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Do Rock in Rio a Jumanji, baixista que ‘groovou’ forró se desdobra para viver da música

Júnior Groovador, que virou meme por versão performática do Nirvana e se apresentou com o Tenacious D, estrela campanhas publicitárias à espera de oportunidades nos palcos

Junior Groovador Nirvana
Groovador encena 'Jumanji nordestino' em campanha de lançamento de filme.Reprodução
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Jack Black Groovador
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The Fonda inlet – also known as Waikiki – is the most iconic virgin cove between Castellón and Costa Brava. Its rich interior, complemented by meadows of posidonia oceanica, is owed to the Marquise of Mas Rabassa, who refused the blank check offered in exchange for construction there, in the first recorded environmental act of the Tarragon coasts. It flaunts dunes colonized by aquatic fennel, as well as pinyon pines, carob and olive trees. Under the accentuated yellow-tinted slope, protected by wind and the sound of the highway and train, Fonda cove is particularly appealing to those who flee from the beach-hut bars and prefer to just bathe. The descent to the sand is very difficult. Accessibility: parking at Platja Llarga, just pass the Las Salinas campsite. The rest is 1.8 kilometers by foot.
O paraíso está em Natal

Com desenvoltura para dedilhar o baixo ao mesmo tempo em que performava um envolvente gingado na coreografia, Júnior Bass Groovador, nome artístico do potiguar José Edilson Firmino Silva Júnior, 36, viralizou reinterpretando o clássico Smells Like Teen Spirit, do Nirvana. O “Nirvanaço”, como batizou a versão em ritmo de forró, chegou ao ator norte-americano Jack Black, que compartilhou o vídeo em suas redes sociais e convidou o baixista para uma palinha na apresentação de sua banda, a Tenacious D, na última edição do Rock in Rio, em setembro. “Minha vida mudou completamente desde esse dia”, conta Groovador, logo depois de participar de um programa nos estúdios de uma rádio em Natal.

Antes de se tornar hit da internet, o artista conciliava a carreira de músico com o trabalho de vigilante em um banco, único caminho que vislumbrou quando foi demitido da escola de música onde dava aulas de instrumentos. “Meu comportamento de palco desagradava muita gente”, diz ao comentar sobre o jeito de dançar e rebolar ao tocar. “As portas se fecharam para mim. Não conseguia fazer show em lugar nenhum.” Em 2017, entrou para o curso profissionalizante de tiro e distribuiu currículos até encontrar emprego cobrindo férias na vigilância do banco. Recebia 620 reais por mês.

Tocando em bares da cidade e ganhando 100 reais por apresentação, era inviável garantir o sustento da esposa Cleidenice e da filha Sofia, de 10 anos. “Lá em casa, eu abria a geladeira e via que a situação estava muito difícil”, afirma o baixista dançarino. A atividade paralela à música, ainda que a contragosto no início, foi a saída para tirar a família do sufoco. “Aos poucos eu comecei a gostar dessa profissão. Vestia a farda de vigilante como se estivesse tocando. Era o que colocava comida na minha mesa.”

Embora se dedicasse ao novo ofício, não abandonou o sonho de vingar como músico. Além das apresentações em casas noturnas, continuou postando suas adaptações groovadas de forró nas redes sociais. Remixes de Pink Floyd, Linkin Park e Dire Straits fizeram sucesso entre seguidores. “Quando estava na vigilância, algumas pessoas até me reconheciam por causa dos vídeos. Mas, pelo protocolo da empresa, eu não podia ter contato com os clientes. Tinha que disfarçar e fingir que não era o Groovador.” Nenhuma outra versão, porém, gerou tanto barulho quanto a do Nirvana, que alcançou mais de 1,5 milhão de visualizações após o compartilhamento de Jack Black.

Júnior já estava dormindo no momento que um amigo lhe telefonou dos Estados Unidos para avisar que o ator estava à sua procura. Só acreditou ao perceber que o celular não parava de vibrar. “Eram mais de 600 notificações de mensagens. Comemorei como se fosse um gol do meu time, o Palmeiras.” Dias depois de Jack Black manifestar a intenção de conhecê-lo em sua passagem pelo Brasil, a produção do Rock in Rio entrou em contato para convidá-lo a participar do festival. “Eu disse ‘que bom, tô de férias’. Aí a produtora respondeu: ‘De férias? Parou de fazer show?’. O pessoal achou que eu tava bem, que vivia de música. Custaram a acreditar que eu era vigilante.”

Na apresentação com a Tenacious D, levantou o público ao tocar Smells Like Teen Spirit. À vontade ao lado de Jack Black no palco, ele lembrou de duas décadas atrás, época de sua iniciação na música. “Em 99, apareci com uma camisa do Nirvana em casa e minha mãe mandou eu tirar. Ela gritava ‘você tá ficando doido de tanto escutar rock”, conta. “Aqui no Nordeste, a terra do forró, roqueiro não é muito bem visto. Eu era um dos únicos do colégio. Cheguei a fazer planos de fugir só pra assistir a um show do Iron Maiden. Nunca tinha ido a um festival de rock antes do Rock in Rio.”

O momento de maior emoção veio ao notar a presença de um fã ilustre na plateia. “Quando terminei o show, reparei um cara cabeludo na frente do palco fazendo reverência pra mim. Olhei direito e era o Dave Grohl. Ali o coração bateu mais forte. Me senti o cara mais magro do mundo. Tirei um peso das minhas costas.” No camarim, ganhou um abraço efusivo do ex-baterista do Nirvana e atual vocalista do Foo Fighters, que foi quem havia mostrado a Jack Black o vídeo de Groovador. “Sempre fui apaixonado pelo grunge do Nirvana e, principalmente, pelo Dave Grohl. Gostava mais dele que do Kurt Cobain. Ele ainda me elogiou. Disse que eu consegui transformar uma música psicodélica em uma melodia alegre.”

No entanto, o ápice no Rock in Rio não se tratou de sua primeira exibição em rede nacional. Em 2015, chegou a tocar ao lado MC Gui no Encontro com Fátima Bernardes, que o apresentou como o “gordinho do arrocha”. Em outubro deste ano, já conhecido pelo vídeo que virou meme, voltou ao programa da Globo para uma participação especial. “Foi preciso o reconhecimento de uma pessoa de fora para que passassem a valorizar minha dança, meu lado musical”, diz Júnior. Sem espaço no rock, ele começou a trajetória pela música tocando em grupos de forró. “Eu montava o projeto da banda, mas logo o cantor dizia: ‘Groovador, agora vou seguir carreira solo. Não preciso mais de você.”

Calejado pelos projetos frustrados, decidiu criar a própria marca. “Misturo rock com forró para enaltecer o estilo musical da região. Sou apaixonado pela minha terra. Mas aqui, no Rio Grande do Norte, as pessoas sempre me trataram como um doido, um lunático, um pangaré. Estou lutando, tentando ver se as coisas melhoram pra mim. A política do Brasil tem um lado sombrio para quem busca viver de música e cultura. O artista não é reconhecido.” A fama repentina no Rock in Rio lhe rendeu alguns contratos de publicidade, como uma campanha para o lançamento do filme Jumanji, que estreiou na semana passada com Jack Black no elenco. Entretanto, apesar de uma turnê prevista para fevereiro, em São Paulo, ainda não conseguiu emplacar nenhum show em Natal.

Durante a entrevista ao EL PAÍS, Júnior Groovador se emocionou e pediu desculpas por estar sentimental no dia em que completava 20 anos de carreira. “Sou feliz do jeito que eu sou, um cara muito alegre, alto astral.” Deixou o emprego de vigilante no fim do ano passado, embora ainda não tenha carro nem casa própria, para redobrar a aposta na profissão que sonha seguir.

Aos fãs, promete “surpresas groovadas” em breve, incluindo versões de Red Hot Chili Peppers, Metallica e Iron Maiden em seu repertório de groove forrozado. “Eu precisava me dar essa segunda chance. São 20 anos na estrada, levando muitos golpes. Mas encaro a música como se eu fosse um Rocky Balboa. Espero conseguir dar a volta por cima no fim. Quero ser reconhecido como músico. Quero que as pessoas enxerguem o artista dentro de mim.”

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