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Bolsonaro dá comando do Exército a general que freou pandemia nos quartéis com distanciamento social

Presidente elege o terceiro mais antigo para o cargo porque o primeiro se aposentará em três meses e o segundo já havia assessorado a ex-presidenta Dilma Rousseff. Na Aeronáutica e na Marinha foi respeitado o critério de antiguidade

Walter Braga Netto
O ministro da Defesa, Braga Netto, chega para anúncio dos novos comandantes militares.ADRIANO MACHADO (Reuters)
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A supporter of Brazilian President Jair Bolsonaro takes part in a gathering to commemorate the 1964 military coup that established a decades-long dictatorship, in the Ministries Esplanade in Brasilia, Brazil, Wednesday, March 31, 2021. The leaders of all three branches of Brazil's armed forces jointly resigned on Tuesday following Bolsonaro's replacement of the defense minister, causing widespread apprehension of a military shakeup to serve the president's political interests. (AP Photo/Eraldo Peres)
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O novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, anunciou na tarde desta quarta-feira os três novos comandantes das Forças Armadas. São eles: o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Exército), o almirante Almir Garnier Santos (Marinha) e o tenente-brigadeiro do Ar Carlos Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica). Ao contrário do que se previa, Braga Netto, de certa maneira, privilegiou os critérios de antiguidade e não realizou uma série de promoções nas Forças Armadas por razões estritamente políticas ou por alinhamento direto ao presidente Jair Bolsonaro.

Dois oficiais da reserva disseram à reportagem que, aparentemente, o ministro quer evitar um sinal de que a caserna está totalmente politizada e que poderia aderir a qualquer intento golpista do presidente. Essa avaliação ganhou força depois que os três comandantes anteriores entregaram os seus cargos em apoio à demissão do antigo ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, que foi exonerado por Bolsonaro na segunda-feira passada durante uma reforma ministerial que resultou em seis trocas no primeiro escalão. Esta foi a primeira vez que houve uma demissão coletiva dos comandantes das três forças desde a redemocratização. “As Forças Armadas se mantêm fiéis às suas missões constitucionais”, destacou o ministro durante o anúncio dos novos comandantes, em que também chamou esta quarta-feira, aniversário do golpe de 1964, de dia especial.

Apesar desta tentativa de se desvincular desse critério político, entre especialistas a avaliação é que dificilmente esse descolamento ocorrerá. “As forças estão politizadas há tempos. É uma posição anti-esquerda e conservadora. Desde a redemocratização, elas admitiram algumas mudanças, dentro de determinados limites. A educação de seus oficiais, por exemplo, não mudou. Tanto que nas escolas de formação de oficiais ainda dizem que não houve golpe militar em 1964”, afirmou o cientista político Alexandre Fuccille, professor da Universidade Estadual Paulista e pesquisador na área de Defesa.

A principal preocupação entre oficiais militares era de que o presidente ignorasse a longa fila de promoções e indicasse o quinto ou sexto general mais antigo. Há uma regra interna entre militares que um oficial que tem menos tempo de casa não pode comandar um mais antigo. O respeito à antiguidade já vinha sendo alertada por outros membros do Governo. “Julgo que a escolha tem que ser feita dentro do princípio da antiguidade, até porque foi uma substituição que não era prevista. Quando é uma substituição prevista, é distinto. Então, se escolhe dentro da antiguidade e segue o baile”, disse o vice-presidente, o general da reserva Hamilton Mourão, na manhã desta quarta-feira.

Havia a expectativa que o presidente e indicasse o general Marco Antônio Freire Gomes, atual comandante da região Nordeste, que é o quinto mais antigo. Bolsonaro e Braga Netto, contudo, escolheram o terceiro com mais tempo de Exército, Paulo Sérgio. O primeiro, José Freitas, entrará para a reserva em três meses por estar ocupando o cargo de general há 12 anos. Por essa razão foi excluído da promoção. O segundo, Marco Antônio Amaro dos Santos assessorou a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) na Casa Militar, o que foi um impeditivo para sua nomeação, já que a gestão Bolsonaro se opõe aos petistas. Amaro e Freitas seguirão automaticamente para a reserva.

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Entre os militares, a surpresa com relação a Paulo Sérgio, atual chefe do departamento de Pessoal do Exército, acontece porque no domingo passado ele concedeu uma entrevista ao jornal Correio Braziliense, na qual defendeu uma série de medidas sanitárias para evitar a disseminação do coronavírus nos quartéis. E disse que, por conta do uso de máscaras faciais, de distanciamento social e da testagem em massa de seu efetivo a força registrou, proporcionalmente, menos caso que a população em geral. Foi na contramão do que prega o presidente, um negacionista da crise.

A escolha por Paulo Sérgio também ocorreu para tentar esvaziar mais um pedido de impeachment apresentado pela oposição contra Bolsonaro. Há cerca de 70 aguardando análise do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No pedido apresentado nesta quarta-feira, parlamentares afirmam que o presidente está tentando controlar e utilizar politicamente o Exército durante a pandemia ao dizer que seu Exército poderia atuar contra lockdowns decretados por governadores de Estados. No texto, os congressistas citam que a troca no comando da Defesa mostra uma nova investida de Bolsonaro “com objetivo de usar as Forças Armadas politicamente e de atentar contra as instituições republicanas e democráticas”.

A situação de Paulo Sérgio hoje é similar à do general Eduardo Villas Bôas, que, em 2015, foi escolhido pela presidenta Dilma Rousseff quando era o terceiro mais antigo na função. Nas outras duas forças, não houve surpresas. Garnier Santos e Baptista Júnior eram apontados como os favoritos de Bolsonaro e as suas escolhas acabam por referendar a ordem de antiguidade também.

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