Com novo recorde de casos de covid-19 e restrição no comércio em SP, Doria reduz imposto de empresas
São Paulo registra 17.942 novos contaminados nas últimas 24h e governador faz aceno a setores produtivos para tentar mitigar o desgaste provocado pelas medidas da quarentena
Alvo de protestos no último final de semana e diante da possibilidade de que restrições ainda mais rígidas sejam adotadas nos próximos dias por conta da pandemia de coronavírus, o governador João Doria (PSDB) fez um aceno aos setores produtivos de São Paulo e anunciou, nesta quarta-feira, isenção em impostos e mais crédito para o comércio. A medida também parece preparar o terreno para uma fase de maior restrição no Estado, que registrou um novo recorde de casos de covid-19 nas últimas 24 horas (17.942) e seguiu com um número alto de mortes (617 em 24h). A nova fase de isolamento social mais restrita, iniciada há três dias, ainda não atingiu patamares aceitáveis na diminuição da circulação: o isolamento no Estado chegou, na terça, a uma taxa de 44% apenas, longe dos números registrados no começo da pandemia, quando alcançava 60%.
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No início da manhã, Doria afirmou em entrevista à rádio BandNews que seriam anunciadas “medidas adicionais: para combater o novo coronavírus” na coletiva de imprensa desta quarta. A fala criou a expectativa de que um lockdown fosse adotado no Estado, a exemplo do que já está acontecendo em alguns municípios paulistas. Na coletiva, entretanto, ele afirmou que isso não ocorreria e Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contigência do Covid-19 do Estado, disse que ainda estão sendo discutidas as eventuais medidas mais favoráveis. “Estamos no terceiro dia de fase emergencial, queremos que a situação melhore imediatamente, mas isso não ocorre assim”, disse ele, ponderando que é preciso esperar os efeitos das medidas que entraram em vigor na última segunda. A expectativa é que os resultados comecem a aparecer em 15 dias.
Após a entrevista pela manhã, Doria e seus secretários se reuniram com representantes dos setores produtivos do Estado, que nos últimos dias têm feito críticas às novas restrições adotadas. Desde segunda, todas as atividades não essenciais foram fechadas. Ficou proibido, por exemplo, o funcionamento de lojas de materiais de construção, algo inédito, e a retirada de comida no próprio restaurante (apenas o sistema de delivery está autorizado). Escritórios onde não se desempenhe atividades essenciais também não podem funcionar. Após a reunião, o governador anunciou que o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) será zerado sobre o leite e que haverá uma redução de 13,3% para 7% sobre as carnes bovinas, suínas e de frango na compra para revenda. Também serão acrescentados mais 100 milhões de reais em crédito para micro-empresários e estará suspenso o corte de fornecimento de água e gás para o setor de comércio e serviços até 30 de abril.
Com toque de recolher e restrições a praias, parques e igrejas, além da promessa de uma fiscalização maior para coibir atividades não essenciais, o Governo de São Paulo anunciou há uma semana a fase emergencial, que seria a etapa mais restrita da quarentena no Estado desde o início da pandemia. São Paulo tinha, naquela semana, 87,6% de ocupação nos leitos de UTI, mais de 2.000 pessoas na fila por uma vaga e uma média superior a 300 mortes por dia. “O Brasil está colapsando e, se nós não frearmos o vírus, não será diferente em São Paulo. Teremos que adotar medidas mais restritivas. É a única forma, neste momento, para conter a aceleração de mortes”, disse o governador Doria na ocasião. “Nenhum governante gosta de parar as atividades econômicas”, admitiu.
Nesta quarta, a ocupação dos leitos de UTI no Estado chegou a 89,9%, com 10.756 pacientes, além de outros 14.236 internados em enfermaria. O número de doentes em tratamento intensivo é 68% maior que o registrado em 22 de fevereiro, ou seja, há menos de um mês. A média móvel diária de internações aumentou 6,4% (2.760) em comparação com a semana anterior, enquanto a de óbitos cresceu 7% (389). “A proliferação mais rápida do vírus vai de encontro com pessoas que não se comportam da maneira adequada”, justificou Jean Gorinchteyn, secretário estadual de Saúde. “Cada dia que olho os números fico mais triste. É uma situação dramática”, desabafou Menezes, o coordenador do Centro de Contingência. Nesta terça, o Estado bateu recorde de mortes, com 679 óbitos registrados em 24 horas.
A adesão às medidas restritivas adotadas desde segunda continua baixa, apesar da previsão de que elas retirariam de circulação ao menos 4,5 milhões de pessoas na região metropolitana. Na segunda, o isolamento chegou a 43% e o centro de São Paulo continuou com filas nos pontos de ônibus, metrôs lotados e ruas movimentadas pelo comércio, conforme mostrou uma reportagem do EL PAÍS. Na terça, a taxa foi a 44%. “Precisamos de mais de 50% de isolamento no Estado”, reconheceu Menezes, que assinalou, entretanto, que houve um decréscimo de 61% no número de passageiros no transporte público. “Estamos avançando, mas não é o suficiente.”
Na quinta-feira passada (11), 53 municípios paulistas haviam colapsado seu sistema de saúde por conta do novo coronavírus. Na zona oeste do Estado, algumas cidades já adotaram o lockdown, com restrição total de circulação. Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e outras 11 cidades do entorno ampliaram as restrições nesta semana em transportes coletivos e serviços públicos. As medidas nestas cidades passam a valer a partir desta quarta (17). Os municípios seguem o exemplo de Araraquara, onde até postos de combustíveis e bancos foram fechados. O lockdown na cidade ocorreu entre 21 de fevereiro a 2 de março. No primeiro dia de restrições mais rígidas, a média móvel diária de novos casos era de 189,5. No último dia 10, dias após o fim da medida, o número estava em 108 (queda de 43%). No período, o número de pacientes internados nos hospitais públicos e privados da cidade atingiu um pico de 247. Na semana após o fim do lockdown, segundo a prefeitura, havia 177 pessoas internadas (redução de 28%).
São Paulo já registrava o aumento da gravidade da pandemia desde o início do ano, com seguidos recordes de mortes e internação nas UTIs desde fevereiro. Ainda assim, mesmo com os avisos de sua área técnica de que haveria um colapso na rede assistencial, João Doria optou por não adotar restrições mais duras até 3 de março, quando anunciou a fase vermelha. A etapa, no entanto, ainda permitia aglomerações em praias, atividades esportivas coletivas, cultos em igrejas e abertura de escolas, medidas que só foram corrigidas com a fase emergencial.
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