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Met Gala convidará ‘tiktokers’ pela primeira vez em sua história, em nova estratégia de Anna Wintour

Lista de convidados, mais concisa do que nunca, exclui ‘habitués’ e abre espaço para estrelas das redes sociais. O objetivo? Conseguir a maior repercussão possível e ter acesso a novos públicos

Met Gala
As restrições à entrada nos Estados Unidos de cidadãos da União Europeia implica uma redução significativa na lista de VIPs convidados.
Patricia Rodríguez
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O poder do seguidor, do clique e do unfollow

Depois de um ano e meio de hibernação, Nova York reivindicará novamente seu papel protagonista no mapa global em setembro. A prece urbana começará entre os dias 8 e 12, com a realização de sua semana de moda diante de um público totalmente vacinado, e terminará na segunda-feira, dia 13, no Met Gala. Então, a escadaria mais famosa da cidade, a do Museu Metropolitan, voltará a receber fotógrafos e celebridades para inaugurar a nova exposição do Costume Institute. Desta vez essas celebridades serão menos numerosas e mais jovens do que nunca.

A redução do número de sortudos para o desfile tem a ver com as imposições da pandemia e significará uma diminuição de quase 200 pessoas. Além disso, a variante delta mantém os Estados Unidos fechados aos habitantes da União Europeia. Se continuar assim até meados de setembro, ao menos um terço dos nomes usuais cairá. O resto é decisão da organizadora desta festa exclusiva, Anna Wintour, encarregada de aprovar ou rejeitar cada um dos convidados e responsável pelo sucesso do evento.

Embora a lista definitiva de participantes seja um segredo supremo até o último momento, as idades e perfis dos anfitriões (assim como o cardápio, que pela primeira vez será vegano) dão uma ideia do novo target que a todo-poderosa editora da Vogue norte-americana busca alcançar: Timothée Chalamet (de 25 anos), Billie Eilish (de 19), Amanda Gorman (de 23) e Naomi Osaka (de 23). Um ator que vai para o tapete vermelho para romper os estereótipos de gênero, a cantora favorita da geração Z, a poeta que se tornou viral na cerimônia de posse de Joe Biden e a tenista que abriu o debate sobre saúde mental no esporte. Personagens com discurso, muito alinhado com os rumos das propostas dos criadores nova-iorquinos mais novatos. Completam o quadro três cadeiras honorárias: para o designer Tom Ford, o diretor do Instagram Adam Mosseri e a própria Wintour.

Met Gala
Atrás, Kylie Jenner e Kim Kardashian e, na frente, Jennifer Lopez e Donatella Versace na festa de 2019.

Dos Estados Unidos para o mundo

A exposição que justifica o sarau, In America: A Lexicon of Fashion, será aberta ao público no dia 18 de setembro, mas será apenas uma primeira parte do clímax que chegará em maio de 2022 com uma segunda exposição (e uma segunda festa), In America: An Anthology of Fashion. Ambas com curadoria de Andrew Bolton, esbanjando história para se concentrarem em dar visibilidade e apoiar a moda local, depois de alguns meses difíceis para a indústria que prejudicaram especialmente os criadores independentes. A temática marcará o dresscode e justifica a cadeira de Ford. A do diretor da rede social também se explica facilmente: o Facebook e o Instagram patrocinarão o evento, garantindo mais atenção do que nunca às redes sociais.

De acordo com o Page Six, neste ano não comparecerão habitués como Sarah Jessica Parker ou o casal formado por Gisele Bündchen e Tom Brady. No lugar deles? Por exemplo, a tiktoker Addison Rae ou a youtuber Emma Chamberlain, ambas de 20 anos. Em uma guinada inesperada em 2021, Wintour decidiu recorrer às estrelas das redes, rendendo-se aos influencers com a mesma rapidez (pouca) com que se jogou nos braços do digital. Até agora, sua maior concessão ao grupo foi em 2019, quando cedeu ao convidar quatro populares criadores do YouTube. Desta vez serão mais, conta no Page Six o contrariado agente de uma das atrizes que ficará de fora: “Disseram-me que há muitos influencers na lista de convidados. Ouvi dizer que o Facebook e o Instagram ocuparam várias mesas e isso desanimou muitos, junto com a obrigatoriedade da máscara”. Os novos perfis e a máscara, mas também o aumento no número de casos de covid-19 e a decisão de algumas celebrities de não usar roupa de festa neste momento mudarão o panorama no tapete colorido.

As restrições à entrada nos Estados Unidos de cidadãos da União Europeia implica uma redução significativa na lista de VIPs convidados.
As restrições à entrada nos Estados Unidos de cidadãos da União Europeia implica uma redução significativa na lista de VIPs convidados.

Esta festa apresenta vários desafios a Wintour. Por um lado, não há dúvida de que busca dar uma imagem de retorno à normalidade e servir de alavanca para a indústria norte-americana, mas também precisa atrair o interesse do público global e arrecadar fundos. A consecução do primeiro objetivo é garantida pelo tema chauvinista da noite; os dois últimos andam de mãos dadas. O Met Gala é um dos eventos mais midiáticos do ano, mas também é a principal fonte de financiamento do Costume Institute. Por 35.000 dólares por pessoa (cerca de 185.000 reais) e entre 200.000 e 300.000 dólares por mesa, em uma noite podem arrecadar mais de 13 milhões de dólares. Esse desembolso, que vem de empresas que depois se encarregam de convidar os famosos, ficou paralisado com a chegada da covid-19 e agora é aguardado com ansiedade em uma instituição cujas finanças já estavam em dificuldade antes da crise. Desta vez, nada pode falhar.

A festa, que completa 75 anos, é um sonho dourado para qualquer especialista em marketing. É organizada por Wintour desde 1995, quando substituiu a socialite Patricia Buckley e a cada ano representa alcance e difusão supremos para os presentes. Celebridades e marcas. Tudo, ademais, cercado por uma atraente aura de exclusividade e com a atitude positiva que a boa causa concede, para financiar o Costume Institute do Metropolitan. Apesar dos preços, o investimento rende e é por isso que cada edição há cotoveladas entre as marcas para conseguir as mesas. Mas para que a roda funcione é imprescindível essa difusão garantida pelos grandes nomes (atores de Hollywood, designers, modelos, empresários, políticos...) e, se muitos ficam de fora, esse alcance pode não ser tão atraente.

A busca desses outros públicos que só estão no TikTok e companhia garantiria o alcance, inclusive se o evento for mais intimista. Resta saber se, com estes novos convidados e o novo público-alvo, a festa será retransmitida nas redes sociais. Nas últimas três edições Wintour vetou celulares dentro da festa em um movimento que, neste caso, mais do que contra a corrente, parece voltado para a construção desse halo de inacessibilidade. Porque, no fim das contas, os que quiseram burlar a proibição o fizeram sem consequências e com resultados milionários na forma de likes. É mais uma das ironias desta festa, tão exclusiva quanto midiática.

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