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Nova eleição reproduz o bloqueio político em Israel

Empate técnico entre Benjamin Netanyahu e Benny Gantz, seu adversário centrista, pode levar a uma grande coalizão

Juan Carlos Sanz
O cabeça de lista da coligação Azul e Branco, Benny Gantz, deposita seu voto junto com a esposa nos arredores de Tel Aviv.
O cabeça de lista da coligação Azul e Branco, Benny Gantz, deposita seu voto junto com a esposa nos arredores de Tel Aviv.Amir Levy (Getty Images)

Após a segunda eleição neste ano, ocorrida nesta terça-feira, Israel manteve o bloqueio político que vive desde o início do ano. Com 92% das urnas apuradas, os resultados apontam para um empate virtual, segundo dados publicados pelo jornal Haaretz. O partido Likud (conservador), do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, obteve 32 deputados em um Knesset (Parlamento) de 120 cadeiras. É o mesmo número que o obtido pela coalizão Azul e Branco (centrista), liderada pelo ex-general Benny Gantz. A soma dos blocos ideológicos indicava até 56 assentos para a direita, o que priva Netanyahu da possibilidade de formar um Governo conservador homogêneo, enquanto a centro-esquerda obteve 55 lugares.

Avigdor Lieberman, ex-ministro da Defesa e paladino político dos judeus de origem russa, foi o verdadeiro vencedor das novas eleições, um pleito que ele próprio forçou ao se recusar a integrar seu partido, Israel Nossa Casa, a um novo executivo liderado por Netanyahu após as eleições legislativas de abril passado. Lieberman quase dobrou, com nove cadeiras, seus resultados de cinco meses atrás. Seu papel arbitral atribui a ele a chave da governança.

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Nas primeiras horas desta quarta-feira, Lieberman foi o primeiro a reivindicar um grande executivo de coalizão entre o Likud e o Azul e Branco, no qual seu partido pretende reservar uma cota de poder. "Nossa única opção é um Governo de unidade nacional com uma ampla base secular e liberal", disse ele à imprensa. Diante da opção de um Governo de coalizão, os líderes do grupo centrista, com o ex-general Gantz no comando, exigiram durante a campanha que Netanyahu, envolvido em denúncias de corrupção, partisse para dar lugar a outro líder conservador que não estivesse sob suspeita.

"Netanyahu sabe que fracassou no referendo sobre sua continuidade no poder, e os líderes do Likud acabarão se organizando à margem de seu líder", afirmou o analista político Emmanuel Navon após as eleições legislativas. Falando com um grupo de jornalistas, ele analisou os possíveis cenários após as eleições, relata Miriam Blanco. "O mais realista é que seja formado um gabinete de unidade", disse ele, "pois está claro o que os israelenses querem: um Governo centrista composto por pessoas em quem confiar".

Após os resultados, Netanyahu, que apostou o poder que concentra há uma década neste pleito, apareceu pela manhã diante de seus seguidores em um auditório semi-vazio em Tel Aviv. Afirmou ser necessário esperar a proclamação dos resultados finais antes de considerar as possibilidades de formação de Governo. Há cinco meses, quando ocorreu a primeira eleição, ele proclamou sua vitória em uma grande festa. "Vou tentar formar um Governo sionista forte", disse, alertando sobre o perigo de um "Governo anti-sionista" ser acordado.

"Cumprimos nossa missão, enquanto Netanyahu parece não ter sido bem-sucedido", comemorou o líder da oposição centrista quando os resultados das eleições começaram a ser anunciados. "Esperamos que o povo de Israel possa ter o Governo de unidade de que precisa", disse Gantz à rádio estatal depois de avisar que os resultados oficiais precisam ser aguardados. As extraordinárias medidas de controle da votação e o escrutínio agora adotado pelo Comitê Central Eleitoral, com o objetivo de evitar um eventual desafio por irregularidades na votação, estão atrasando a recontagem. O vínculo entre os dois grandes partidos e os blocos ideológicos é uma conquista para Gantz e seus associados, que fundaram no início do ano Azul e Branco.

A maioria do bloco partidário de direita que assumiu o poder em 2015 pelo terceiro mandato consecutivo e o quarto da carreira política de Netanyahu deixou de existir. Ao primeiro ministro, ainda no poder, só serviria formar uma coalizão de pelo menos 61 deputados. O apoio garantido por dois partidos ultra-ortodoxos —o Partido Unificado da Torá (oito assentos) e Shas, sefarditas (nove)— e a aliança Yamina (sete), da extrema-direita nacionalista e religiosa, são insuficientes.

“O mago da política, o amo das campanhas, o amigo de todos no Facebook sofreu um sério revés”, aponta no jornal Haaretz o comentarista Aluf Benn,  “Mas ele segue no poder e conta com todos os recursos do Estado em suas mãos”, ressalta. “Ainda tem algo a oferecer a possíveis desertores da oposição”, complementou. "Ninguém parece disposto a correr o risco de forçar a terceira eleição em Israel", diz o colunista Nahum Barnea, no Yedioth Ahronoth. "Talvez tenha chegado a hora [de Netanyahu] se despedir." No mesmo jornal, o de maior circulação em hebraico, a analista Sima Kadmon concorda que "em dez anos, a situação do primeiro-ministro nunca foi tão ruim". "As decisões que ele tomou na última semana da campanha mostram sua fraqueza", argumenta. "Ele parece disposto a fazer tudo, até mesmo travar uma guerra, contrariando a opinião do Exército, a fim de permanecer no poder e se livrar da acusação (por corrupção)."

Grande mobilização de vigilância contra a fraude

MIRIAM BLANCO

Os eleitores compareciam sem interrupção, ao meio-dia de ontem, à seção eleitoral de Hillel, no coração de Jerusalém, em um claro sinal de que a participação não cairia depois da repetição das legislativas cinco meses depois da eleição anterior. Emigrado a Israel em 2012, vindo da Itália juntamente com a família, o engenheiro Rafael M., de 77 anos, arriscava dizer depois de votar que Israel parecia se encaminhar para “um Governo de unidade nacional entre o Likud de Benjamin Netanyahu e o Azul e Branco de Benny Gantz diante do bloqueio político”.

Um rigoroso controle de acesso aos locais de votação foi a norma dessas eleições. A aplicação de severas medidas de segurança aconteceu depois da polêmica lei que o primeiro-ministro tentou aprovar no Parlamento antes das eleições para permitir gravar os eleitores em vídeo. Para enfrentar as suspeitas lançadas por Netanyahu, o Comitê Eleitoral Central enviou mais de 3.000 inspetores, a maioria equipada com câmeras, para documentar qualquer irregularidade em um esforço de transparência sem precedentes.

Essa situação acrescenta ainda mais incerteza nas legislativas fortemente dominadas pela relativa confiabilidade das pesquisas. O casal formado por Sergio e Renata, italianos radicados em Israel e sobreviventes do Holocausto, de 82 e 80 anos, respectivamente, reconheceu que não iria variar substancialmente o sentido do voto de cinco meses atrás. “Eu moro em Israel há 13 anos e sempre votei em Bibi (apelido familiar de Netanyahu) e desta vez não será diferente”, confessou com franqueza o primeiro, enquanto sua esposa admitia que votaria na extrema-direita da coalizão Yamina.

As eleições em Israel ultrapassam a eleição de um Parlamento. São um plebiscito sobre a continuidade do primeiro-ministro Netanyahu, e não em função de suas políticas, mas principalmente por causa das suspeitas de que cometeu fraude e suborno.

As ruas do centro de Jerusalém exibiam uma atmosfera semifestiva, com as aulas suspensas e a maioria das empresas fechada. Os territórios palestinos de Gaza e da Cisjordânia permaneceram fechados por razões de segurança, em uma jornada eleitoral que transcorreu praticamente sem incidentes.

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