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Câmara dos EUA avança no processo de impeachment de Trump

Presidenta da Casa, Nancy Pelosi, ordena redação da acusação formal contra presidente. Democratas esperam votar impedimento antes do Natal

Amanda Mars

Haverá uma acusação formal contra o presidente dos Estados Unidos e, com toda probabilidade, julgamento. A presidenta da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, se dirigiu ao país nesta quinta-feira para anunciar que o Congresso começará a preparar as acusações contra Donald Trump pelo escândalo da Ucrânia. Em tom solene, Pelosi afirmou que havia provas suficientes do abuso de poder por parte do mandatário republicano e, apelando à necessidade de salvaguardar a Constituição e a visão dos pais fundadores, deu outro empurrão ao quarto processo de impeachment da história do país.

Nancy Pelosi nesta quinta-feira, no Capitólio.
Nancy Pelosi nesta quinta-feira, no Capitólio.CHIP SOMODEVILLA (getty)
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“O que está em jogo é a nossa democracia, o presidente não nos dá outra opção a não ser agir”, disse Pelosi em uma breve declaração às nove da manhã. “O presidente –continuou– abusou de seu poder, prejudicando nossa segurança nacional e ameaçando a integridade de nossas eleições. Essas ações são um desafio à visão de nossos fundadores e ao juramento de seu cargo para preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos.”

Pelosi, a terceira autoridade da nação e a democrata mais poderosa de Washington, usou um tom solene para anunciar a nova fase de um processo tão extraordinário como este, em relação ao qual ela havia mostrado muito receio há dois anos, quando a investigação que envolvia Trump era a relacionada à trama russa.

Tudo mudou em setembro. A Câmara dos Representantes, graças à maioria democrata, abriu um inquérito prévio ao impeachment no dia 24 daquele mês, com a revelação das manobras do presidente para fazer com que a Justiça da Ucrânia anunciasse investigações sobre seu adversário político, Joe Biden, e o filho deste, Hunter, que era pago pela companhia de gás chamada Burisma enquanto o pai era vice-presidente. A investigação procura esclarecer se o republicano usou, além disso, ajudas militares e uma reunião bilateral com o presidente Volodimir Zelenski como forma de pressão para conseguir uma investigação sobre os Biden e outros democratas que o beneficiariam eleitoralmente.

Na manhã desta quinta-feira, recém-chegado de uma turbulenta cúpula da Otan em Londres, o presidente havia pedido aos democratas um julgamento “rápido” para evitar que o que considera uma “caça às bruxas” demorasse muito. “Se têm de me fazer um impeachment, façam-no rápido, de forma que tenhamos um julgamento rápido no Senado e nosso país possa voltar ao trabalho”, disse o presidente em sua conta no Twitter.

Dias difíceis estão chegando aos Estados Unidos. O processo será rápido, todas as partes parecem estar de acordo, mas não por isso menos tribal e divisório. A tensão era palpável nesta quinta-feira no Capitólio, quando Nancy Pelosi, em uma entrevista coletiva após o anúncio, se voltou contra a pergunta crua de um jornalista. “A senhora odeia o presidente?”, espetou-lhe quando estava saindo da sala. Irritada, a presidenta da Câmara voltou ao púlpito para responder: “Eu não odeio ninguém. Acredito que o presidente é um covarde quando se trata de ajudar as crianças que temem a violência das armas; acredito que é cruel quando não ajuda os dreamers, que se instalou na negação da crise climática, mas isso é para as eleições”, disse, e continuou: “O de hoje é sobre a Constituição dos Estados Unidos e a violação de seu juramento e, como católica, me incomoda que ele use a palavra ódio em uma frase que tem a ver comigo. Não odeio ninguém, cresci em um lar cheio de amor e rezo pelo presidente o tempo todo. Não brinque comigo quando se trata de palavras como essa”.

O procedimento avançou pouco dois meses depois do início da investigação no Congresso. Pelosi encarregou ao presidente do Comitê de Justiça da Câmara, Jerrold Nadler, o mandato da Câmara para a redação dos artigos contra o mandatário. O Comitê de Inteligência, onde a investigação começou, concluiu em seu relatório final que Trump abusou de seu poder com a Ucrânia, mas a Câmara baixa também pode acusá-lo de obstrução de Justiça por ter tentado torpedear a investigação (negando depoimentos e a entrega de documentos).

O calendário oficioso com o qual os democratas trabalham determina para antes do Natal a votação de possíveis acusações contra o presidente no plenário da Câmara dos Representantes, onde a acusação prosseguirá com toda probabilidade, graças à maioria democrata. A deliberação em si e a votação final do veredicto, no entanto, acontecerão posteriormente, em janeiro, no Senado, onde a maioria republicana absolverá o presidente, exceto em caso de uma drástica reviravolta no roteiro. Até agora, todos os membros desse partido cerraram fileiras em torno do presidente.

Biden é o pré-candidato democrata mais bem colocado nas pesquisas de opinião para disputar com Trump as eleições presidenciais de novembro de 2020 e tentar tirá-lo da Casa Branca, por isso uma tentativa de promover informações negativas graças à Justiça ucraniana contra ele está sendo considerada um pedido de ajuda a um poder estrangeiro em relação à campanha. Enquanto isso, os republicanos baseiam a defesa do presidente em que sua preocupação com um possível caso de corrupção era legítima, assim como as perguntas sobre uma possível interferência da Ucrânia nas eleições de 2016 para ajudar os democratas, uma teoria da conspiração que hoje carece de base.

Esta é a quarta vez que os Estados Unidos lançam um processo de impeachment, mas nenhuma das três anteriores terminou com a queda do presidente. Andrew Johnson, no século XIX, e Bill Clinton, nos anos noventa, saíram ilesos da votação no Senado, enquanto Richard Nixon renunciou em 1974 por causa do escândalo de Watergate, quando o caso ainda não havia passado ao veredito final na Câmara alta.

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