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Pandemia faz América Latina perder 47 milhões de empregos, aponta OIT

Órgão da ONU revê para pior suas previsões do mês anterior sobre o efeito do coronavírus no mercado de trabalho

Um homem de máscara carrega um saco de milho em Corabastos, um dos maiores centros de distribuição de alimentos da América Latina, em Bogotá (Colômbia), na terça-feira da semana passada.
Um homem de máscara carrega um saco de milho em Corabastos, um dos maiores centros de distribuição de alimentos da América Latina, em Bogotá (Colômbia), na terça-feira da semana passada.Fernando Vergara (AP)
Federico Rivas Molina

Os efeitos da pandemia de coronavírus sobre o mundo do trabalho são devastadores. A Organização Mundial do Trabalho (OIT, um órgão da ONU) atualizou nesta terça-feira suas previsões mais pessimistas, tornando-as ainda mais negativas. Durante o segundo trimestre do ano, o coronavírus ceifou o equivalente a 400 milhões de empregos em todo o mundo, ou 95 milhões a mais que na estimativa anterior, publicada em 27 de maio. A América Latina foi a região mais golpeada, com a perda de 47 milhões de postos de trabalho em tempo integral. “As novas cifras refletem o agravamento da situação em numerosas regiões durante as últimas semanas, sobretudo nas economias em desenvolvimento”, advertiu a OIT.

O relatório, intitulado Observatório da OIT: A covid-19 e o mundo do trabalho, calcula os estragos da pandemia em redução de horas trabalhadas: entre maio e julho, elas diminuíram 14% em todo mundo. Para obter o equivalente em postos de trabalho, a OIT divide o total de horas pelas 48 horas de uma jornada semanal padrão. A América Latina perdeu 20,5% de suas horas, seis pontos a mais que a média mundial. Se forem somados também Estados Unidos e Canadá, a percentagem diminui para 18,3%, mas ainda assim a queda nas Américas supera a da Europa e Ásia Central (13,9%, equivalentes a 45 milhões de empregos), Ásia e o Pacífico (13,5%), países árabes (13,2%) e África (12,1%). “Trata-se da maior perda de horas de trabalho nas principais regiões geográficas e da maior revisão para cima com relação ao que foi publicado na quarta edição do Observatório da OIT”, diz o relatório sobre o total das Américas.

A OIT adverte que 93% dos trabalhadores no mundo vivem em países com restrições muito altas à atividade econômica e profissional, e que as medidas adotadas para remediar o problema moldarão o futuro do mundo do trabalho “além de 2030”. “Embora os países se encontrem em fases diversas da pandemia e muito esteja sendo feito, devemos redobrar nossos esforços se quisermos sair desta crise melhores do que quando ela começou”, disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT. O relatório servirá de ponto de partida para as discussões que a OIT pretende manter na sua Cúpula Mundial da semana que vem. “Espero que os Governos, os trabalhadores e os empregadores aproveitem esta oportunidade para apresentar e escutar ideias inovadoras”, afirmou Ryder.

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A cyclist delivery worker rides in Bogota on June 30, 2020. - Urban unemployment in Colombia rose to 24.5% in May, the highest rate since 2001, due to the effects of the COVID-19 coronavirus pandemic, the state-run National Administrative Department of Statistics (DANE) reported Tuesday. (Photo by Juan BARRETO / AFP)
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Cenários para o segundo semestre

A OIT calcula três cenários possíveis para o que resta do ano: um básico, um otimista e um pessimista. Tudo dependerá do desenvolvimento da pandemia e as decisões dos governos para enfrentá-la.

Em um cenário básico, onde a suspensão das restrições ao trabalho e a retomada da atividade ocorram de forma lenta, as horas trabalhadas cairão 4,9% com relação ao último trimestre de 2019, ou o equivalente a 140 milhões de empregos em tempo integral.

O cenário pessimista leva em conta uma segunda onda da pandemia e a volta das restrições. Nesse caso, as horas perdidas representariam 11,9%, ou 340 milhões de empregos. A visão otimista prevê uma recuperação econômica rápida, com 1,2% menos horas trabalhadas (34 milhões de empregos).

Golpe às mulheres

O relatório dá destaque à situação trabalhista das mulheres, que considera estarem mais expostas aos efeitos negativos da pandemia. Tanto que a OIT teme que, por efeito do coronavírus, “alguns dos modestos progressos em matéria de igualdade de gênero alcançados nas últimas décadas se percam e que as desigualdades de gênero relacionadas ao trabalho se tornem mais agudas”.

“O grave impacto da covid-19 sobre as mulheres está relacionado com sua representação desproporcionalmente alta em alguns dos setores econômicos mais afetados pela crise, tais como a hotelaria, a gastronomia, o comércio e a indústria manufatureira”, diz o relatório. Segundo os cálculos da OIT, 510 milhões de mulheres empregadas no mundo (40% do total) “trabalham nos quatro setores mais afetados, frente a 36,6% dos homens”.

As mulheres preponderam, além disso, na frente de batalha contra a pandemia, porque são maioria nos postos de saúde e nos serviços sociais. “É lá onde correm maiores riscos de perder sua renda, de infecção e de transmissão, e é menos provável que tenham proteção social”, conclui o relatório.

NO BRASIL, 7,8 MILHÕES DE POSTOS DESTRUÍDOS EM 3 MESES

A pandemia do coronavírus continua gerando fortes reflexos no mercado de trabalho brasileiro, apontam os dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira. No trimestre encerrado em maio, 7,8 milhões de postos foram perdidos, o que fez com que a população ocupada no país caísse 8,3% na comparação com o trimestre anterior, indo para 85,9 milhões de pessoas. O número é o menor da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. Pela primeira vez, menos da metade da população em idade de trabalhar está ocupada.

A taxa oficial de desemprego no Brasil subiu para 12,9% no trimestre encerrado em maio, em relação ao trimestre anterior, atingindo 12,7 milhões de pessoas. É a maior taxa desde o trimestre terminado em março de 2018, quando foi de 13,1%. A fila do desemprego só não é maior porque muita gente simplesmente deixou de procurar trabalho em meio à pandemia. (Heloísa Mendonça)

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