ralph Northam, anunciou que retirará a estátua do general Lee de um monumento em Richmond, que era a capital dos Estados Confederados. Nessa mesma cidade, uma estátua em homenagem a Jefferson Davis, presidente da Confederação, foi vandalizada e derrubada na noite de quarta-feira. A NASCAR, a muito popular competição de carros de série, também decidiu na quarta-feira proibir as bandeiras confederadas em seus eventos.

A figura de Cristóvão Colombo também está sendo objeto de contestação na esteira dos protestos. Depois da decapitação e derrubada das estátuas do conquistador em Boston e Richmond, respectivamente, duas outras estátuas foram vandalizadas em Houston e em Miami. Já no ano passado, quando Washington DC se juntou a uma série de Estados e cidades que trocaram a festividade do Dia de Colombo pela dos Povos Indígenas, o presidente Trump expressou sua oposição.

Em um momento em que o país reflete sobre o racismo sistêmico, Trump optou por evitar, quando não negar, o debate. Evitou falar sobre como a morte de Floyd abalou as consciências dos norte-americanos, preferiu não participar das cerimônias em sua memória realizadas nestes dias e, na onda de protestos que percorre o país, se posicionou sem nuances com a polícia e contra os manifestantes, a quem insiste em acusar sem provas de serem manipulados pela extrema esquerda e pelo movimento Antifa. Em um momento de introspecção coletiva, escolheu se apresentar como o presidente da “lei e da ordem”.

A cinco meses das eleições, trata-se de uma jogada eleitoralmente arriscada. Como em 2016, busca a conexão com essa América branca e abandonada que contribuiu decisivamente para sua vitória. Mas as pesquisas nacionais apontam para um distanciamento cada vez maior em relação à maioria dos norte-americanos.

Decidido a dar por encerrada a crise provocada pela pandemia de coronavírus, o presidente anunciou sua volta aos comícios de campanha, cancelados durante meses devido ao perigo de propagação do vírus. E a data e o local escolhido para o regresso contêm, mais uma vez, um poder simbólico que não passou despercebido. O primeiro comício de Trump será em 19 de junho em Tulsa, Oklahoma. No dia 19 de junho, conhecido como Juneteenth, se comemora o fim da escravidão nos Estados Unidos, e já há passeatas e manifestações convocadas para esse dia como parte dos protestos depois da morte de Floyd. A cidade de Tulsa foi, em 1921, palco de um massacre de centenas de negros durante distúrbios raciais. A escolha do palco e do dia do reencontro de Trump com as multidões foi criticada pelas fileiras democratas. “Isto não é apenas um aceno para os supremacistas brancos, está dando a eles uma festa de boas-vindas a casa”, lamentou a senadora Kamala Harris, uma das mais comentadas como possíveis candidatas à vice-presidência na chapa do democrata Joe Biden.

General Milley: “Eu não deveria ter estado lá”

O general Mark Milley, o mais alto comandante militar dos Estados Unidos, afirmou na quinta-feira que se equivocou ao acompanhar Donald Trump em seu já famoso passeio de 1º de junho, para o qual a polícia abriu caminho atacando manifestantes pacíficos que estavam concentrados junto à Casa Branca, para que o presidente pudesse tirar uma foto diante de uma igreja que havia sido vandalizada nos protestos. “Eu não deveria ter estado lá”, reconheceu o chefe do Estado-Maior Conjunto.

“Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou a percepção de militares envolvidos na política doméstica”, disse Milley em uma declaração em vídeo. “Foi um erro com o qual aprendi e sinceramente espero que todos possamos aprender com ele.”


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