15 fotos16 filmes que você achou alucinantes na época e que hoje detestariaNossa relação com o cinema – como acontece com a primeira paixão – envolve vários tropeços até que encontramos o amor verdadeiroJuan Sanguino14 jan. 2018 - 19:17BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópia O que achamos na época. Uma luxuosa produção barroca, sensual e sangrenta que reunia as estrelas mais carismáticas do momento (Tom Cruise, Brad Pitt e Antonio Banderas) com Christian Slater. O que é na verdade. Um disparate deprimente que não tem argumento (basicamente, trata de vampiros tristes que discutem sem parar quebrando candelabros). O verdadeiro filme aconteceu atrás das câmeras: Tom Cruise (que contratou um ajudante cujo único trabalho era garantir que o tom loiro de suas sobrancelhas combinasse com o de sua peruca) eliminando as frases interessantes do personagem de Brad Pitt para que este não o ofuscasse; Kirsten Dunst com nojo de ter de beijar Pitt por estar convencida de que ele tinha piolho; Slater substituindo o falecido River Phoenix duas semanas após o início das filmagens; e Pitt tentando rescindir o contrato porque odiava cada minuto da gravação.Cordon O que achamos na época. Um experimento artístico cru e uma metáfora sobre a capacidade humana de manter a dignidade, a imaginação e o otimismo. O que é na verdade. Sentar para assistir a ‘Dançando no Escuro’ é como perguntar “Como vai?” a um colega de trabalho durante o café e aguentá-lo durante 20 minutos contando suas desgraças sem dar tempo para você esclarecer que foi uma pergunta retórica. Queremos ver um drama social musical e nos deparamos com uma crueldade grotesca que beira a paródia (quando você acha que o diretor não pode sentir mais prazer à custa da miséria da protagonista, ele encontra novas formas) com um sadismo de novela. Na vida real, Von Trier não se conformou em humilhar a protagonista, mas também ultrajou emocionalmente a atriz que a interpretava, a cantora Björk. O que achamos na época. Nos anos oitenta, qualquer coisa com Indiana Jones era melhor do que qualquer coisa sem Indiana Jones. E essa segunda parte virou a favorita da garotada porque traz surpresas a todo momento, o arqueólogo tem um amigo de 10 anos e a trama é tão simples que você podia assistir enquanto brincava com um cubo mágico. O que é na verdade. Um passatempo com o qual Spielberg cumpriu seu sonho de dirigir um filme de James Bond (o prólogo), relaxou enquanto preparava um grande drama (‘A Cor Púrpura’) e cujo personagem feminino ele mesmo confessou que representava suas frustrações durante o divórcio: Kate Capshaw (casualmente, sua segunda mulher) passa duas horas gritando. O enredo é cheio de perseguições, mas nenhuma leva a lugar algum.Cordon O que achamos na época. Uma obra de arte sobre o coração indomável de uma mulher oprimida por sua mudez, por seu marido e por suas anáguas. O que é na verdade. Uma fotografia magnífica e uma trilha sonora tão romântica que conseguiu que ‘O Piano’ parecesse uma arrebatadora história de amor, quando, na verdade, trata de duas pessoas que não se aguentam, mas que se entendem muito bem na cama. O agora lamentável Harvey Weinstein, seu distribuidor, orquestrou uma campanha centrada no empoderamento feminino que surtiu efeito. O filme rendeu três Oscars para suas três mulheres: Holly Hunter (melhor atriz), Anna Paquin (atriz coadjuvante) e Jane Campion (roteiro). Nem o filme, nem o argumento e nem os personagens tinham coerência. Mas ‘O Piano’ ficou na moda, e ninguém quis se fazer uma pergunta pertinente: é realmente bom ou simplesmente tem muita névoa? O que achamos na época. Uma majestosa epopeia romântica, dessas que já não se fazem, projetada para que cada cena desperte duas reações no espectador de meia idade: “que linda fotografia!” e “é preciso ver como essa mulher trabalha bem” (ou seja, Meryl Streep). O que é na verdade. 160 minutos que parecem 160 anos. A filmagem foi na África e em Hollywood. Isso só pode significar uma coisa: que nos mostrariam paisagens do início ao fim. Os cativantes planos aéreos nos transportam à natureza selvagem (quando estreou, o espectador médio não tinha acesso a viagens tão exóticas), o que faz de ‘Entre Dois Amores’ a primeira adaptação cinematográfica de um cartão postal. E é tão chato quanto olhar um postal durante 160 minutos.Cordon O que achamos na época. Quiseram nos convencer de que Quentin Tarantino, recém-saído de ‘Pulp Fiction – Tempo de Violência’, era o coautor, mas a única coisa que ele fazia era interpretar um personagem de menor importância cujo monólogo, de fato, foi ele que escreveu. Banderas dava tudo de si, havia muitos tiros, e Salma Hayek despertou sexualmente toda uma geração de adolescentes. O que é na verdade. O culpado pelo nascimento de um subgênero do qual ainda sofremos: exageros de um diretor que recebeu alguns milhões para participar de uma diversão animada com seus colegas no deserto e onde as mulheres são tratadas como revistas pornô em movimento. A maioria desses filmes (todos os de Guy Ritchie, por exemplo) pelo menos tem diálogos agitados. Mas 'A Balada do Pistoleiro’ nem isso tem. Não é um filme, mas uma despedida de solteiro com armas de festim. O que achamos na época. Uma fantasia repleta de magia, aventuras e um cachorro que voa. Para nós, meninos de 10 anos – o equivalente cinéfilo de um tagarela porque só exigíamos que os filmes tivessem coisas brilhantes –, isso foi mais do que suficiente para coroá-lo como nosso filme favorito do mundo durante o inverno inteiro. O que é na verdade. Brega, o que pode soar redundante porque nos anos oitenta tudo era brega, mas esse filme inclusive saía de moda em tempo real, como aconteceu com todas as fantasias da época ('A Lenda’, 'O Feitiço de Áquila’, ‘O Guerreiro Imortal’) que não fossem ‘Labirinto – A Magia do Tempo’). Emocionalmente tosco (um cavalo afogando num pântano!), narrativamente nulo e com um protagonista irritante. E o cão voador na verdade era um dragão. Tudo é decepção em 'A História Sem Fim’. O que achamos na época. Uma proeza técnica rodada com luz natural, em condições subumanas e com esmagadores planos de sequência de batalhas. E achamos isso porque sua campanha ao Oscar assim nos recordou durante meses através de reportagens, entrevistas e vídeos. Tudo com a intenção de que não se falasse... do filme. O que é na verdade. ‘O Regresso’ é daqueles filmes que os críticos mais intelectuais dizem que não têm nenhuma substância. Tão obstinado em ressaltar seus prodígios técnicos que a Academia entregou dois Oscars seguidos a Iñárritu e concedeu um prêmio de melhor ator a Leonardo DiCaprio que havia anos devia a ele, mas que perdeu um pouco do brilho porque, como dizia Joan Crawford a Bette Davis na série ‘Feud’, “não te dão um prêmio pela qualidade do que faz, e sim porque notam o quanto você se esforça”. O que achamos na época. Um exercício de cinema visceral, angustiante e traumático, com uma trilha sonora capaz de te levar à loucura num dia de desânimo. Era o filme que estava na boca de todos na lanchonete da faculdade. O que é na verdade. O diretor norte-americano Darren Aronofsky é um gênio. ‘Réquiem para um Sonho’ é o melhor exemplo desses filmes “adorei, mas não penso em ver de novo” – e isso joga a favor dele. O fato de que ninguém assista ao longa novamente o conservou numa memória privilegiada do imaginário coletivo, porque seus últimos 20 minutos são tão asfixiantes que o espectador não processa, acaba aturdido e confunde o alívio por ter acabado com a qualidade cinematográfica. Nunca gostamos dele; simplesmente fomos vítimas da síndrome de Estocolmo. E a irritante trilha sonora acabou acompanhando de tudo: de apuração de eleições até reportagens de futebol.Cordon O que achamos na época. Um fenômeno social que comoveu a massa graças a seu heroico retrato do espírito humano e que culminou com o Oscar de melhor filme, superando na linha de chegada o filme favorito, ‘Reds’ (Warren Beatty, 1981). O que é na verdade. É preciso respeitá-lo porque há 27 anos funciona como o cânone fundacional dos 'feel-good movies' (filmes que tentam fazer você se sentir bem acima de tudo) que tanto nos fazem rir, chorar e fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Também nos deu a trilha sonora de Vangelis, a mais parodiada da história do cinema. Mas essa música e suas boas intenções fizeram sucesso entre o público de 1981, que não deu atenção ao ínfimo desenvolvimento dos personagens e a uma encenação bastante pobre. O público lembra o que esse filme o fez sentir, mas quase não se lembra da história. Por algo será. O que achamos na época. Frases e títulos que circulavam quando estreou: “A Pixar consegue de novo”, “O melhor filme da Pixar até agora”, “É desenho, mas também é para adultos”, “Lembrei muito do meu avô”. O que é na verdade. Os 10 minutos mais amortizados da história do cinema. O comovedor retrato de toda uma vida de amor e aventuras, no início do filme, conquistou o coração do público. E, como é costume na Pixar, fez as pessoas sentirem coisas que não sabiam que tinham em seu interior. Mas esses magistrais 10 minutos têm um nome: curta-metragem. Porque os 80 restantes são uma sucessão de personagens tropeçando em coisas e uma “amizade improvável” que vemos no cinema desde que Pinóquio conheceu o Grilo Falante. O que achamos na época. O filme mais bacana do mundo. Os óculos de aviador entraram na moda graças a Tom Cruise (que havia feito o mesmo com os óculos Ray-Ban Wayfarer, ao usá-los três anos antes em ‘Negócio Arriscado’), e a amizade masculina demonstrou que podia ser sensível: aqui nasceu o ‘bromance’. O que é na verdade. Um filme que mudou Hollywood. Seu mastodôntico sucesso de bilheteria provou que os filmes não necessariamente precisavam ser uma história; também podiam ser um produto. A marca? Os Estados Unidos. O ingrediente? A adrenalina. O objetivo? Despertar sensações (de nenhum modo narrativas) de exaltação patriótica, masculinidade hiperbólica mas acessível e vontade de se alistar no exército. Portanto, foi filmada como um anúncio de cerveja, de jeans ou de óculos escuros. Uma euforia contagiosa que esconde que ‘Top Gun’ não tem intenção de ser um filme de verdade porque o que deseja é vender um conceito. Veremos se a sequência, que estreia em 2019, consegue nos convencer novamente.Cordon O que achamos na época. Um fracasso de bilheteria transformado em clássico da TV graças à tradição de vê-la em família no Natal, recuperando a fé na bondade humana. O que é na verdade. Uma parábola manipuladora em que o mocinho (Jimmy Stewart) sofre porque quer conceder empréstimos a todos os moradores sem comprovar seus recursos e avalistas (o que vem a ser a causa da crise econômica atual) e onde o vilão é uma caricatura desalmada e, simplesmente, um empresário prudente que se nega a conceder esses empréstimos a pessoas que não poderão pagar. Ambos são capitalistas acérrimos, mas o herói é ainda por cima um insensato. Mas ‘A Felicidade Não Se Compra’ é tão bem-intencionada que criticá-la faz você parecer um vilão. É uma estratégia perfeita. O que achamos na época. Finalmente, um filme que dava voz à incompreendida geração X. Vejamos o que têm a dizer! “Bem-vindos ao inferno de nossa insatisfação”. Ah, ok. O que é na verdade. Hollywood montou uma armadilha para os integrantes da geração X, pintando-os como meninos imaturos incapazes de se levantar do sofá porque tudo parecia pré-fabricado e eles procuravam algo autêntico. O que não procuravam, pelo visto, era trabalho. Seus personagens são supostamente brilhantes porque eles mesmos dizem isso entre si, mas em momento algum vemos evidências dessa genialidade. O filme acaba sendo uma metáfora perfeita quando, após passar 90 minutos ridicularizando as comédias românticas, termina com o menino (Ethan Hawke, cuidadosamente despenteado) chegando à casa da menina (Winona Ryder, cuidadosamente moleca) para declarar seu amor. Mas que fique claro que eles não são como os outros.O achamos na época. A maioria do público se lembra dele como duas horas de Audrey Hepburn vestida por Hubert de Givenchy e comendo croissants em frente à vitrine da joalheria Tiffany's. O que é na verdade. A bolsa é melhor que o filme. Totalmente superficial para a tortuosa história que conta (ou melhor, que não conta). Oferece uma tediosa sucessão de 'sketches' cômicos sem saber muito bem que filme quer ser. Confia demais no encanto de Hepburn e na melancolia que evoca ‘Moon River’, música que toca 12 vezes. E o senhor Yamamoto, interpretado por um Mickey Rooney maquiado, explorando todos os estereótipos japoneses e interpretando outros novos, está entre as coisas mais racistas que Hollywood já vez. Vergonhoso e desnecessário. Nem sequer é divertido.