Adam Driver: a confirmação de um galã improvável graças a uma incomum cena de sexo
Um tórrido anúncio no qual assume a forma de um centauro e seu papel em ‘Annette’ o situam como o ator que redefiniu o atrativo masculino no cinema nesta temporada
Annette, o musical de Leos Carax, que estreia no Brasil em novembro, motivou reações extremas em Cannes. O filme é bastante estranho ―não são comuns no cinema as óperas sobre a masculinidade tóxica e os problemas decorrentes de ter uma filha que é uma marionete―, mas há uma cena que já virou cult desde sua primeira exibição na Croisette, quando os críticos começaram a tuitar sobre o assunto: aquela em que Adam Driver interrompe uma sessão de sexo oral em Marion Cotillard para continuar cantando o tema principal do filme, We love each other so much, da banda Sparks. Quando acaba de cantar, retoma a tarefa.
Aparentemente, a rodagem da cena teve certas dificuldades técnicas. Nos musicais, os atores costumam gravar as canções em um estúdio e fazer playback no set, mas neste caso Carax queria que todos cantassem ao vivo e que se notasse nas vozes o efeito dos movimentos. “Tínhamos que cantar em posições muito complicadas, nos inclinando para trás ou simulando sexo oral”, contou Cotillard na entrevista coletiva do festival.
Além de entrar para a lista de cenas de sexo contemporâneas que adquirem a dimensão de meme ―o pêssego do filme Me chame pelo seu nome, Sally Hawkins com um monstro marinho em A forma da água―, a sequência servirá para consolidar o status de galã esquisito de Driver, um ator imprevisível, capaz de fazer coisas das quais outros não sairiam ilesos, como começar a cantar Sondheim no meio de um bar em História de um casamento ou recitar poesia na cama em Paterson.
Driver também foi notícia recentemente por protagonizar um anúncio bastante tórrido da marca Burberry em que faz o papel de centauro. Parece evidente que esse roteiro publicitário não teria funcionado se o protagonista fosse Timothée Chalamet, Chris Hemsworth ou qualquer outro ator chamado para papéis grandes em Hollywood, mas cai como uma luva para este ex-marine que conseguiu manter sua vida privada à margem das fofocas.
De fato, ninguém sabe o nome do seu filho, do qual vazaram apenas algumas fotos durante a divulgadíssima rodagem de Casa Gucci. O menino nasceu em 2016, fruto de seu casamento com a atriz Joanne Tucker, mas Driver só confirmou sua existência dois anos depois. O casal aparece em alguns poucos tapetes vermelhos, mas mantém um perfil discreto. Conheceram-se na Julliard, a famosa escola de teatro nova-iorquina que só aceita 0,5% dos candidatos a uma vaga; casaram-se em 2013 e apareceram juntos em alguns filmes, como O relatório (2019).
O ator é filho e enteado de pastores batistas e quando criança cantava no coro da igreja com sua mãe ao piano. Aos 17 anos se “deixou levar pelo ardor” pós-11 de Setembro, conforme contou em uma entrevista à Radio Times, e se alistou no corpo de Marines, onde permaneceu por três anos, quando recebeu a baixa médica por um acidente que sofreu andando de mountain bike e que lhe custou uma fratura no nariz. A isso lhe deve esse perfil que lhe serve para protagonizar campanhas publicitárias milionárias. Costuma dizer que ser ator é muito fácil em comparação com estar nas Forças Armadas, com as quais ainda mantém certa relação. Fundou com sua mulher uma ONG dedicada a levar peças de teatro a bases militares.
Pouco antes de se alistar, já havia tentado a sorte como ator em Hollywood. Despediu-se de sua então namorada de Mishawaka (Indiana), partiu num carro velho e voltou após duas semanas depois, após gastar todas as suas economias para consertar o veículo e pagar a um corretor imobiliário que o enganou em Los Angeles. “Eu me senti um merda de um derrotado”, disse à The New Yorker. Sua segunda tentativa de triunfar como ator foi bem melhor. Lena Dunham lhe deu o papel que mudaria tudo, o de seu desesperador namorado com parafilias em Girls, que foi ganhando peso à medida que a série avançava. Aí Spielberg o viu e lhe reservou um pequeno papel em Lincoln, e desde então sua ascensão foi meteórica. Por um lado, ganha cachês da Disney por interpretar Kylo Ren em Star Wars, e, por outro, coleciona grandes diretores. Trabalhou com Scorsese, Spike Lee, os irmãos Coen, Jim Jarmusch, Noah Baumbach, Terry Gilliam e Steven Soderbergh. Todos encontram algo de novo para extrair de seu 1,90 metro de estatura e de seu aspecto de “homem das cavernas”, como dizia a personagem Jessa sobre ele em Girls.
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