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Bolsonaro demite Gustavo Bebianno, mas o elogia em vídeo, na tentativa de atenuar crise

Nota de demissão foi lida por porta-voz do Planalto nesta segunda. Desfecho sem sequelas depende de reação de ex-ministro e reverberação na base do Congresso

O ministro Bebianno, no dia 2 de janeiro.
O ministro Bebianno, no dia 2 de janeiro.Marcos Corrêa (Presidência)

Chegou ao fim nesta segunda-feira a lenta fervura de Gustavo Bebianno no Governo de Jair Bolsonaro (PSL). A partir de amanhã, o advogado deixará oficialmente o ministério da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ele é a primeira baixa no primeiro escalão desta gestão. Depois de quase uma semana sob fortes ataques, o ministro sai pela porta dos fundos do Palácio do Planalto – demitido sob a suspeita de ter patrocinado um esquema de candidaturas laranjas do PSL no ano passado, quando presidiu interinamente a legenda a pedido de Bolsonaro, e após uma queda de braço com Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, que criticou publicamente Bebianno e foi endossado pelo pai. O anúncio de sua demissão foi feito pelo porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros.

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Após ler uma protocolar nota sobre a exoneração, o porta-voz disse que o motivo da saída do ministro era de "foro íntimo" do chefe do Executivo. Ao ser indagado sobre a demora em demitir Bebianno, disse: “Nosso presidente demandou o tempo necessário para a consecução de sua decisão.” Momentos depois, em vídeo divulgado por sua assessoria (mas não até agora em suas redes sociais), Bolsonaro agradeceu os serviços prestados por Bebianno no período eleitoral e durante os 48 dias em que esteve no Governo. Disse ainda que, desde a semana passada, “diferentes pontos de vistas, sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação”. Alegou que pode ter “havido incompreensões e questões mal-entendidas de parte a parte” e desejou sorte ao seu antigo aliado.

O presidente não detalhou quais seriam os desentendimentos ou interpretações equivocadas, o que foi lido como uma tentativa de evitar que Bebianno, de 54 anos, se torne um homem-bomba, já que, pela proximidade com o presidente e por ter coordenado toda a sua campanha eleitoral, teve acesso a informações que poucos tiveram.

O sucessor na Secretaria-Geral será o general Floriano Peixoto, o antigo número dois do órgão. Com a presença dele na pasta, apenas um dos quatro ministérios sediados no Palácio do Planalto passará a ser ocupado por alguém que não seja militar, a Casa Civil de Onyx Lorenzoni (DEM-RS). As outras pastas são comandadas por generais da reserva. O Gabinete de Segurança Institucional, por Augusto Heleno, e a Secretaria de Governo, por Carlos Alberto Santos Cruz. Agora, 8 dos 22 ministérios de Bolsonaro são ocupados por militares.

Influência da família e sequelas políticas

O desfecho com a demissão de Bebianno é uma tentativa de por fim aos ruídos no círculo mais íntimo da presidência enquanto o Governo tenta levar adiante agendas que dependem do Congresso, como a reforma da Previdência, cujo projeto deve ser enviado na quarta-feira. No entanto, os dias de idas e vindas e as mensagens públicas –e mais ou menos públicas– trocadas entre os protagonistas da novela sinalizam que pode haver mais capítulos.

A fritura de Bebianno começou na quarta-feira passada, quando o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), disse que o então ministro havia mentido que ele tinha conversado três vezes com seu pai pelo telefone para tratar das denúncias sobre candidaturas laranjas do PSL em Pernambuco. Reportagens da Folha de S. Paulo publicadas nas últimas duas semanas mostraram indícios de que o partido do presidente lançou candidaturas femininas de fachada apenas para atingir a cota de 30% de mulheres candidatas. Uma delas teria recebido 400.000 reais de fundo partidário e recebido apenas 274 votos.

Desde que o presidente sinalizou que demitiria Bebianno, o então ministro passou a fazer ameaças. Dizia que não pediria demissão e que não cairia sozinho. Por ora, Bebianno ainda não se manifestou sobre sua exoneração. Para amenizar eventuais críticas e para evitar que seu antigo assessor, o presidente chegou a oferecer dois cargos a ele: conselheiro na estatal Itaipu ou embaixador do Brasil em Roma. O primeiro cargo foi refutado por Bebianno, apesar de receber quase três vezes o salário de um ministro. O segundo estava sendo analisado. Até a conclusão dessa reportagem, não houve o anúncio sobre decisão do ex-ministro. Quando questionado sobre essa oferta, o porta-voz presidencial disse desconhecer essa informação.

Otávio Rêgo Barros também não soube dizer se Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), o ministro do Turismo, que é apontado como patrocinador de candidaturas laranjas em Minas Gerais, também teria o mesmo fim que Bebianno. Nas redes sociais, apoiadores do presidente e família promoviam uma hashtag de apoio para sinalizar que a crise estava debelada.

Agora, resta saber se haverá sequelas da decisão de Bolsonaro, para além da reação do ex-ministro. Na semana passada, tanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, como a ala militar do Governo defenderam Bebianno. No caso de Maia, foi explícita à crítica sobre a influência do filho de Bolsonaro nos rumos do Governo, e nos bastidores os militares avaliavam o mesmo. "(É um) risco muito grande pra um Governo que precisa analisar a liderança, unidade, porque vai ter desafios importantes começando pela Previdência", disse Maia ao G1.

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