_
_
_
_

8 minutos e 46 segundos: um símbolo de protesto contra o racismo nos Estados Unidos

Esse foi o tempo que o policial passou ajoelhado sobre o pescoço de George Floyd, até matá-lo por asfixia

Um manifestante com uma máscara com os dizeres “não consigo respirar” segura um cartaz que faz menção aos 8 minutos e 46 segundos.
Um manifestante com uma máscara com os dizeres “não consigo respirar” segura um cartaz que faz menção aos 8 minutos e 46 segundos.
Brenda Valverde Rubio

George Floyd permaneceu 8 minutos e 46 segundos tendo o pescoço pressionado pelo joelho do policial Derek Chauvin. Depois, morreu. Embora o homem negro tenha alertado em várias ocasiões que estava sem ar, o agente branco não recuou em nenhum momento. Esse número, esse tempo, esses 8 minutos e 46 segundos, se repetem nos últimos dias nas redes sociais e meios de comunicação como símbolo da violência e do racismo da polícia contra parte dos cidadãos dos Estados Unidos.

Nos últimos dias foi criado um site no endereço 8m46s.com que propõe ao usuário parar durante esse tempo, essa “eternidade”, e pensar. “Convido os visitantes a se sentarem em silêncio e refletirem durante esse mesmo tempo. Parece uma eternidade”, diz a mensagem na página. Na tela negra há uma contagem regressiva a partir dos 8 minutos e 46 segundos e, conforme o tempo passa, vão aparecendo frases do próprio Floyd (“Não consigo respirar”) e das pessoas que presenciaram os fatos (“Ele não está se mexendo!”).

O site surgiu a partir da investigação em vídeo publicada nesta segunda-feira pelo jornal The New York Times e que popularizou a expressão 8 minutos e 46 segundos, ao revelar que esse foi o tempo que Chauvin passou asfixiando Floyd. No vídeo, o crime é reconstruído com imagens de várias câmeras de vigilância da rua de Minneapolis, vídeos de testemunhas, documentos e áudios. Um dos jornalistas que participaram do projeto, Evan Hill, publicou uma série de postagens relatando que os primeiros policiais que chegaram ao local onde Floyd estava o detiveram e o colocaram dentro de um veículo da polícia, mas que em seguida Chauvin o empurrou para fora de novo. A partir de então, na compilação do NYT aparecem vídeos de várias testemunhas para retratar como o homem foi asfixiado. Segundo essa investigação, Floyd disse 16 vezes em cinco minutos que não conseguia respirar (“I can’t breathe”), enquanto Chauvin manteve seu joelho sobre o detido por quase nove minutos, dos quais Floyd esteve inconsciente durante três.

Mais informações
AME1012. SAO GONÇALO (BRASIL), 19/05/2020.- Dos jóvenes lloran durante el entierro de Joao Pedro Matos Pinto, que según parientes y amigos denuncian, fue asesinado ayer por la policía federal en la favela del Complejo de Salgueiro, en la ciudad de Sao Gonçalo, vecina de Río de Janeiro (Brasil). Organizaciones de la sociedad civil en Brasil, lideradas por Amnistía Internacional (AI), exigieron este martes explicaciones por irregularidades registradas durante operativos policiales realizados en favelas de Río de Janeiro, que han dejado 14 muertos en tan solo cuatros días. EFE/Antonio Lacerda
Eliane Brum: Tirem os joelhos brancos dos pescoços negros
Protesters gather to call for justice over the death of George Floyd at the Texas State Capitol in Austin on Sunday, May 31, 2020. George Floyd died while in police custody in Minneapolis on Memorial Day. (Lola Gomez/Austin American-Statesman via AP)
Estados Unidos enfrentam a maior onda de protestos raciais desde o assassinato de Martin Luther King
Manifestante em Paris segura um cartaz: "Supremacia branca é uma pandemia". Milhares desafiaram a polícia em protesto que acabou em choque com as forças de segurança.
Fotogaleria: De Paris a Curitiba, os protestos antirracistas se espalham pelo mundo

Oito minutos e 46 segundos foi o tempo durante o qual vários canais de TV a cabo interromperam sua programação para denunciar, dias depois, o assassinato de Floyd. No vídeo emitido pelos canais da ViacomCBS (MTV, Comedy Central, VH1, Paramount e outros), aparecia uma tela preta onde se lia a frase “Não consigo respirar”, acompanhada de um áudio onde só se escuta um som ofegante. “Durante 8 minutos e 46 segundos ficamos com a tela preta em homenagem a George Floyd. Dedicamos este tempo às vítimas da brutalidade policial e ao poderoso movimento que luta pela justiça. Junte-se a @ColorofChange. Envie DEMANDAS para 55156. #BlackLivesMatter”, diziam as contas do Twitter dos canais que aderiram a essa iniciativa na segunda-feira.

O mesmo vídeo também foi exibido no canal infantil Nickelodeon, surpreendendo alguns usuários do Twitter que elogiaram que a ação chegasse aos lares até na programação voltada para as crianças. Antes da exibição, o canal emitiu uma mensagem na tela em que mostrava seu apoio “à justiça, à igualdade e aos direitos humanos”, e a seguir uma “declaração dos direitos da criança”: “Você tem o direito de ser visto, escutado e respeitado como cidadão do mundo. Tem direito a um mundo que seja pacífico. Tem direito a ser tratado com igualdade, independentemente da cor da sua pele. Tem direito a estar protegido contra danos, injustiças e ódio. Tem direito a uma educação que o prepare para governar o mundo. Tem direito às suas opiniões e sentimentos, inclusive se outros não estiverem de acordo com eles”.

Os protestos nos Estados Unidos continuam uma semana depois e de muitas formas distintas. Vimos a frase “não consigo respirar” escrita em máscaras, cartazes, agasalhos e pichações; também pessoas se manifestando ajoelhadas durante 8 minutos e 46 segundos em diversas partes do país, inclusive diante da Casa Branca. Nas redes sociais, várias contas propõem que na quarta-feira às 8h46 todos se ajoelhem em sua casa ou onde estiverem em sinal de apoio. Algumas companhias quiseram mostrar sua adesão além das redes sociais, como o Spotify, que introduziu 8 minutos e 46 segundos de silêncio em algumas de suas listas de reproduções.

As redes se tingem de preto

Como já vimos em outras ocasiões, como nos atentados de agosto de 2017 em Barcelona, famosos e anônimos utilizam suas redes sociais para mostrar sua solidariedade. Desta vez estamos vendo fotos de perfil e publicações onde só há um fundo negro, como as últimas que a NBA compartilhou em seus canais oficiais. Algumas dessas publicações são acompanhadas de hashtags como #BlackLivesMatter (“vidas negras importam”), que reuniu milhões de mensagens de protesto. Nas últimas horas, inclusive a conta oficial do Twitter tingiu de preto o seu célebre passarinho azul.

O mundo da música tem sua própria iniciativa para se somar a esses protestos. As produtoras Jamila Thomas, da Atlantic Records, e Brianna Agyemang, da Platoon, lançaram neste fim de semana o movimento #TheShowMustBePaused (“o show deve parar”). No site que criaram para a ocasião, dizem que a iniciativa surge “diante do permanente racismo e da desigualdade que existem dos conselhos de direção até às ruas”. No #BlackoutTuesday, hashtag que elas promovem e que soma milhões de menções no Twitter e Instagram, convidavam a parar de trabalhar nesta terça-feira, 2 de junho —que o show não continue, e que as redes se pintem de negro. Os Rolling Stones, Billie Eilish e Beyoncé são alguns dos artistas que já manifestaram seu apoio a essa ação.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_