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Netanyahu, ainda mais à direita em seu quinto mandato

Primeiro-ministro de Israel busca obter imunidade ante as acusações de corrupção após reeleição. Seu partido, o Likud, ampliou sua bancada na Knesset apesar do desgaste

Benjamin Netanyahu, na noite de quarta-feira, 10 de abril, em Tel Aviv.
Benjamin Netanyahu, na noite de quarta-feira, 10 de abril, em Tel Aviv. THOMAS COEX (AFP)
Juan Carlos Sanz
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O Governo mais conservador da história de Israel está se preparando para ser substituído por um outro ainda mais direitista. Benjamin Netanyahu continuará no poder depois de receber um quinto mandato das urnas (o quarto consecutivo em uma década) nas eleições legislativas de terça-feira. O primeiro-ministro, que busca uma fórmula legal de imunidade para se blindar das acusações de corrupção que pairam sobre ele, precisa do respaldo de forças nacionalistas, de extrema direita e ultrarreligiosas para forjar uma coalizão viável. Sua promessa de campanha de estender a soberania israelense aos assentamentos na Cisjordânia é um fator unificador em um pacto de seis partidos.

A oposição de Israel despertou na quarta-feira do devaneio das pesquisas, que apontavam um empate virtual que conteria Netanyahu, e se deparou com a realidade do resultado das eleições parlamentares. O Partido Likud, do primeiro-ministro, ficou empatado com a aliança centrista Azul e Branco, do ex-general Benny Gantz, cada um com 35 dos 120 assentos da Knesset (o Parlamento). Mas a aritmética parlamentar favorece, em princípio, a configuração de uma coalizão governamental de direita, com 65 lugares em comparação com 55 do total de legendas do bloco de centro-esquerda e dos partidos árabes.

O arco conservador dos partidos em que Netanyahu se sustenta perdeu parte de sua corrente mais centrista. A formação moderada Kulanu, do ministro das Finanças, Moshe Kahlon, passou de 10 deputados em 2015 para apenas quatro nas últimas eleições. Por outro lado, as duas forças ultraortodoxas somam 16 assentos, três a mais do que na Knesset anterior.

As três cadeiras parlamentares que a frente nacionalista religiosa União de Partidos de Direita perdeu − predominantemente entre os colonos judeus na Cisjordânia −, assim como a que foi perdida pelo ultraconservador Israel, Nossa Casa, acabaram supostamente nas fileiras do Likud. O partido do chefe de Governo consolidou sua vitória eleitoral ao aumentar em 5 os 30 deputados que integravam sua bancada partidária na última legislatura, apesar do desgaste sofrido depois de uma década no poder e dos escândalos de corrupção que salpicaram seu líder.

“Foi um triunfo magnífico, que superou nossa imaginação”, vangloriou-se Netanyahu diante de seus seguidores em Tel Aviv. Ao contrário de seu rival centrista − um ex-chefe das Forças Armadas que entrou na política há seis meses −, o veterano líder do Likud soube aguardar o momento em que as projeções se inclinavam a seu favor antes de se proclamar ganhador. O aumento da abstenção, quatro pontos maior do que em 2015, parece ter beneficiado o primeiro-ministro.

A aliança centrista demorou mais de 20 horas para reconhecer sua derrota, por meio de Gantz e do dirigente laico liberal Yair Lapid, enquanto avançava a contagem oficial. Para uma aliança formada há apenas dois meses como a Azul e Branco − coliderada por outros dois ex-comandantes do Exército −, conquistar 35 cadeiras (26% dos votos) é uma façanha em Israel, dada a fragmentação política gerada por um sistema eleitoral ultraproporcional.

O antigo paraquedista Gantz pode ter vencido sua primeira batalha política, mas ficou sem aliados devido ao revés sofrido pela frente de centro-esquerda. A representação do Partido Trabalhista, fundador do Estado judeu, foi despedaçada nestas eleições. A bancada da aliança entre os trabalhistas e os centristas da ex-ministra Tzipi Livni ficou com apenas um quarto das 26 cadeiras que tinha. A substituição do trabalhismo pelas forças de centro como alternativa de Governo marca uma catástrofe no partido de Yitzhak Rabin e Simon Peres.

A publicação dos resultados definitivos ainda depende da contagem dos votos de militares, diplomatas e presos. O chefe de Estado de Israel, Reuven Rivlin, anunciou que iniciará neste domingo as consultas com os partidos para a formação do novo Governo.

O Likud, partido do chefe de Governo, consolidou sua vitória eleitoral ao aumentar em 5 os 30 deputados que integravam sua bancada

Pela primeira vez, os encontros do presidente com os líderes dos partidos serão transmitidos ao vivo pelos meios de comunicação, “por uma questão de transparência”, informou o gabinete de Rivlin. Netanyahu manifestou o temor de que o chefe de Estado − um ex-dirigente do Likud com o qual ele está em conflito − possa encarregar outro líder, inclusive de seu próprio partido, de formar um novo Governo, diante das acusações de corrupção que pesam contra o atual primeiro-ministro.

Forjar um acordo de coalizão leva tempo em Israel. A partir do momento em que Rivlin escolher alguém para formar o Governo, dentro de um prazo de 15 dias, o escolhido terá sete semanas para negociar com os demais partidos. Netanyahu já avisou que buscará uma coalizão conservadora com “aliados naturais”.

Apenas um dos seus parceiros de Governo anteriores ainda não confirmou seu apoio a Netanyahu: o líder do Israel, Nossa Casa, Avigdor Lieberman, que se demitiu do cargo de ministro da Defesa em novembro, em protesto contra a trégua estabelecida pelo primeiro-ministro com o grupo islâmico Hamas em Gaza. Os analistas consideram que Lieberman exigirá um alto preço em troca de seus cinco votos no Parlamento, que são precisamente os que garantem a hegemonia do campo direitista.

“Os eleitores israelenses escolheram uma esmagadora maioria conservadora, xenófoba e antipalestina, que vai cerrar fileiras para expandir o apartheid”, assinalou depois das eleições a dirigente da Organização para a Liberação da Palestina (OLP) Hanan Ashrawi. Um dos primeiros governantes estrangeiros a parabenizar Netanyahu foi o presidente dos EUA, Donald Trump, que afirmou que depois da reeleição do primeiro-ministro israelense “haverá uma oportunidade melhor para obter a paz” no Oriente Médio. A Casa Branca deve apresentar seu plano de paz regional, já rejeitado de antemão pelos líderes palestinos, depois da formação do novo Governo israelense. O presidente Jair Bolsonaro também parabenizou o aliado, a quem prestou uma visita recentemente. "Bibi é um grande líder e seguiremos trabalhando juntos pela prosperidade e pela paz dos nossos povos", disse o mandatário brasileiro. 

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