_
_
_
_

Brasil perde quase 12 bilhões de dólares em dois meses e vira epicentro da fuga de capitais na América Latina

México sofre apagão de investimentos externos no valor de 2 bilhões de dólares no primeiro mês e meio desde o início do surto do coronavírus

Morador de rua caminha em via comercial esvaziada devido a quarentena no centro de São Paulo. Vídeo: NELSON ALMEIDA/AFP | AFP
Ignacio Fariza

Em menos de três meses o Brasil deixou de ser a nova menina dos olhos dos investidores na América Latina, ansiosos pela confirmação de seus sinais de recuperação —desta vez parecia que sim—, para se tornar o marco zero da fuga de capitais da região e um dos epicentros do fenômeno no bloco emergente. Nos primeiros dois meses do início da crise do coronavírus, o gigante latino-americano teve uma saída de capital no valor de 11,73 bilhões de dólares, segundo o banco de dados do Instituto de Finanças Internacionais (IIF na sigla em inglês) ao qual o EL PAÍS teve acesso. O número é próximo do PIB de um país como a Nicarágua.

Mais informações
A man wears a face mask amid the ongoing COVID-19 coronavirus outbreak as he cycles on a quiet street in Beijing on March 26, 2020. (Photo by GREG BAKER / AFP)
AO VIVO | Acompanhe as últimas notícias sobre o coronavírus
Una avenida de Barcelona, vacía.
Pandemia de coronavírus mergulha a economia no desconhecido
La ciudad de Madrid practicamente vacia a consecuencia del cierre de tiendas y el servicio de hosteleria por el coronavirus.
Crise do coronavírus é a hora da verdade para o novo capitalismo

O México fica atrás do Brasil, embora a muita distância: um mês e meio depois do início da crise do coronavírus (o último dado disponível no país norte-americano) já havia sofrido a saída de 2 bilhões de dólares de sua economia. Um número também expressivo, apesar de ainda não incluir as fugas de dinheiro investido na Bolsa de Valores, mas a anos-luz do gigante sul-americano: nesse mesmo período —para que ambos os dados sejam plenamente comparáveis— o Brasil já havia perdido mais de 10 bilhões dólares, principalmente por conta da venda de ações. O terceiro país da região incluído na estatística, a Colômbia, quase não teve perdas.

Os emergentes como um todo, e muito particularmente os países latino-americanos, são os maiores prejudicados quando os investidores recolhem as velas e se refugiam na liquidez em dólar. Desta vez essa norma está sendo cumprida à risca: como receptores líquidos tanto de investimento em Bolsa e de dívida procedentes do exterior quanto de investimento estrangeiro direto —ainda não incluídos nesta estatística; será preciso esperar o fim do primeiro trimestre para que estes dados estejam disponíveis—, de acordo com dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad na sigla em inglês) este cairá de 5% a 15% entre este ano e o próximo. As moedas da região também foram arrastadas e algumas delas caíram a níveis mínimos históricos. A queda do real brasileiro foi especialmente pronunciada, em consonância com os dados de saída de capitais disponíveis até o momento.

Por que o Brasil? “É um país muito sensível ao que acontece no exterior e, devido ao seu tamanho, é uma boa aproximação do risco dos países emergentes em geral. Muitos administradores de carteiras e fundos de investimento têm ordem de vender os ativos do bloco e, sendo um mercado grande e líquido, as saídas são maiores”, explica o economista-chefe do IIF para a América Latina, Martín Castellano. “O outro fator tem mais a ver com os fundamentos do Brasil: uma economia que sai de uma recessão muito longa e que está muito exposto à venda de matérias-primas [cujo consumo despencou com o coronavírus] para a China, o país que sofreu o primeiro choque do coronavírus.” Embora ainda seja preciso aguardar alguns dias para que os dados sejam completamente homogêneos e comparáveis entre os três países latino-americanos analisados, Castellano não tem dúvidas: o Brasil é o epicentro da fuga de capitais da região desde o início da crise.

Apesar disso, a redução nas previsões de crescimento feitas pela entidade patronal global dos bancos é generalizada em todo o subcontinente e, mais ainda, em todos os países emergentes. As saídas de capital, juntamente com a estagnação das vendas de matérias-primas —com o petróleo a preços muito baixos— e o golpe sofrido pelos mercados financeiros de todo o mundo “mudaram substancialmente” o panorama econômico do bloco em vias de desenvolvimento e, muito especialmente, o dos países latino-americanos. “O coronavírus e o estresse nos mercados atingem o mundo emergente em um contexto de baixo crescimento persistente e de investimento fraco, o que caracterizamos como estagnação secular. Tanto a Ásia quanto a América Latina sofrerão com a combinação de preços baixos das commodities, deslocamento financeiro e recessão nos principais parceiros comerciais”, destacam os técnicos da organização no último relatório de perspectivas do organismo, sediado em Washington.

Segundo as últimas projeções do IIF, atualizadas nesta semana, a América Latina está exposta a uma enorme mordida econômica devido ao vírus: sua economia retrocederá 2,7% em comparação com a expansão de 1,2% prevista há cinco meses. As cinco principais economias da região fecharão o exercício no vermelho: a Argentina cairá 3,1% em comparação com a previsão de 1,6% até agora; o Chile passa de um crescimento de 3,2% para uma queda de 2,3%; a Colômbia vai de 3,3% a -0,4%; o México, de 1,2% para -2,8%; e o Brasil, de 2% a -1,8%. Apesar do baque, esses números são prudentes: no México, por exemplo, as autoridades já esperam um golpe ainda maior no crescimento do que o contemplado pela patronal bancária mundial. “O choque acontece sobre uma posição inicial ruim, depois de anos de crescimento decepcionante. Mesmo sob a premissa de uma forte recuperação em 2021, o PIB continuará muito abaixo da tendência”, apontam em relação ao México. “E o Brasil está em situação semelhante, com muita capacidade ociosa da economia”, dizem os técnicos. Março ainda não terminou, mas uma coisa já está clara: 2020 será um ano para esquecer.

Informações sobre o coronavírus:

- Clique para seguir a cobertura em tempo real, minuto a minuto, da crise da Covid-19;

- O mapa do coronavírus no Brasil e no mundo: assim crescem os casos dia a dia, país por país;

- O que fazer para se proteger? Perguntas e respostas sobre o coronavírus;

- Guia para viver com uma pessoa infectada pelo coronavírus;

- Clique para assinar a newsletter e seguir a cobertura diária.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_