Doria amplia rede de testes da vacina chinesa, mas pode ter que lidar com gargalo de voluntários
Governador de São Paulo prometeu ter finalizado a última etapa dos testes em dezembro, mas por enquanto nem a metade do total de voluntários já recebeu uma dose da medicação
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta sexta-feira a ampliação do número de centros de pesquisa que participam da terceira —e última— fase de testes da vacina Coronavac, contra o novo coronavírus. A iniciativa é fruto de uma parceria com a empresa chinesa Sinovac Biotech e o Instituto Butantan. Agora serão 16 unidades envolvidas no procedimento, ante as 12 que já vinham trabalhando no medicamento. O aumento no número de centros tem um objetivo: esta semana o Governo do tucano apostou alto, e anunciou que “até dezembro” o Butantan receberá 46 milhões de doses da vacina, já testada e aprovada na China, onde já está sendo usada em uma campanha de vacinação emergencial desde julho.
Caso a Coronavac seja considerada eficaz após os testes realizados até dezembro, será registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cujo aval é necessário para que se realize uma campanha de vacinação no Brasil. Doria também informou um acréscimo no número de voluntários para estes testes finais, de 9.000 (dos quais apenas 6.000 já receberam uma dose do medicamento) para 13.000. Esta ampliação do número de voluntários não é vista como um empecilho para o Governo. Apesar de não ter alcançado ainda sequer a metade do total de testes previstos, a gestão Doria mantém o prazo para a finalização desta última etapa. “Esses centros vão acelerar a realização desse estudo de fase três. É importante, essa ampliação ajuda na obtenção dos resultados”, disse Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan.
Mas faltando pouco mais de dois meses para o prazo estipulado por Doria, os pesquisadores envolvidos se veem às voltas com um desafio logístico. “A nossa expectativa e da sociedade é a de que teremos uma vacina pronta para dezembro”, afirma Fábio Leal, médico infectologista e diretor de pesquisa da Universidade de São Caetano do Sul, um dos centros de teste da Coronavac. “Para isso precisamos incluir mais gente no estudo em um prazo curto. Isso exige um esforço tremendo especialmente dos profissionais de saúde de que precisamos como voluntários”, afirma.
O temor entre os pesquisadores e médicos é de que se instaure um clima de já ganhou, como se o medicamento já estivesse pronto para ser distribuído em dezembro e não houvesse mais a necessidade de se voluntariar. Leal lembra que um dos possíveis estímulos para quem participa dos testes (ainda que receba o placebo, uma substância inerte, sem propriedades de imunização, usado para ter um grupo de controle) é a certeza de que, após aprovada a vacina, serão os primeiros a recebê-la.
A aprovação da Coronavac será, além de um grande feito de saúde pública, uma enorme vitória política para Doria, em um cenário no qual vários países correm contra o tempo para produzir uma vacina viável, eficiente e segura, garantindo a retomada plena das atividades econômicas e um breque na pandemia. Mesmo com os números gerais de casos, óbitos e internações pela covid-19 estarem em queda no Estado, boa parte da população ainda está em quarentena, e vários setores não retomaram totalmente as atividades. Uma melhora dos indicadores econômicos neste final de ano e no início de 2021 como consequência da vacina seria um trunfo para o governador, que nunca escondeu suas pretensões de disputar o Palácio do Planalto.
No Brasil esta busca pela imunidade e pelas vacinas assumiu feições geopolíticas, tendo em vista o clima de polarização vigente. O presidente Jair Bolsonaro é entusiasta da cloroquina (medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19) e também da vacina de Oxford, desenvolvida pela universidade de mesmo nome no Reino Unido, ainda em fase de testes. Ele defendeu esta opção por “não ser daquele país lá”, conforme se referiu de forma velada à China em uma de suas lives. Alinhado com o líder americano Donald Trump, o mandatário brasileiro —e seus filhos— já protagonizaram diversos episódios xenófobos contra o país asiático, o maior parceiro comercial do país. Bolsonario e Doria romperam após as eleições de 2018, e trocaram uma série de acusações com relação à condução do combate à pandemia.
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