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Número de viagens canceladas chega a 85%, e entidade já fala em falência de empresas do setor

Demanda por voos domésticos e internacionais também teve queda por conta do coronavírus. Para Abav, é a “maior crise vivenciada pelo setor na era atual”

Gil Alessi
Turistas caminham em frente ao coliseu, em Roma, com máscaras para proteção.


12/03/2020 ONLY FOR USE IN SPAIN
Turistas caminham em frente ao coliseu, em Roma, com máscaras para proteção. 12/03/2020 ONLY FOR USE IN SPAINMatteo Trevisan/ZUMA Wire/dpa (Europa Press)

A pandemia de coronavírus começa a ter impactos concretos no setor de turismo no Brasil, responsável por uma receita de mais de 150 bilhões de dólares (cerca de 750 bilhões de reais), segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo. Nesta segunda-feira, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que as suas associadas já registram, em média, “queda de 30% na demanda por voos domésticos, e redução de 50% nas viagens internacionais, em relação ao mesmo período do ano passado”. A Gol e a Latam, gigantes do setor, fazem parte da Associação, que já havia alertado na semana passada para a “grave a crise econômica que afeta a aviação comercial brasileira neste cenário de pandemia do coronavírus”. Em nota a Latam informou uma redução de 70% em suas operações, sendo 90% nos voos internacionais e 40% em viagens internas. A empresa “possui mais de 42.000 funcionários e opera aproximadamente 1.400 vôos diários”, segundo divulgado em nota da companhia.

Até o momento, o setor de aviação comercial não sofreu nenhuma restrição no sentido de proibição de voos. Com relação às viagens internacionais para países onde existem muitos casos do coronavírus, como China e Itália, o Ministério Público Federal emitiu uma recomendação para a Agência Nacional de Aviação Civil pedindo para que os passageiros possam desmarcar suas passagens sem pagamento de multas. A Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) informou que está discutindo com os responsáveis pela emissão de passagens e vouchers de hospedagem para que facilitem a remarcação e cancelamento sem multas para os clientes “que não se sentirem confortáveis para viajar neste momento”. O Airbnb, uma das maiores plataformas de reservas para turismo do mundo, informou que “as reservas de acomodações feitas até 14 de março de 2020, com data de check-in entre 14 de março de 2020 e 14 de abril de 2020, estão cobertas e podem ser canceladas antes do check-in”, sem cobrança de taxas e com reembolso integral.

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Workers disinfect handrails on a train as a precautionary measure against the spread of the new coronavirus, COVID-19, at Rio de Janeiro's Central train station, in Brazil, on March 16, 2020. (Photo by Carl DE SOUZA / AFP)
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O impacto no setor turístico não se faz sentir apenas no Brasil, como pode levar à quebra de algumas pequenas empresas do ramo. A Abav afirmou que esta é a “maior crise vivenciada pelo setor na era atual” e disse prever “um altíssimo índice de falências entre as empresas relacionadas ao turismo, resultando em milhares de pessoas desempregadas e impactos diretos e indiretos no PIB brasileiro”. Em nota, a entidade divulgou um balanço parcial que aponta para uma taxa de cancelamento de viagens de 85% no mês de março. “Os impactos imediatos já preocupam a sustentabilidade dos negócios, uma vez que não há previsões de novos faturamentos”, diz o texto. “O setor do turismo é um dos primeiros a sentir os impactos causados pelo fechamento de fronteiras [medida adotada por diversos países europeus e latino-americanos] e consequente cancelamento de viagens, encontrando-se totalmente paralisado”.

Para tentar atenuar o impacto devastador que a pandemia começa a ter no setor, a Abav solicitou ao Ministério do Turismo algumas medidas para permitir a sobrevivência do setor, como a disponibilização de linha de crédito especial na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil para as empresas de turismo, e a liberação do saque do FGTS para funcionários de empresas que exerçam atividade turística, dentre outros pontos. Ainda não há uma resposta oficial do Governo com relação a estas demandas. Em entrevista para a CNN Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse não acreditar que é a responsabilidade do Governo ajudar diretamente essas empresas por meio de subsídios ou desonerações. “Companhias aéreas, quando o tempo é bom, ganham 1 bilhão, 2 bilhões, 3 bilhões. Mas quando o tempo é ruim para elas, precisam correr para os recursos públicos?", disse o ministro.

Governo recua e libera cruzeiros

Na última sexta-feira o Ministério da Saúde havia proibido a partida e chegada de novos cruzeiros em toda a costa nacional. “Enquanto perdurar a declaração de emergência, os cruzeiros turísticos estarão interrompidos”, afirmou o secretário de vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira. “Não dá para aceitarmos ou permitirmos uma concentração de pessoas que vêm do exterior, que saem de outras partes do Brasil, em um navio, porque os cruzeiros turísticos historicamente são ambientes de confinamento. Muitos deles têm turistas internacionais”, disse Oliveira. A medida não durou sequer um dia. No sábado o Governo publicou a revogação da determinação anterior, liberando as embarcações turísticas.

Agora caberá às autoridades municipais e estaduais, juntamente com os órgãos de Saúde locais, autorizar a partida ou desembarque de navios de cruzeiro nos portos brasileiros. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o recuo ocorreu por pressão do Ministério do Turismo e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, preocupados com a crise no setor. A recomendação inicial para que todo viajante internacional ficasse confinado em casa por até sete dias para que seu estado de saúde fosse avaliado também foi revisada.

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