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A luta de Christina Applegate, ícone dos anos noventa, contra a esclerose múltipla

Aos 49 anos, a atriz anunciou ter a doença. Ganhadora do Emmy e referência de sua geração na adolescência, ela vive um dos melhores momentos da carreira com a série ‘Disque amiga para matar’

Os jovens Brad Pitt e Christina Applegate no MTV Awards de 1989.
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A atriz Christina Applegate escolheu no dia 10 de agosto a vitrine de sua conta no Twitter, em que tem cerca de um milhão e meio de seguidores, para comunicar publicamente que recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. “Está sendo uma jornada estranha. Mas tenho recebido muito apoio de outras pessoas que sofrem desta mesma doença. Tem sido um caminho duro. Mas, como todos sabemos, o caminho segue em frente. A menos que algum idiota o bloqueie. Como disse um de meus amigos com esclerose múltipla, ‘acordamos e seguimos as medidas indicadas’. É isso o que a gente faz”, foram algumas das palavras com que a atriz, sete vezes indicada ao Emmy e vencedora de um deles, relatou seu estado de saúde e pediu à mídia que respeite sua privacidade.

Applegate se une assim a outras atrizes, como Jamie Lynn Singer (Os Sopranos) e Selma Blair, na lista de celebridades que convivem com esta doença neurodegenerativa. E justamente essa última atuou com ela e Cameron Díaz em Tudo para ficar com ele, um filme subestimado de 2002 que ousou dar uma reviravolta ao gênero da comédia romântica com três personagens femininas abertamente lascivas e donas de sua atividade sexual, características habitualmente reservadas aos homens na ficção. Apesar de passar despercebido nas bilheterias, abriu caminho para sucessos posteriores como O casamento do meu melhor amigo, Descompensada e Perfeita é a mãe —que também traz Applegate no elenco—, que órgãos da mídia como a Refinery29 hoje definem como “um filme cult sobre a amizade feminina gestado pelas adolescentes em suas festas de pijama”. Desde seu diagnóstico, Selma Blair vem documentando sua experiência de convivência com a doença, situando-se como uma valiosa ativista midiática. Sua colega lhe dedicou uma mensagem na rede social depois de saber da notícia: “Sempre te amando. Sempre aqui. Como nossos filhos. Golpeando-nos com o seu amor”.

Aos 49, Christina Applegate é um dos rostos mais frequentes e queridos da TV norte-americana. Filha da atriz de televisão Nancy Priddy, de pouco sucesso, e do produtor musical Robert Applegate, seu primeiro trabalho diante de uma câmera se deu quando tinha apenas cinco meses, em um comercial de mamadeiras. Seus pais se separaram pouco tempo depois e a garota logo se tornou fonte de sustento econômico de sua mãe, aparecendo em séries, anúncios de rádio e peças de teatro em Los Angeles. Sem poder pagar uma babá, Nancy transformava os cenários em creches improvisadas e com apenas sete anos a menina já havia participado de três produções do lendário diretor John Cassavetes. “Não foi fácil para minha mãe ser uma atriz com problemas para trabalhar e criar uma menina. Nunca sabíamos de onde viria o dinheiro”, revelou a atriz.

A californiana era considerada uma das mulheres mais desejadas de Hollywood no início dos anos 90.
A californiana era considerada uma das mulheres mais desejadas de Hollywood no início dos anos 90. Christopher Polk (FilmMagic)

Com apenas 15 anos, a californiana foi escolhida para dar vida à mais velha dos dois filhos da miserável família Bundy em Um amor de família (Married with children), uma das ficções mais populares do mundo entre o final dos anos oitenta e meados dos noventa, e que durou 10 anos no ar. Seu papel como Kelly, o símbolo satírico do clichê da “loira burra”, catapultou-a para a fama e a tornou um “sonho adolescente”, como comprova a cena mítica de Donnie Darko em que a personagem interpretada por Jake Gyllenhaal fala sobre suas fantasias sexuais com a atriz. A ponto de enlouquecer o próprio Brad Pitt, que aos 26 anos era caído por ela e cujo coração dessa vez se despedaçou quando ela o trocou por outro, o cantor de heavy metal Sebastian Bach. Foi considerada uma das mulheres “mais desejadas” do mundo em 1992 pela MTV, um prêmio que Linda Hamilton lhe arrebatou no estilo Sarah Connor, e no qual ela dividiu categoria com Kim Basinger e Julia Roberts.

Com seu cabelo loiro e atitude madonniana, foi a it girl de seu tempo, tornando moda roupas peças crop tops florais, meias pretas, chokers, brincos de argola e jeans rasgados. “Era a garota mais sexy da década. Basta olhar para ela: ela era os anos noventa!”, apontou The Richest. Em seguida, veio o papel da irmã narcisista de Rachel Green em Friends (que lhe rendeu um Emmy) e a série Samantha who?, feita para projetá-la e tirar o máximo proveito de seu inegável talento cômico. Seu último grande projeto é a série Disque amiga para matar, da Netflix, que acaba de congelar a produção de sua terceira temporada depois da informação sobre a situação pessoal de sua estrela.

Elenco original da série ‘Um amor de família’, um grande sucesso.
Elenco original da série ‘Um amor de família’, um grande sucesso. Aaron Rapoport (Getty Images)

Seu papel nessa ficção, classificado como o melhor de toda a sua carreira, mais uma vez a situou na vanguarda da indústria do entretenimento, ganhando indicações para melhor atriz no Emmy e no Globo de Ouro. A série, na qual também trabalhou na produção, significou seu renascimento após vários anos longe da linha de frente por motivos de saúde. Em abril de 2008, teve o diagnóstico de câncer de mama e foi submetida a uma mastectomia dupla para prevenir uma recaída. “Choro pelo menos uma vez por dia por causa disso, porque é difícil não perceber quando você está diante do espelho. Quando você olha para baixo, é a primeira coisa que você vê... É uma recordação constante do câncer que eu tive”, disse no programa de Oprah Winfrey.

Applegate atua com Linda Cardellini na série ‘Dead to me’.
Applegate atua com Linda Cardellini na série ‘Dead to me’.Netflix

Depois de superar a doença, em 2011, aos 39 anos, ela se tornou mãe pela primeira vez de uma menina chamada Sadie Grace, fruto de seu casamento com o roqueiro holandês Martyn Lenoble, o segundo para ela. Em 2017, explicou à revista Today que seus ovários e trompas de Falópio tinham sido removidos como medida preventiva. “Minha prima morreu de câncer de ovário em 2008. Eu poderia evitar isso. Foi assim que assumi o controle de tudo. É um alívio”. Diante da onda de solidariedade e incentivo que sua última confissão no Twitter despertou, com mais de 55.000 “curtidas”, e aumentando, os fãs de seu trabalho pretendem retribuir com ânimo a marca que Applegate deixou sobre eles.

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