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Mensagens de Clinton vazadas revelam supostas contradições em sua campanha

Wikileaks divulga discursos da candidata para Wall Street cuja revelação era cobrada por Bernie Sanders

O coordenador da campanha Clinton, John Podesta, que teve mensagens hackeadas.Foto: reuters_live | Vídeo: ANDREW HARNIK (AP) / REUTERS-QUALITY
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Milhares de e-mails supostamente extraídos da conta profissional de John Podesta, coordenador da campanha de Hillary Clinton, foram divulgados nos últimos três dias pelo portal de vazamentos de documentos Wikileaks. É o terceiro projeto do site neste ano que parece ter como objetivo atrapalhar a candidatura da democrata à Casa Branca. As mensagens, divulgadas entre a última sexta-feira e esta segunda-feira, revelam as entrelinhas de tomadas de posição essenciais para Clinton com vistas a ampliar a sua base de eleitores na esquerda.

“Por que você não pergunta sobre os e-mails, Anderson?”, questionou Donald Trump, o candidato republicano, durante o último debate presidencial, domingo, incomodado com os moderados que, na sua opinião, não estava sendo enfáticos o suficiente em relação a Clinton no que se referia às novas revelações do Wikileaks. A publicação desses e-mails havia sido sufocada, na mídia, pela explosiva gravação publicada pelo The Washington Post, na sexta-feira, em que se ouve Trump fazendo comentários grosseiros sobre as mulheres. Essa gravação desencadeou uma tormenta na campanha e no próprio Partido Republicano.

Diante dessa tormenta midiática, os e-mails de Podesta são um escândalo de baixa intensidade, mas que vão colocando aos poucos à disposição da população dados curiosos sobre os posicionamentos da candidata. A campanha de Clinton e o próprio Podesta não confirmaram a autenticidade dessas mensagens. O coordenador afirmou nesta terça-feira que o FBI está investigando o desvio dos e-mails.

Os principais conteúdos revelados na sexta-feira são supostos trechos dos discursos de Hillary para grandes empresas de Wall Street. Concretamente, eles informam que ela afirmou perante um grupo de investidores do setor imobiliário que “é preciso ter uma posição pessoal e uma posição pública”. Os moderadores do debate fizeram a ela perguntas sobre essa frase, e ela respondeu que estava se referindo aos conselhos dados por Abraham Lincoln para se obterem acordos políticos no Congresso do país.

Em uma palestra no Deutsche Bank, a democrata disse que a reforma do setor financeiro “deve surgir da própria indústria”, segundo trecho de um dos e-mails, publicado pela agência Associated Press. A afirmação mais problemática é aquela em que Clinton afirma que sonha com um “mercado comum hemisférico, com livre comércio e fronteiras abertas”.

A posição da candidata sobre os acordos comerciais internacionais foi uma das mais delicadas de sua campanha. Diante da necessidade de obter apoio dos sindicatos, Clinton teve de mudar o seu apoio inicial ao acordo de livre comércio impulsionado pelo presidente Barack Obama com os países do Pacífico (TPP), que ela acabou por repudiar. Trump, por sua vez, fez de sua oposição a todos os acordos de livre comércio, já existentes ou em negociação, o argumento principal de seu discurso econômico para evitar a fuga de empregos dos EUA.

O concorrente de Clinton à nomeação democrata, Bernie Sanders, também se opunha aos tratados de livre comércio. A capacidade de Sanders de mobilizar o eleitorado mais à esquerda do Partido Democrata, especialmente os jovens, significou um problema inesperado para Clinton, que acabou virando o seu próprio discurso para a esquerda para conquistar a indicação. Durante a campanha, Sanders cobrou em várias ocasiões da candidata que ela tornasse públicos os discursos que havia feito perante grandes empresas de Wall Street no período que passou entre o fim de se mandato como secretária de Estado e o anúncio de sua campanha. O vazamento desses documentos leva água para o moinho daqueles que acreditam que Clinton mantém um duplo discurso, um para o poder econômico e outro para as bases democratas.

Outro exemplo é constituído por uma série de mensagens destacadas pela Reuters em meio aos vazamentos em que a campanha se esforça para encontrar um difícil equilíbrio entre sindicatos e ecologistas no momento de definir sua posição sobre o oleoduto Keystone XL. Clinton acabaria por anunciar a sua oposição à construção do oleoduto, o que implicava um golpe contra os sindicatos ao mesmo tempo em que a aproximava dos ecologistas. Nos e-mails, fala-se em uma forma de “suavizar o golpe” nos sindicatos por meio da apresentação de um grande programa de emprego nas áreas de energia e infraestrutura.

Até esta segunda-feira, o Wikileaks divulgou mais de 5.000 mensagens eletrônicas, divididas em três capítulos. Fontes do Partido Democrata citadas pela Reuters dizem acreditar que o Wikileaks está de posse de mais de 50.000 mensagens e que planeja divulgá-las aos poucos, até as eleições de 8 de novembro.

Em julho deste ano, Wikileaks divulgou cerca de 20.000 e-mails da cúpula do Comitê Nacional Democrata, pouco antes da convenção na qual Clinton seria indicada como candidata do partido. Os e-mails demonstraram o favoritismo da cúpula do partido, que tem a obrigação de ser neutra, com Clinton e sua vontade de parar Bernie Sanders. As revelações levaram à renúncia da chefe do Comitê, Debbie Wasserman Schulz.

Além disso, Wikileaks colocou em seu site um banco de dados que permite fazer buscas nos 30.000 e-mails que Clinton divulgou dentro da investigação pelo uso de um servidor privado quando era Secretária de Estado.

O Partido Democrata e a campanha de Clinton há muito tempo acusam hackers da Rússia de estarem por trás destes roubos de informação. Na sexta-feira foi o Governo dos Estados Unidos que fez esta acusação. “Acreditamos que, com base no alcance e sentido, apenas funcionários do mais alto nível da Rússia podem ter autorizado essas atividades”, disse em um comunicado. Os roubos “têm a intenção de interferir nas eleições”. A Rússia negou qualquer envolvimento por meio do Ministério das Relações Exteriores.

Hillary Clinton era Secretária de Estado dos Estados Unidos em 2010 quando Wikileaks publicou o vazamento de documentos diplomáticos (mais de 250.000 documentos oficiais) que revelavam os meandros da diplomacia daquele país através de suas embaixadas em todo o mundo.

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