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Morre Gustavo Bebianno, homem-forte da campanha presidencial de Bolsonaro

Ex-secretário-geral da Presidência da República sofreu um infarto às 4h deste sábado, segundo pessoas próximas. Ele tinha 56 anos e era cotado pelo PSDB para disputar a prefeitura do Rio

O ex-ministro Gustavo Bebianno, em novembro de 2018.
O ex-ministro Gustavo Bebianno, em novembro de 2018.José Cruz (Agência Brasil )

Morreu na madrugada deste sábado o ex-ministro Gustavo Bebianno, que coordenou a campanha presidencial de Jair Bolsonaro em 2018 e ocupou durante os primeiros meses de mandato a Secretaria-Geral da Presidência da República. Bebianno tinha 56 anos e se encontrava em seu sítio em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, quando sofreu, às quatro horas da manhã, um infarto fulminante. A informação foi confirmada por familiares e amigos do advogado, que deixa esposa e dois filhos. O empresário Paulo Marinho, bastante próximo ao ex-ministro e outra figura central da campanha de Bolsonaro, informou que o corpo será velado em uma capela do próprio sítio. De acordo com a revista Veja, o governador Wilson Witzel pediu que a Polícia Civil fluminense investigue as circunstâncias da morte.

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Aliados de Bebianno levantaram suspeitas sobre a morte repentina do ex-secretário, que era um desafeto do clã Bolsonaro. Ao site Congresso em Foco, o vice-presidente do PSL, o deputado Junior Bozzella, defendeu que as circunstâncias sejam apuradas. “Quando se trata de política, poder, interesse, tudo tem de ser analisado. Crimes políticos não são raridade no Brasil. Quando há divergências emblemáticas, como no caso dele, é natural que terceiros queiram aprofundar as circunstâncias da morte”, afirmou. Já o deputado federal Alexandre Frota afirmou que o ex-secretário morreu de “desgosto”. “Morre com ele muitas verdades. Ele sabia de muita coisa que agora vai embora com ele”, disse. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, por sua vez, lamentou o falecimento de Bebianno em suas redes sociais, minimizando as rusgas entre o Governo e o político. "Eventualmente, a política nos afasta, mas não apaga jamais o bom combate que travamos juntos”, publicou em suas redes.

Bebianno era cotado para concorrer à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais deste ano. Sua trajetória política começara seis anos antes, quando se aproximou de Bolsonaro, em 2014, para oferecer de forma gratuita seus serviços de advogado ao então deputado federal, que já pretendia se candidatar ao Planalto. Em 2018 assumiu a presidência do Partido Social Liberal (PSL) e a coordenação da campanha que levou o ultradireitista ao comando do país. A proximidade com o núcleo bolsonarista resultou em sua nomeação para a Secretaria-Geral da Presidência da República, órgão com status de ministério.

Contudo, essa proximidade se encerrou de forma abrupta pouco tempo depois, em fevereiro de 2019. Na ocasião, o jornal Folha de S. Paulo revelara que ao menos 400.000 reais foram repassados para o fundo partidário do PSL para financiar candidaturas de fachada —isto é, pessoas que, sem a intenção de concorrer, emprestam seus nomes a partidos para desviar recursos do fundo eleitoral que servirão a outros candidatos. O caso ficou conhecido como “Laranjal do PSL”.

Poucos dias depois, Bebianno, responsável formal pela movimentação de verbas de campanha, afirmou que não havia crise e que conversara com Bolsonaro por telefone três vezes ―o presidente estava internado após passar por uma cirurgia. Foi quando o vereador Carlos Bolsonaro, o filho zero dois do presidente, interferiu diretamente na situação e garantiu nas redes sociais que Bebianno estava mentindo ao dizer que se comunicara com seu pai.

O próprio presidente compartilhou em suas redes sociais a mensagem de Carlos, o que confirmou o processo de fritura acelerada de Bebianno no Governo. A troca de áudios entre o advogado e o presidente foram divulgados na imprensa, confirmando a versão Bebianno. Poucos dias após a revelação da Folha, o homem-forte da campanha bolsonarista deixou o Governo dizendo que precisava “pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro”.

Em sua última entrevista, que aconteceu no início de março no programa Roda Viva, da TV Cultura, Bebianno afirmou temer por uma “ruptura institucional” no Brasil. “A minha grande crítica é que o presidente está atrapalhando (...) Me assusta, o presidente eleito recentemente e só pensar em reeleição. Se você tiver o cuidado de pegar a agenda presidencial, você vai ver que ele só pensa em reeleição, reeleição... Ele praticamente não trabalha pelo Brasil. O risco é esse, a começar pelos filhos. AI-5 pra cá e pra lá, críticas infundadas a outros poderes...”.

Bebianno também relatou na entrevista que Carlos Bolsonaro articulou a formação de uma Abin (principal órgão de inteligência do país) paralela no Planalto e buscou interferir na nomeação do diretor-geral do órgão. Nos bastidores da entrevista, admitiu ao portal UOL que temia revelar tudo o que sabia sobre a campanha de 2018 e atos do Governo Bolsonaro. Suas últimas palavras foram publicadas nesta sexta-feira pela coluna Painel, da Folha. “Todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas. O Brasil ainda vai enxergar quem são Bolsonaro e seus filhotes”, disse ele, em referência ao suposto processo de fritura do general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo.

Ainda no ano passado, Bebianno se filiou ao PSDB, reformulado pelo governador de São Paulo João Doria. Era cotado pelo empresário e amigo Paulo Marinho para concorrer à prefeitura do Rio de Janeiro neste ano. "A cidade do Rio perdeu um candidato que iria enriquecer o debate eleitoral, e eu perdi um irmão. O Gustavo morreu de tristeza por tudo que ele passou. Agora é hora de confortar a esposa, os filhos e os amigos”, afirmou Marinho, que comanda o partido no Rio. “Seu falecimento surpreende a todos. O Rio perde, o Brasil perde. Bebianno tinha grande entusiasmo pela vida e em trabalhar por um País melhor. Meus sentimentos aos familiares e amigos nesse momento de dor”, afirmou Doria por meio de seu perfil no Twitter.

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