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Israel fará novas eleições depois do fracasso de Netanyahu em formar Governo

Parlamento vota sua dissolução para evitar que líder da oposição de centro-esquerda recebesse a missão de formar outra coalizão

Juan Carlos Sanz
Netanyahu
O primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, na segunda-feira na Kneset ( Parlamento).MENAHEM KAHANA

Expirado o prazo para formar Governo em Israel, quando o relógio já passava da meia-noite de quarta-feira, a Knesset (Parlamento unicameral) votou sua dissolução, por 74 votos a favor contra 45, 50 dias depois das últimas eleições. Os cidadãos serão convocados novamente às urnas em 17 de setembro, prolongando assim a paralisia institucional que afeta o Estado judeu há mais de seis meses. O primeiro-ministro interino, Benjamin Netanyahu, não conseguiu integrar os partidos de direita em uma coalizão com maioria suficiente, depois de ter conquistado sua quinta vitória nas urnas, apesar das sérias acusações de corrupção.

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Israel assistiu a um drama político sem precedentes nas últimas horas. Enquanto naufragavam as negociações para forjar um Governo de coalizão por causa de disputas entre laicos e religiosos sobre o serviço militar obrigatório, os deputados iniciaram a sessão na Knesset que desembocaria na votação sobre a dissolução da Câmara, que tem 120 cadeiras. A repetição das legislativas foi o estratagema urdido por Netanyahu e os partidos da ala direita parlamentar, que somam 65 deputados, para impedir que o presidente de Israel, o conservador moderado Reuven Rivlin, pudesse encarregar a formação de Governo ao líder da oposição e ex-general-chefe do Exército, o centrista Benny Gantz.

A frente da oposição também se preparou para a batalha. A chefe das fileiras do Meretz (esquerda pacifista), Tamar Zandberg, disparou a primeira salva. “Estamos preparados para protagonizar ao menos três dias de obstrução (prolongamento até o limite das intervenções) para dar tempo ao presidente Rivlin nomear outro candidato para formar Governo”, alertou. A presidência da Câmara, controlada pela direita, respondeu com um relatório dos advogados do Parlamento e ameaçou parar o relógio antes da meia-noite se os debates se prolongassem.

A novela política israelense surpreendeu a fragmentada Knesset surgida das eleições de 9 de abril, que tinha representantes de 11 partidos, dos quais apenas dois contavam seus deputados com dois dígitos. Embora as negociações secretas para fechar um acordo de última hora continuassem nos corredores do Parlamento, a rota de colisão para a repetição das legislativas era incontrolável.

O Ministério das Finanças estimou o custo da organização das novas eleições em cerca de 500 milhões de shekels (cerca de 553 milhões de reais). Em Israel o dia das eleições é praticamente feriado e provoca perdas estimadas pelos analistas econômicos em cerca de 2,5 bilhões de shekels para a economia por causa da paralisação das atividades. Os cofres dos partidos estão vazios após a última campanha e os cidadãos não parecem muito animados com a ideia de uma campanha durante o tórrido verão da Terra Santa.

O bloqueio político foi aparentemente imposto pelo ex-ministro da Defesa e líder do partido Israel Nosso Lar (cinco deputados), o ultradireitista laico Avigdor Lieberman, que exigiu um acordo sobre a legislação a respeito do serviço militar como pré-condição para um acordo de Governo. Lieberman representa centenas de milhares de eleitores imigrados da antiga União Soviética, caracterizados por seu viés conservador e um estilo de vida laico. A reforma do sistema de alistamento obrigatório poria fim à isenção de que gozam agora dezenas de milhares de alunos das escolas talmúdicas, ao contrário do resto dos homens e mulheres recrutados durante três anos ao atingirem a maioridade.

Os dois partidos ultraortodoxos judeus, que possuem 16 parlamentares na Knesset, rejeitaram o projeto de lei promovido por Lieberman para estabelecer o recrutamento obrigatório de uma cota de dezenas de milhares de estudantes das yeshivas (escolas rabínicas). Os haredis ou ultrarreligiosos representam 11% da população israelense e são a comunidade com maior crescimento populacional.

Uma aposta para afastar Netanyahu

Mas a aposta de Lieberman parecia destinada a afastar Netanyahu do poder. Se o chefe de filas do Likud não conseguisse forjar um consenso entre os aliados do Governo, o presidente de Israel, que tem velhas divergências com o chefe do executivo, tinha o poder de encarregar a outro dirigente a formação de Governo.

O primeiro-ministro preferiu não arriscar que Gantz, o adversário que o desafiou com força nas urnas há menos de dois meses, pudesse receber de Rivlin a missão de formar uma coalizão de Governo alternativa, apesar de os votos de toda a oposição só somarem 55 cadeiras. O presidente Rivlin assumiu na terça à noite seu papel eminentemente cerimonial e lavou as mãos ao lembrar que a Knesset é soberana para legislar sobre sua dissolução e que, portanto, “deve carregar com exclusividade o peso da decisão de chamar os israelenses novamente às urnas”.

Enquanto isso, o procurador-geral de Israel, Avichai Mandelblit, marcou para o início de outubro a audiência de Netanyahu prévia à sua previsível acusação por fraude e suborno em três casos investigados pela brigada policial anticorrupção. Um novo processo eleitoral pode contribuir para retardar a ameaça da justiça que paira sobre o veterano primeiro-ministro desde o começo do ano.

A fragmentada direita israelense

Likud (conservador)

Kulanu (centro-direita laico)

Ultraortodoxos

Israel Nosso Lar (ultraconservador laico)

União dos Partidos de Direita (nacionalistas religiosos)

Com 35 deputados em um total de 120, o partido de Benjamin Netanyahu é a força direitista dominante, embora esteja longe de ser um bloco monolítico. O líder indiscutível não seria forçado a renunciar enquanto não houver uma sentença contra ele. Seu antecessor, Ehud Olmert, foi condenado por corrupção em 2015, seis anos depois de ter sido incriminado. A oposição de centro-esquerda acusa o primeiro-ministro de tentar se blindar estando no poder por meio de uma reforma judiciária que lhe garantiria imunidade.

O partido do ministro das Finanças Moshe Kahlon sofreu um sério revés nas urnas. Seu líder cogita voltar ao Likud, do qual saiu em 2013, em troca de manter a principal pasta econômica, em um período em que o crescimento e o emprego estão dando sinais de desaceleração.

A União pela Torá e o Judaísmo (asquenaze) e o Shas (sefardita) são as duas forças políticas mais votadas pelos haredis. Os ultraortodoxos exigem que a isenção geral de recrutamento para os estudantes das yeshivas seja mantida, o que a nova lei revoga ao impor cotas de substituição a essas escolas rabínicas. O Tribunal Supremo estabeleceu o mês de julho como prazo limite para a aprovação definitiva de uma lei que garanta igualdade de obrigações entre os cidadãos em relação ao serviço militar.

O partido do ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman transformou a lei do recrutamento em sua principal bandeira política. Também ameaça bloquear a maioria absoluta da direita: seus cinco votos na Knesset são fundamentais para a investidura de Netanyahu.

O líder dessa aliança ultradireitista, Rafi Peretz, é um ex-rabino-chefe das Forças Armadas. Coligou-se com representantes dos colonos radicais da Cisjordânia e com o Poder Judeu, herdeiro de um partido racista proscrito há 30 anos. Defende a anexação dos assentamentos em território palestino ocupado.

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