PIB reage a Bolsonaro com manifesto de apoio às eleições e defesa da democracia
Banqueiros, empresários e acadêmicos assinam o documento que defende que Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados. “A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias”, diz texto
Diante da crescente onda de ataques sem provas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao processo eleitoral e à democracia mais de 250 personalidades se uniram para assinar um manifesto de apoio às eleições. “O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados”, diz o documento assinado por banqueiros, empresários, intelectuais, artistas e acadêmicos de diferentes visões políticas, lançado nesta quinta-feira (5).
O documento também endossa a confiança nas urnas eletrônicas e na Justiça Eleitoral, ambos na mira do presidente. “A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico”, diz a carta.
O manifesto foi publicado na esteira da campanha de Bolsonaro contra o sistema eletrônico, numa ofensiva contra os ritos democráticos, ao Superior Tribunal Eleitoral (TSE) e seu presidente, o ministro Luís Roberto Barroso. Na segunda-feira (2), o TSE abriu, por unanimidade, um inquérito administrativo para apurar as mentiras do presidente sobre o processo eleitoral e as urnas eletrônicas. A Corte também pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que inclua Bolsonaro ao inquérito já aberto das fake news. O ministro e relator do inquérito no Supremo, Alexandre de Moraes, aceitou na quarta-feira (4) a notícia-crime apresentada pelo TSE, colocando Bolsonaro na terceira investigação no âmbito do STF.
O presidente respondeu prontamente ao inquérito, declarando que não tem “qualquer embasamento jurídico” e insinuando mais uma reação antidemocrática: “Está dentro das quatro linhas da Constituição? Não está, então o antídoto para isso também não é dentro das quatro linhas da Constituição”.
A gota d’água do Judiciário, que até então só respondia às acusações do presidente com notas de repúdio, foi a live realizada por Bolsonaro na semana passada. Nas redes sociais, o presidente, que prometia apresentar provas de fraude nas eleições, não só não o fez, como também utilizou vídeos que já haviam sido desmentidos pelo TSE. E admitiu que “não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”.
O manifesto desta quinta-feira isola mais ainda Bolsonaro, cuja rejeição vem aumentando nos últimos meses. De acordo com pesquisa do PoderData, 61% dos brasileiros não votariam no presidente de jeito nenhum, percentual que vem subindo: em junho, eram 50% e, em julho, 56%. Enquanto sua popularidade cai, Bolsonaro ameaça as próximas eleições.
Aderiram ao documento nomes como os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, Maria Alice Setubal, , Celso Lafer, Oded Grajew, Monja Coen, Hélio Mattar, Renato Janine Ribeiro e Paulo Vannucchi. O documento, que afirma que “a sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias”, também é assinado pelos empresários Luiza Trajano, Sonia Hess, Chieko Aoki, Jayme Garfinkel, Guilherme Leal, Horácio Lafer Piva e Carlos Jereissati Filho.
Os economistas Arminio Fraga, Ana Carla Abrão, André Lara Resende, Edmar Bacha, Elena Landau, Ricardo Paes de Barros, Samuel Pessôa, Ilan Goldfajn, Alexandre Schwartsman, Pedro Malan e Persio Arida também estão entre os signatários. A plataforma Eleições serão respeitadas reúne todos os mais de 200 nomes.
Esta não é a primeira vez que a nata do PIB brasileiro reage a Bolsonaro. Em março deste ano, banqueiros e economistas escreveram uma carta ao Governo com duras críticas à condução de políticas para o enfrentamento à pandemia. Na época, mais de 200 economistas, banqueiros, empresários e ex-autoridades do setor público refutaram o “falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável”.
Leia o manifesto, na íntegra:
O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados
O Brasil enfrenta uma crise sanitária, social e econômica de grandes proporções. Milhares de brasileiros perderam suas vidas para a pandemia e milhões perderam seus empregos.
Apesar do momento difícil, acreditamos no Brasil. Nossos mais de 200 milhões de habitantes têm sonhos, aspirações e capacidades para transformar nossa sociedade e construir um futuro mais próspero e justo.
Esse futuro só será possível com base na estabilidade democrática. O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias.
O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados.
Apoie nosso jornalismo. Assine o EL PAÍS clicando aqui
Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.