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Acusação contra Assange insiste que Wikileaks colocou em perigo a vida de informantes

Julgamento da extradição do ‘hacker’ internacional começa em Londres

Protesto em apoio a Assange nesta segunda-feira em Londres.
Protesto em apoio a Assange nesta segunda-feira em Londres.NEIL HALL (EFE)
Rafa de Miguel
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As mostras de apoio ao cofundador do Wikileaks, Julian Assange, já não são tão grandes quanto há alguns anos atrás. Mas uma legião de algumas centenas de defensores enfrentou o frio e a chuva de Londres nesta segunda-feira e se concentrou em frente ao Tribunal de Woolwich, no sudeste da cidade e a poucos metros da prisão de Belmarsh, onde o fugitivo mais internacional está desde que o Governo do Equador o expulsou de sua embaixada em Londres.

Desde cedo, o pai de Assange, John Shipton, agradecia as demonstrações de apoio. “No começo, pensei que o problema era só de Julian”, conta ao EL PAÍS. “Agora, acredito que é uma opressão global ao jornalismo. Especialmente na Europa. Podemos acabar perdendo essa conversa normal em que se trocavam informações e se alimentava o debate público. Nenhum meio de comunicação vai querer se arriscar a sofrer dez anos de opressão política”.

Um dos advogados que representam os Estados Unidos no processo aberto em Londres para decidir a extradição de Julian Assange, fundador do portal WikiLeaks, por divulgar informações confidenciais sobre o país em 2010, defendeu nesta segunda-feira que o jornalismo não pode servir de desculpa para desrespeitar a lei e colocar em perigo a vida das pessoas que ajudaram o Ocidente.

“A defesa sugere que se exagerou o risco que correram os informantes, cujas identidades foram divulgadas. Mas eu gostaria de lembrar ao tribunal que essas pessoas estavam passando informações sobre regimes como o Irã e organizações como a Al Qaeda”, disse James Lewis, um dos os advogados que representam a Administração norte-americana.

“Eles não se importaram se uma violação de direitos ocorreu ou não. Eles não se importaram com nada. Só lhes preocupava que ficasse claro que a lei norte-americana havia sido ignorada. O problema é que quem está sendo acusado não é norte-americano nem foi a fonte direta do vazamento”, explicou o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, presente no julgamento como coordenador da equipe de defesa de Assange.

Sentado na sala do tribunal, vestido com um terno cinza, pulôver cinza, óculos na testa e perfeitamente barbeado, o acusado ouviu a argumentação do advogado. Pouco antes do primeiro intervalo, quis agradecer seus seguidores, cujas manifestações eram ouvidas dentro da sala. Mas, ao mesmo tempo, pediu que parassem de gritar. “É difícil me concentrar e todo esse barulho não ajuda. Entendo e aprecio o apoio público. Entendo que todo esse processo os repugne”, disse, antes de a juíza lhe retirar a palavra e exigir que se dirigisse ao tribunal por meio de seu advogado.

Durante esta semana, o tribunal ouvirá os argumentos das partes e adiará o julgamento até maio para examinar as provas. A decisão final sobre a extradição pode demorar meses.

Assange, que está detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh, adjacente ao tribunal, é acusado pelos Estados Unidos de conspiração para invadir os computadores do Governo norte-americano e violar a lei de espionagem. No total, 18 crimes pelos quais pode ser condenado a 175 anos de prisão. Os EUA consideram que Assange conspirou com Chelsea Manning, a soldado norte-americana que vazou um grande número de telegramas diplomáticos confidenciais do Governo desse país.

Assange, que havia sido preso inicialmente em 2010 no Reino Unido a pedido da Suécia por um caso de supostos crimes sexuais já arquivado, passou os últimos 10 anos confinado, primeiro em prisão domiciliar e depois refugiado na embaixada do Equador em Londres até que este país retirou-lhe o exílio em 2019 e foi preso pela polícia britânica e levado para Belmarsh.

Na ocasião do início do julgamento de Assange, a diretora do portal, Kristin Hrafnsson, alertou, em declarações à imprensa, que o resultado do julgamento determinará “o futuro do jornalismo”, porque decide “o que acontece com um jornalista que divulga informações de um Estado verdadeiro e de interesse público”.

Nos últimos dias, uma testemunha citada pela defesa de Assange disse que o presidente dos EUA, Donald Trump, ofereceu indulto ao fundador do WikiLeaks se ele negasse o envolvimento da Rússia em vazamentos de e-mails em 2016. O advogado Edward Fitzgerald afirmou que tem provas que sugerem que o ex-congressista republicano Dana Rohrabacher fez essa oferta ao ativista australiano.

O advogado disse que Rohrabacher visitou a embaixada do Equador no Reino Unido em 2017, quando Assange estava asilado. Em 2016 o WikiLeaks divulgou e-mails que afetaram a campanha presidencial da democrata Hillary Clinton. Vários médicos pediram na semana passada que o fundador do Wikileaks recebesse atendimento médico urgente, em uma carta publicada na revista médica britânica The Lancet.

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