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Guedes: “China é aquele cara que você sabe que tem que aguentar”

Ministro da Economia joga no colo de gigante asiático responsabilidade por reconstrução econômica global. Diz que Banco do Brasil é “caso pronto de privatização”

Ministro da Economia, Paulo Guedes, no dia 7 de maio em Brasília.
Ministro da Economia, Paulo Guedes, no dia 7 de maio em Brasília.ADRIANO MACHADO (Reuters)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu em reunião ministerial realizada em 22 de abril que a China “deveria financiar um Plano Marshall para ajudar todo mundo que foi atingido” pela pandemia do coronavírus, dando a entender que o país asiático era o responsável pela crise sanitária. O vídeo do encontro foi divulgado nesta sexta-feira, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello retirar o sigilo das imagens, como parte de um inquérito ―o decano do STF preservou apenas trechos que poderiam ameaçar a soberania nacional, como menções a países como a própria China ou o Paraguai. Guedes também defendeu o comércio com o gigante asiático apesar de diferenças “ideológicas”. As menções à China foram feitas em um momento de tensão nas relações bilaterais entre os países: em mais de uma ocasião o Governo se viu imerso em incêndios diplomáticos com a China após os filhos do presidente ou ministros do Planalto postarem nas redes sociais comentários racistas contra o país asiático.

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Reprodução da transcrição da reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe de Governo.
A íntegra da transcrição da reunião entre Bolsonaro e os ministros,
AME667. BRASILIA (BRASIL), 06/04/2020.- Vista de un hombre con tapabocas pasando frente al Ministerio de Salud, este lunes en Brasilia (Brasil). El Ministerio de Salud actualizó los números de coronavirus en Brasil, actualmente 553 muertes y 12,056 casos confirmados de coronavirus. Los datos, que representan un aumento de 67 fallecidos y de 926 casos confirmados en relación a la víspera, fueron presentados en una rueda de prensa por cinco viceministros del Gobierno, que este lunes sustituyeron a los titulares de sus despachos, que hasta ahora se ocupaban de presentar diariamente los balances. EFE/ Joédson Alves
Provocações à China geram apreensão em plena pandemia e podem cobrar ‘desconto’ em exportações do Brasil
O ministro Celso de Mello durante sessão do STF em 2019.
Celso de Mello retira sigilo de vídeo de reunião onde Bolsonaro menciona trocas na “segurança” para proteger família

Apesar das diferenças “geopolíticas” entre Brasil e China, Guedes defendeu a manutenção de boas relações com o parceiro comercial por razões econômicas. “As exportações tão seguindo. A China é aquele cara que cê sabe que cê tem que aguentar, porque pra vocês terem uma ideia, pra cada um dólar que o Brasil exporta pros Estados Unidos, exporta três pra China”, afirmou o ministro. “Cê sabe que geopoliticamente cê tá do lado de cá. Agora, cê sabe o seguinte, não deixa jogar fora aquilo ali não porque aquilo ali é comida nossa. Nós estamos exportando pra aqueles caras”.

Com o país mergulhado em uma grave crise econômica que já se desenhava antes da pandemia, Guedes faz uma avaliação positiva do cenário pré-coronavírus: “Nós estávamos indo numa direção norte, com as reformas estruturantes e, de repente, em três semanas e meia, nós fomos pro sul”. Ele também defendeu o resgate de grandes empresas que sofrem com a crise. “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, disse.

Guedes afirmou que a iniciativa do programa Pró-Brasil ― de recuperação da economia pós-pandemia, que pretende investir em infraestrutura ― era bem-vinda, mas que o Governo não podia se iludir. Ele pediu investimentos privados para a retomada da atividade, rechaçando um caminho parecido ao da política econômica dos Governos do PT, com investimento público. Na avaliação do ministro, se o Governo se afastar do “caminho desenvolvimentista” e conter o excesso dos gastos públicos, as chances de reeleição de Jair Bolsonaro seriam maiores. “Não pode ministro para querer ter um papel preponderante esse ano destruir a candidatura do presidente, que vai ser reeleito se nós seguirmos o plano das reformas estruturantes originais”, disse. Para Guedes, a economia estagnou através do excesso de gastos públicos. “Então achar agora que você pode se levantar pelo suspensório, como é que um Governo quebrado vai investir, vai fazer grandes investimentos públicos? Tarcísio [Freitas, ministro da Infraestrutura] sabe disso, conversamos sempre. Tarcísio sabe”, disse.

O ministro disse ainda ser “bonito” o discurso de redução de desigualdades regionais do ministro Rogério Marinho (do Desenvolvimento Regional) ―defensor dos investimentos públicos―, mas alertou que essa iniciativa levaria o Governo a trilhar um destino parecido ao da ex-presidenta Dilma Rousseff. “Se a gente quiser acabar igual a Dilma, a gente segue esse caminho”, completou.

“O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”

Durante o encontro ministerial, o chefe da pasta de Economia também defendeu a privatização do Banco do Brasil, mas Bolsonaro desconversou e deu a entender que só trataria da questão após as eleições de 2022. Segundo Guedes, o BB “é um caso pronto de privatização”. "E a gente não está dando esse passo. Senhor [Bolsonaro] já notou que o BNDES e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. O Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, disse ao presidente.

Mais adiante, o ministro passou a palavra ao presidente do banco, Rubem de Freitas Novaes, e pediu para que ele confessasse que também gostaria de privatizar o Banco do Brasil. Bolsonaro respondeu então: “Faz assim: só em vinte e três você confessa, agora não”. O presidente do banco expôs então seus argumentos para a privatização do banco, e Bolsonaro voltou a dizer: “Isso aí. .. isso aí só se discute, só se fala isso em vinte e três, tá?”, concluiu.

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