Convocatória para o 7 de setembro toma fôlego nas redes e reproduz roteiro de outros atos pró-Bolsonaro
Levantamento mostra que, nos últimos 15 dias, publicações convocando para o ato a favor do presidente explodiram nas redes sociais, encabeçadas pela deputada bolsonarista Carla Zambelli
Uma mistura de fake news com frases entusiasmadas e de teor golpista estão no caldeirão das publicações no Instagram e no Facebook que convocam para as manifestações bolsonaristas do próximo dia 7 de setembro. O ato, que se veste de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas também ataca a democracia e pede por “uma nova independência”, tem agitado as redes sociais, com aumento significativo de publicações e engajamento nos últimos 15 dias.
Levantamento realizado pela Novelo Data com publicações dos últimos 30 dias, aponta que, a partir de 15 de agosto, o número de posts e as interações sobre o tema crescem e se mantêm no mesmo patamar até agora. Os números apontam não só para o termômetro dessas convocações nas redes, mas também para um roteiro que coincide, milimetricamente, com o das outras duas manifestações pró-Bolsonaro ocorridas neste ano.
Guilherme Felitti, fundador da Novelo, chama a atenção para o modelo da operação. “[A deputada] Carla Zambelli (PSL-SP) é quem convoca oficialmente os atos”, diz. “Já foi assim em março, quando houve a manifestação do dia 14, e em abril, para manifestação do dia 1º de maio”. O roteiro começa sempre com uma declaração de Bolsonaro, que pede um “sinal”. “O povo quer, é só o povo pedir”, ele disse em uma live no dia 11 de março. Naquele mesmo dia, a parlamentar, que tem mais de dois milhões de seguidores no Instagram, convocou uma carreata contra o lockdown para dali a 72 horas.
Agora, acuado pelas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que colocam na mira suas declarações antidemocráticas e sem provas, Bolsonaro ameaçou novamente as autoridades. A apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada afirmou, no último dia 3, que se o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, continuasse “insensível” aos seus apelos contra o sistema eleitoral, e “se o povo assim desejar”, haveria uma manifestação na avenida Paulista para “dar o último recado”. No mesmo dia, Carla Zambelli publicou então o primeiro post convocando para as manifestações de 7 de setembro.
A operação também segue à risca o roteiro traçado pela Polícia Federal no inquérito das fake news: “O largo uso de múltiplos canais”, e a “eliminação de intermediários formadores de opinião” para propagar o conteúdo. Isso porque, de acordo com o levantamento da Novelo, convocam às ruas perfis cristãos, muitos canais de notícias de extrema direita, páginas que pedem intervenção militar, além de diversas páginas de fãs de Bolsonaro e do ex-juiz Sergio Moro. Poucos perfis são de pessoas. “Mas todo o ecossistema bolsonaristas está ali, [a deputada] Bia Kicis (PSL-DF), Allan do Santos, [o deputado] Carlos Jordy (PSL-RJ)”, ressalva o pesquisador e jornalista. “Mas ninguém se aproxima da Zambelli”, diz Felitti, sobre a quantidade de publicações e engajamento.
Com essa repetição da estratégia usada nos outros atos a favor do presidente, e que foram tímidos se comparados às manifestações da oposição neste mesmo ano, Glauco Peres, professor de ciência política da USP, levanta dúvidas sobre a adesão neste 7 de setembro. “O ato de agora tem uma preparação longa, tentando que seja um movimento grande”, diz. “Mas não sei se está com todo esse apoio”.
Ele alerta, no entanto, para um novo fator. “O que devemos ver agora é se haverá ou não apoio dos órgãos de repressão, se a polícia vai aparecer”, diz. “E esse flerte é perigoso. Bolsonaro tem buscado apoio aí e aparentemente tem algum, então essa manifestação pode ser um bom exemplo de até onde essa força vai.”
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