Ômicron x Réveillon: Rio banca riscos da variante e mantém festa na orla de Copacabana
Depois do impasse entre Governo e Prefeitura, a cidade terá “versão simplificada” da festa, sem apresentações musicais. “Se daqui a uma semana o comitê científico da prefeitura disser que não podemos fazer, eu mudo de novo”, diz Eduardo Paes
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A celebração de Réveillon no Rio de Janeiro terá queima de fogos na praia de Copacabana —mas sem shows— e em outros nove pontos da cidade, informou nesta quinta-feira o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PSD). “O que vamos fazer é uma versão mais simples do Réveillon, com fogos de artifícios vistos de diferentes partes da cidade, para evitar deslocamentos e aglomerações em Copacabana”, afirmou Paes em uma entrevista coletiva. A confirmação chega após nove dias de vai e vem do conflito de decisões sobre a realização do Ano Novo, travado entre a prefeitura o Governo do Estado. No dia 1º de dezembro, o comitê científico que orienta o governador Claudio Castro recomendou a suspensão do Réveillon, contrariando o comitê científico municipal. Três dias depois, Paes anunciou no Twitter que a festa em Copacabana seria cancelada, mas, na última quarta-feira (07/12), Castro anunciou que seria realizada a tradicional queima de fogos, apesar do cancelamento da programação de shows.
Os fogos de artifício iluminarão o céu de Copacabana por 16 minutos, e a praia contará com 25 torres de som com música. O acesso ao bairro será bloqueado a partir das 19h do dia 31 dezembro —trabalhadores e moradores poderão entrar na região até as 22h, mediante apresentação de comprovante de residência— e não haverá esquema especial de transporte público (metrô e ônibus não funcionarão na madrugada). Outras medidas de trânsito serão adotadas para restringir a entrada de ônibus fretados na cidade a partir das 9h do dia 30 de dezembro. Paes informou ainda que, durante a celebração, haverá postos de saúde na praia para vacinar contra a covid-19 aqueles que ainda não receberam a primeira ou segunda dose do imunizante, mas não deu detalhes sobre essa operação.
O prefeito ressaltou que o Rio de Janeiro vive “um momento diferenciado”, com baixo número de internações (0,4% de ocupação nos leitos da UTI, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde) e óbitos por covid-19. “A população estará segura em qualquer lugar da cidade do Rio de Janeiro. Nós estamos fazendo tudo que a ciência tem determinado, estamos embasados pelo comitê científico, composto por especialistas de universidades e do Ministério da Saúde”, argumentou Paes, acrescentando: “Se daqui a uma semana o comitê científico da prefeitura disser que não podemos fazer, eu mudo de novo. Nós vamos respeitar a opinião da ciência, sempre”.
99,9% da população carioca maior de 18 anos já tomou ao menos uma dose ou a dose única da vacina contra a covid-19 e 95,2% desta faixa etária já tomaram ambas as doses, mas a cidade enfrenta uma pandemia de influenza (o vírus da gripe) —entre o fim de outubro e o início de dezembro, houve uma alta de 71% em casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), segundo o Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)— e, de acordo com o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, o estoque de vacinas contra a influenza do Estado está zerado.
“O que sugerimos, obviamente, é que as pessoas que estão doentes fiquem em casa. É preciso seguir aqueles conselhos de vovó, tomar chazinho, não andar descalço em casa, pisando no chão frio”, disse Paes. Questionado se, mesmo sem apresentações musicais, a festa não criará aglomerações, o prefeito afirmou que “não está proibida aglomeração em Copacabana” e que o comitê científico municipal disse que poderia haver shows —Paes revelou que Anitta seria uma das atrações—, mas que o comitê científico do Estado informou que não liberaria as apresentações. “Não sou negacionista, nem bolsonarista, eu perdi meu pai para esta merda dessa doença, mas estou vendo todo mundo sem máscara, todo mundo indo para bar e restaurante, e a gente está querendo viver uma fantasia. Eu também não entendo por que se pode aglomerar no sábado, no domingo, no Maracanã, e não pode no Réveillon”, afirmou.
Ômicron
Eduardo Paes não mencionou (e não foi questionado sobre) o risco que a variante ômicron do coronavírus pode representar nas festas de fim de ano. Especialistas ouvidos pelo EL PAÍS afirmam que, embora o momento seja de cautela, não há motivo para “desespero” e ressaltaram que os atuais dados epidemiológicos do Brasil revelam um cenário favorável, com a média nacional de casos diários de covid-19 baixo dos 10.000 e o número de óbitos abaixo de 200 a cada 24 horas. Para Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a suspensão ou realização dos eventos de fim de ano independe da chegada da nova variante ao Brasil. “É mais uma questão de decisão política”, diz. “As vacinas continuam sendo capazes de proteger contra essa variante, mesmo que seja um pouco menos. O que os estudos indicam, na verdade, é que uma terceira dose aumenta a proteção contra as variantes do Sars-Cov-2, tornando-o cada vez mais um vírus que tende a ser como o da gripe, contra o qual a população se vacinará com certa periodicidade, mas sem caráter pandêmico”, conclui.
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