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Lisa Kudrow: o triunfo de sobreviver a ‘Friends’

Atriz que deu vida à personagem Phoebe Buffay forja uma carreira ímpar na TV

Lisa Kudrow.
Lisa Kudrow.Getty

Diferentemente das suas amigas Courtney Cox e Jennifer Aniston, Lisa Kudrow se manteve longe dos holofotes das revistas de celebridade e dos tapetes vermelhos durante os dez anos em que Friends foi ao ar. É a mais velha dos seis protagonistas da série, e tem uma vida privada estável e tediosa para os padrões de Hollywood: é casada desde 1995 com o publicitário francês Michel Stern, com quem tem um filho. Talvez esses fatores, somados à sua aversão à fama e à perda de privacidade, a tornem pouco interessante para a imprensa sensacionalista, mas os méritos e conquistas de Kudrow são fruto também de uma decisão própria. Quando Friends acabou, nenhum dos seus protagonistas precisava mais trabalhar. Além do milhão de dólares que cada um embolsava por episódio nos dois últimos anos, a série ainda continua rendendo cerca de 30 milhões de dólares por ano pelos direitos de re-exibição.

Seguindo a lógica dos trabalhos que havia conciliado com Friends até agora, incluindo filmes pequenos e algumas joias como Romy & Michelle, Lisa Kudrow concluiu que seu futuro profissional estaria no cinema independente, aceitando os papéis que mais lhe agradassem. Logo ela percebeu que não desejava passar muito tempo trabalhando fora de casa, e por isso assumiu as rédeas da sua própria carreira, criando seus personagens e trabalhando sob a premissa de poder dormir em casa, em Los Angeles, o maior número de noites possível. Desde então, sua fama se manteve graças a Phoebe, mas sua carreira foi crescendo por caminhos mais do que interessantes, graças à sua firmeza e inquietação, fazendo o que gosta e sempre procurando a novidade, a surpresa e o desfio pessoal.

No começo de 2012, Matt LeBlanc recebeu um Globo de Ouro por seu papel em Episodes, a série que ele protagoniza no canal Showtime, no papel de Matt LeBlanc. Um exemplo de metatelevisão que faz sucesso, na esteira de outras séries como 30 Rock, Extras e Entourage, todas relacionadas à própria indústria televisiva e que podem ser reunidas sob um gênero que produz novos títulos a cada ano. Não sabemos o que Lisa Kudrow, companheira de LeBlanc em Friends, achou desse reconhecimento. Em 2005, ela já havia se aventurado na série The Comeback, que foi totalmente incompreendida e acabou sendo cancelada após apenas 13 episódios. Criada, produzida e escrita pela própria Kudrow e por Michael Patrick King, responsável pelos roteiros de Sex and the City, Murphy Brown e 2 Broke Girls, The Comeback destrinchava a crueldade da cidade de Los Angeles, o drama do envelhecimento na indústria do entretenimento e a ânsia dos atores por estarem sempre na vitrine. A série é incômoda, divertidíssima e rodada em estilo de reality, e Kudrow aparece em todas as cenas interpretando Valerie Cherish, uma atriz de TV que, após mais de uma década sem trabalhar, consegue um papel em uma sitcom em troca de gravar um reality sobre sua vida. Os capítulos são o material bruto do reality The Comeback, sem edição, que Valerie acredita que servirá para relançar sua carreira e mostrar seu talento à América, mas que acaba se tornando uma sucessão de humilhações e situações grotescas que escapam do seu controle.

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Apesar de ter quase 10 anos, a série não envelheceu, servindo como documento premonitório do que viria a ocorrer não só na televisão como em todo o mundo das celebridades, com a atual redefinição da privacidade e da intimidade. Uma crítica desumana aos realities e à busca obsessiva pela fama, que a HBO decidiu recuperar nove anos depois de cancelar. História curiosa, já que a série não teve a unanimidade da crítica nem gerou movimentos para evitar seu cancelamento, como ocorreu com outros exemplos de programas que morrem para depois voltar, como Family Guy e Community. Mesmo sem ter uma grande base de fãs, a série cômica acabou sendo muito elogiada entre pessoas que hoje trabalham no departamento de programação do HBO, e foram elas que propuseram uma nova temporada, para surpresa do Kudrow e King, que não hesitaram nem um segundo em ressuscitar a criatura. Sem muitas pretensões, a nova temporada tem início também nove anos depois, prometendo ser tão inigualável como a primeira. Valerie Cherish aprendeu a crua realidade da televisão, mas estes anos não lhe tiraram nada dessa mistura de mesquinharia e ternura, de inocência malévola.

Seus feitos como pioneira não se limitam a ter detectado a explosão dos realities, abrindo assim espaço para o sucesso de outros. Em 2003 ele montou sua própria produtora, a Is or Isn’t Entertainment, junto com Dan Bucatinsky (ator de quem Kudrow é amigo de longa data), a quem se uniria mais tarde como sócio Dan Roos (marido do Bucatinsky e diretor de filmes como O Oposto do Sexo e Finais Felizes, ambos protagonizadas por Kudrow). Os três são os responsáveis por Web Therapy, uma websérie que consiste em sessões de terapia por videoconferência, nas quais os atores improvisam diante de Kudrow, que interpreta à egoísta e fria Fiona Wallice. A série começou em 2009 e surpreendeu por seu formato e pelo risco de fazer um produto exclusivo para a Internet, além da presença contínua de Kudrow na tela. Se houve um momento no qual fazer televisão era algo mal visto entre os atores de cinema, naquela época fazer algo exclusivo para a web havia se tornado uma ideia impensável para uma estrela, de qualquer meio que fosse. Mas Web Therapy recebeu tanta atenção (e prêmios Webby) que o canal Showtime encomendou um remake televisivo, que vai ao ar desde 2011. A série inclui regularmente em seu elenco os ex-colegas dela em Friends (com exceção, até agora, de Jennifer Aniston, que já prometeu achar um espaço para Kudrow na sua apertada agenda), além de nomes como Lily Tomlin, Conan O’Brien, Rosie O’Donnel e Meryl Streep, que, para assombro dos criadores da série, pediu a Kudrow que lhe escrevesse uma participação especial. Poucas semanas antes da volta de The Comeback, a quarta temporada de Web Therapy estreou no canal concorrente HBO. Nessa nova leva de episódios aparecerão como atores convidados Jon Hamm, Billy Crystal e Gwyneth Paltrow, entre outros.

Com duas séries no ar, Kudrow ainda tem tempo para continuar produzindo outro de seus produtos mais valorizados, a versão norte-americana do documentário/reality britânico Who Do You Think You Are?, no qual famosos rastreiam suas árvores genealógicas para conhecer mais da sua família. Kudrow foi uma das primeiras participantes, descobrindo como morreu sua bisavó (assassinada por nazistas em uma aldeia de Belarus) e encontrando um familiar longínquo que sua família há décadas dava por morto. Sua estrela não se limita aos seus próprios projetos: além de todo o trabalho gerado por ela mesma, teve tempo de aparecer como atriz convidada na terceira temporada de Scandal, um dos maiores sucessos dos últimos tempos, interpretando uma política democrata dos EUA com um grande segredo a esconder. Em breve, aparecerá no hilário papel de uma reitora universitária no longa Vizinhos, ao lado de Zac Efron e Seth Rogen. O filme foi um dos grandes sucessos de bilheteria deste ano nos Estados Unidos.

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