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Com premiê encurralado, Israel se encaminha para 3ª eleição neste ano

Centrista Gantz fracassa em sua tentativa de formar Governo e abre caminho para novo pleito. Situação se complica com indiciamento de seu rival, o conservador Netanyahu, por suborno e fraude

O primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, na quarta-feira no Parlamento.
O primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, na quarta-feira no Parlamento.GALI TIBBON (AFP)

“Estamos nos encaminhando para novas eleições na situação atual de bloqueio”, admitiu sem rodeios na quarta-feira o ex-ministro de Defesa israelense Avigdor Lieberman, o dirigente nacionalista laico a quem as urnas concederam em setembro a chave da governabilidade do Estado judeu. Nem o primeiro-ministro interino, o conservador Benjamin Netanyahu, nem o líder da oposição de centro-esquerda, Benny Gantz, que jogou a toalha na noite de quarta, conseguiram forjar uma coalizão com maioria suficiente no Knesset (Parlamento) dentro dos prazos previstos.

A contagem regressiva de três semanas para a convocação de um novo pleito legislativo, o terceiro em menos de um ano, começou à meia-noite desta quinta (hora local). “Nunca até agora a formação do Governo em Israel se encontrou em semelhante beco sem saída", admitia o colunista Ben Caspit nas páginas do jornal Maariv.

Netanyahu se negou a formar Governo com Gantz porque não tinha garantias de que seria o primeiro a ocupar o cargo de premiê, na qual ambos deveriam ser alternar. O líder do Likud procura se blindar das acusações por corrupção. Como chefe do Executivo, ele não é obrigado a renunciar após o procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, tê-lo indiciado por suborno e fraude em três casos de corrupção investigados pela polícia desde 2015. Com medida da Procuradoria, anunciada horas após da notícia da possibilidade novas eleições, Netanyahu se tornou o primeiro chefe de Governo na história do Estado judeu a ser acusado durante de suborno durante o cargo.

“Netanyahu põe seus interesses pessoais à frente”, advertiu Gantz ao anunciar sua renúncia a formar Governo, “mas a maioria do povo já vota por uma política que não é a sua”.

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Netanyahu, que encadeou à frente do Likud uma longa década de mandatos ininterruptos, foi o primeiro a abrir mão de tentar formar um Gabinete, um mês depois das eleições. Obstinou-se em manter a unidade de ação com o resto dos partidos de direita, contrapondo-se à opção de uma grande coalizão.

O presidente do Estado de Israel, Reuven Rivlin, entregou então a tarefa a Gantz, cabeça de lista da aliança centrista Azul e Branco. Quatro semanas depois, o prazo fixado nas leis fundamentais se esgotou sem que o ex-chefe do Exército tenha conseguido formar uma coalizão com as demais forças da oposição.

Israel vive há um ano numa permanente campanha eleitoral em que se sucederam duas eleições legislativas, em abril e em setembro, com resultados não concludentes. Sem que nenhum dos grandes partidos encontre uma fórmula viável de governabilidade, os 120 deputados do Knesset disporão agora de um período final de 21 dias para buscar um pacto político, o que parece improvável. A distância que separa aos líderes das duas grandes formações e a ambivalência de Lieberman, quem os considerou “culpados” do fracasso político, apontam um caminho que conduz às urnas.

Uma vez expirado o prazo para que 61 deputados possam propor um candidato a primeiro-ministro, a convocação eleitoral seria automática, com uma jornada de votações na primeira quinzena de março.

A fragmentação dos partidos e a polarização gerada entre os eleitores pelas políticas de Netanyahu se traduziram em um labirinto sem saídas no Knesset. Em setembro, a bancada direitista somou 55 deputados entre o Likud (32), os dois partidos ultraortodoxos (16) e a extrema direita (7). O bloco de centro-esquerda agrupou 54 parlamentares do Azul e Branco (33), trabalhistas (6), esquerda pacifista (5) e Lista Conjunta (13) de partidos da minoria árabe-israelense.

Os oito deputados do Israel Nossa Casa, o movimento laico de direita encabeçado por Lieberman, não contribuíram para resolver o impasse. Eles haviam proposto um Executivo de unidade nacional –a grande coalizão entre o Likud e o Azul e Branco– e vetaram qualquer acordo com os ultrarreligiosos (12% dos cidadãos), por rejeitarem o serviço militar, e com os árabes-israelenses (20% da população), aos quais descreveu como “quintas-colunas”.

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