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Reunião de ‘Friends’, o retorno da piada repetida transformada em placebo para a alma (com ‘spoilers’)

Episódio especial lançado nesta quinta nos EUA junta os seis atores da série em torno de vários dos símbolos que a tornaram a comédia mais bem-sucedida da TV. Brasil ainda terá de esperar

Os protagonistas de Friends, reunidos com o apresentador britânico James Corden, à esquerda.
Os protagonistas de Friends, reunidos com o apresentador britânico James Corden, à esquerda.Terence Patrick / HBO
Héctor Llanos Martínez
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‘Friends’ é a série cômica definitiva. Divertida, engenhosa, ‘cool’, geracional, juvenil... Que levante a mão quem não for seguidor dos rapazes e moças da cafeteria Central Perk. E mesmo quem não é fã de carteirinha certamente já deu uma olhada e esboçou um sorriso com alguma trama da sua extensa trajetória (1994-2004). Mas, puxa vida, certamente essa paixão nos impediu de enxergar algumas situações que nos fizeram rolar de rir quando vistas no seu contexto, mas hoje, à distância, desafinam demais. Esta reportagem visual não pretende desmerecer a série, e sim nos fazer refletir e constatar que às vezes a passagem do tempo não cai bem para a ficção televisiva.
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A oitava temporada de Friends começou a ser exibida nos Estados Unidos 16 dias depois dos atentados terroristas de 11 de setembro. A comédia, que por todos esses anos foi a opção preferida em sua faixa de horário, conseguiu pela primeira vez se tornar o conteúdo mais visto da temporada, uma colocação que sempre perdia para E.R.:Plantão Médico.

Essa curva ascendente de audiência, um fenômeno completamente inédito em um programa tão longevo, refletia o que o público sentia pela série. O espectador sabia o que iria encontrar se sintonizasse em sua televisão a NBC às oito horas da noite. Lá estaria uma Nova York com as Torres Gêmeas. Desse modo, além de voltar a um lugar utópico e invencível, também retornaria aos seus protagonistas, transformados no calor do lar. Eles eram os mais parecidos aos amigos imaginários da infância, que ajudam a canalizar emoções e se adaptar a um mundo desconhecido. Os comprimidos de placebo de 22 minutos de duração que até esse momento haviam aliviado pequenos medos e decepções serviam, a partir de então, de remédio contra terrores e angústias existenciais que 20 anos de história confirmaram como justificados.

Friends: The reunion, que a HBO Max nos Estados Unidos inclui no catálogo a partir desta quinta-feira —O Brasil precisa esperar a chegada da plataforma em 29 de junho— não avança nas tramas de seus personagens porque não é uma ficção. Através de seus atores, recupera os seus protagonistas que construíam um novo modelo de família: a escolhida. Juntos dividiam as mesmas piadas repetidas, após a mesma sintonia e nos mesmos cenários que ocuparam a tela durante uma década. Lembra, definitivamente, todos esses elementos que fizeram com que uma ficção fosse, pela cotidianidade, um pedacinho da realidade aos seus seguidores. E essas piadas (a tendência ao divórcio de Ross, as manias de Monica, o tempo na relação entre Rachel e Ross, a frase de paquera de Joey, o Smelly Cat de Phoebe, o trabalho desconhecido de Chandler e a própria Janice) continuam vivas neste reencontro.

[Aviso aos leitores: a partir deste parágrafo aparecem detalhes gerais sobre o conteúdo do episódio]. O programa especial começa com o elenco chegando um a um ao estúdio número 24 da Warner Bros., o mesmo em que Friends foi gravado entre 1994 e 2004, como nessas reuniões de velhos colegas de universidade tão populares nos Estados Unidos. Com o antigo cenário completamente reconstruído, os atores não podem evitar compartilhar recordações e histórias pessoais com o restante do elenco e recuperar alguns traços de seus personagens. Sendo novamente um grupo, comparecem ao encontro do apresentador James Corden diante da famosa fonte que aparece na abertura musical, para fazer uma entrevista grupal que estrutura o episódio.

O elenco de ‘Friends’ lembrando histórias no antigo cenário da série.
O elenco de ‘Friends’ lembrando histórias no antigo cenário da série. Terence Patrick HBO

Nos 100 minutos de overdose de saudade, Jennifer Aniston, David Schwimmer e companhia recriam várias das sequências mais lembradas e revisam falhas de gravação, enquanto algumas das estrelas convidadas que passaram por esse mesmo set de filmagem falam suas próprias lembranças. Outras celebridades que nunca passaram por lá, algumas delas que sequer haviam nascido quando o programa começou a ser exibido, participam do reencontro mimetizando-se com o universo e a infinidade de referências dos seis amigos. Os criadores do fenômeno também participam da cerimônia, explicando como cortejaram os seis atores quase desconhecidos como se fossem grandes estrelas por entender que eram os únicos capazes de entregar alma e diversão genuína aos jovens na casa dos 20 anos que haviam imaginado no papel, além de grandes doses de clássica comédia física.

Esse olhar ao passado perde a oportunidade de fazer uma menção a assuntos que entraram nesses anos à quase permanente conversa sobre a série, como a falta de diversidade racial que mostrou em suas 10 temporadas, apesar de seguidores de todas as procedências —incluindo a Nobel da Paz Malala Yousafzai e os membros da banda sul-coreana BTS― lembrarem em um momento do especial como foram importantes em suas vidas personagens que viviam presos em uma tela bidimensional. Sem ter planejado, o reencontro de Friends surge em novos tempos de incerteza, no momento adequado para que o espectador receba um novo abraço de seus amigos imaginários.

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