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Três meses após vetar Coronavac de Doria, Governo Bolsonaro anuncia compra do imunizante e acelera corrida da vacinação

Ministério da Saúde compra 100 milhões de dose do instituto paulista, desenvolvido com laboratório chinês, e promete começar a aplicá-la dia 20. Palácio dos Bandeirantes não esclarece se compra muda cronograma de São Paulo

O ministro Eduardo Pazuello durante cerimônia no Planalto.
O ministro Eduardo Pazuello durante cerimônia no Planalto.ADRIANO MACHADO (Reuters)

No dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 200.000 mortes em decorrência da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro intensificou uma disputa com o seu ex-aliado e agora adversário político, o governador paulista João Doria (PSDB), na corrida por quem vacinará primeiro a população contra o novo coronavírus. O Ministério da Saúde anunciou que pretende iniciar a vacinação de grupos prioritários do Brasil a partir do próximo dia 20, quando o plano paulista fala em vacinar a partir do dia 25. Por outro lado, cedeu. Após uma intensa campanha do presidente contra a Coronavac, a vacina desenvolvida por um laboratório chinês em parceira com o Governo paulista, o Ministério da Saúde informou que assinou um contrato com o Instituto Butantan, que está à frente do imunizante no Brasil, para adquirir todas as 100 milhões de doses que o órgão produzir.

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FILE - In this Monday, Dec. 21, 2020 file photo, under the watchful eye of Prof. Dr. Iftahar Koksal, left, nurse Arzu Yildirim, center, administers a dose of the CoronaVac vaccine, made by Sinovac, currently on phase III clinical trials at Acibadem Hospital in Istanbul. The experimental COVID-19 vaccine developed by the Chinese biopharmaceutical company is 91.25% effective, a Turkish health official said on Thursday, Dec. 24. The efficacy rate announced by Turkey could not be immediately verified independently. Turkey, which has has among the worst infection rates in the world. has signed a deal for 50 million doses of the vaccine. (AP Photo/Emrah Gurel, File)
Coronavac atinge 78% de eficácia em testes no Brasil, segundo o Governo de São Paulo

Se concretizada a promessa, a gestão Bolsonaro iniciaria a vacinação cinco dias antes do previsto inicialmente por Doria em São Paulo, que nesta quinta-feira, anunciou, ainda que sem detalhes, que a Coronavac apresentou 78% de eficácia em um estudo com mais de 12.000 voluntários. Trâmites burocráticos, como a apresentação de um pedido de uso do imunizante e sua aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da incerteza sobre a data exata da chegada de 2 milhões de doses adquiridas pelo Ministério da Saúde junto a um laboratório sediado na Índia, vinculado à empresa AstraZeneca, podem postergar os planos da gestão Bolsonaro para 10 de fevereiro ou para as primeiras semanas de março.

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O contrato para adquirir toda a produção do Butantan só foi possível por conta de uma medida provisória publicada na quarta-feira em que permite que sejam firmados acordos antes mesmo da aprovação da vacina pela Anvisa. O anúncio pegou de surpresa até políticos vinculados à gestão Doria. “Parece uma corrida em que estamos sendo sabotados. Engatamos a quarta marcha, pronto para ganhar mais velocidade, quando o Governo engata a primeira e leva todo nosso estoque de vacinas. Fomos pegos de surpresa”, disse à reportagem um político com acesso ao governador.

Doria, que era publicitário antes de ser político, resolveu se vangloriar do acordo. “O que nós mais desejamos é que a vacina do Butantan atenda todo o Brasil”, disse em nota e vídeo distribuído por sua assessoria de imprensa. Ele é um dos potenciais candidatos à sucessão presidencial de 2022. Ex-aliado de Bolsonaro, tenta agregar partidos de centro-direita para substituir o atual ocupante do gabinete principal do Palácio do Planalto.

Em outubro, quando veio à tona que o Ministério da Saúde havia assinado um protocolo de intenções para aquisição da vacina do Butantan, o presidente Bolsonaro rapidamente desautorizou a compra. Disse ele em uma rede social: “A vacina chinesa de João Doria, qualquer vacina antes de ser disponibilizada à população, deve ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Minha decisão é a de não adquirir a referida vacina.” Ainda fez com que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, participasse com ele de uma transmissão ao vivo dizendo que o presidente era quem mandava.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro fez uma nova live, em seus perfis, mas não explicou a razão de mudar de opinião sobre a vacina produzida pelo Butantan. Apenas reforçou sua contrariedade sobre a obrigatoriedade da vacina. Disse que as vacinas usadas atualmente são em caráter experimental. E que, por esse motivo, não poderiam ser obrigatórias. “Não fazendo campanha contra a vacina, nem a favor. Isso é uma questão de conscientização”, afirmou na transmissão.

Conforme o ministro da Saúde anunciou em entrevista coletiva, o planejamento é que ao longo de 2021 o Governo disponibilize cerca de 345 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. Seriam 210 milhões produzidas pela Fiocruz/AstraZeneca, 100 milhões da Butantan/Sinovac, 42 milhões por meio do consórcio internacional Covax Facility e mais 2 milhões importadas de um laboratório da AstraZeneca. A ideia inicial é que, assim que forem aprovadas pela Anvisa, sejam usadas 8 milhões de vacinas. Os primeiros a serem vacinados seriam profissionais que atuam na linha de frente da saúde e grupos de risco, como idosos com mais de 80 anos e pessoas com comorbidades.

Segundo Pazuello, a distribuição da vacina será equânime e proporcional a todos os Estados. Procurado, o Instituto Butantan confirmou a assinatura do acordo, disse que ele reforça uma parceria de mais de 30 anos que tem com o Governo e que a distribuição do imunizante beneficiará todos os Estados, inclusive São Paulo. O Governo paulista não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre eventuais mudanças no cronograma de vacinação.

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