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Pandemia de coronavírus
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Geometria de uma pandemia do coronavírus

Os isolamentos e as quarentenas atrasam a propagação do vírus, permitindo que os sistemas de saúde lidem com seus efeitos. Não é para proteger você, e sim os outros

Trabalhador da área de saúde no controle de fronteira entre a Alemanha e a República Checa.
Trabalhador da área de saúde no controle de fronteira entre a Alemanha e a República Checa.Petr David Josek (EL PAÍS)

Os cientistas estavam há um mês preocupados por uma questão fundamental sobre o coronavírus. Sabiam que a China havia conseguido controlar seus focos de infecção, em particular a cidade de Wuhan, com 11 milhões de habitantes, pela simples ação de isolá-los do resto do mundo. Mas é possível aplicar esse tipo de medida nas democracias ocidentais? Acabamos de ver que sim. As medidas do Governo espanhol, como as dos outros países de nosso entorno, se baseiam quase inteiramente na experiência chinesa. Os isolamentos e as quarentenas atrasam a propagação do vírus. Isso não quer dizer que o eliminam ―esse coronavírus não parece estar em risco de extinção―, mas permitem aos sistemas de saúde lidar com seus efeitos. Esse é o ponto para entender a crise sanitária. As Bolsas de valores são outra história.

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O coronavírus (SARs-CoV-2, causador da doença respiratória covid-19, mas peço ao leitor que se esqueça dessas minúcias lexicológicas) se propaga mais rápido do que seu predecessor o SARS, e até melhor do que a gripe, que até agora era o verdadeiro pesadelo dos epidemiologistas. Poucos cientistas esperavam eliminá-lo a essas alturas. O mais provável é que o coronavírus cedo ou tarde infecte a maior parte da população europeia, e certamente da mundial. A chanceler alemã, Angela Merkel, cifrou nessa semana em 70% da população, e pode ter sido otimista. Mas isso não é um dado tão preocupante quanto parece.

Uma boa regra que os epidemiologistas aprenderam nessa crise é a do 80/15/5. São porcentagens, e por isso somam 100%. 80% dos espanhóis, e dos europeus, se infectarão quase sem perceber. Para eles, a doença será tão leve que não darão mais atenção além de um ocasional paracetamol. 15% pode sofrer pneumonia e precisará de tratamento. E o 5% restante precisará ficar na unidade de tratamento intensivo (UTI) de seu hospital. 80/15/5 é o ponto para entender as medidas que o Governo está tomando. Essas medidas são corretas, mas nem sempre fáceis da população entender. Nem pelos mercados, pelas flutuações quânticas que estamos observando nesse galinheiro.

Há uma geometria da pandemia. Se o vírus irá contaminar a quase todos nós, por que se empenhar em deter sua propagação? O objetivo do estado de emergência declarado pelos governos não é proteger você, desocupado leitor, e sim o sistema de saúde que, com toda certeza, você irá precisar em algum momento da vida. 5% de 100 infectados são 5 pacientes na UTI. 5% de um milhão de infectados são 50.000 pacientes na UTI. Nenhum sistema de saúde pode suportar isso e as medidas são necessárias para aplanar a curva de contágio, como é possível ler nesta reportagem. O número final de infectados pode ser o mesmo, mas sua chegada aos hospitais será escalonada o suficiente para tornar possível o atendimento aos casos mais graves. Seu isolamento não é para você, e sim para os outros. Cuide-se.

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