Bolsonaro se despede de Israel com promessas econômicas e gafe sobre nazismo
Presidente encerrou visita a aliado Netanyahu no Museu do Holocausto e repetiu que nazismo é de esquerda, declaração contrariada inclusive no site oficial do local
O presidente Jair Bolsonaro encerrou sua visita oficial a Israel com mais elogios ao Estado judaico, ao qual reiterou amar “como namorados que se tornam noivos, no bom sentido”, inaugurando uma nova era de cooperação econômica entre os dois aliados. “Israel, comparado com o Brasil, não tem quase nada em terras e recursos minerais, mas acima de tudo tem fé. E foi com essa fé que move montanhas que transformou o país”, afirmou Bolsonaro nesta terça-feira, durante um encontro com empresários organizado em Jerusalém pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.
Pouco antes, Bolsonaro visitou no parque tecnológico da Cidade Santa a sede da Mobileye − a empresa de ponta de software para veículos autônomos adquirida pela gigante Intel − e percorreu uma mostra sobre inovação em que oito empresas israelenses, incluindo várias startups da vanguarda tecnológica, mostraram a ele seus avanços em diferentes campos, como agricultura, medicina e segurança. Seu anfitrião, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também não poupou elogios a Bolsonaro e a comitiva que o acompanhava. “Não temos limites quanto ao que compartilhar com vocês, seja cibersegurança, segurança em geral, agricultura, água... O céu é o limite e lhes damos boas-vindas como nossos queridos amigos”, disse Netanyahu.
Bolsonaro assegurou que o Brasil também tem muito a oferecer a Israel e abriu caminho para a cooperação na exploração conjunta de cobiçadas riquezas naturais brasileiras, como o nióbio − usado para tornar o aço mais resistente à corrosão − e o grafeno, um material do qual se esperam usos revolucionários para impulsionar o desenvolvimento tecnológico. “Temos a segunda maior reserva do mundo de grafeno. Essa maravilha movimentará um trilhão de dólares [3,86 trilhões de reais] na próxima década”, disse Bolsonaro aos empresários.
No fim do dia, eminentemente econômico, o presidente visitou o Museu do Holocausto, o Yad Vashem, onde percorreu uma exposição de fotografias sobre o extermínio e rendeu homenagem aos mais de seis milhões de judeus assassinados pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Na saída, o presidente foi questionado a respeito da declaração de seu chancelar, Ernesto Araújo, que há poucos dias disse que o nazismo era "de esquerda". “Não há dúvida, né? Partido Socialista, como é que é?”, respondeu Bolsonaro, segundo a agência Reuters. Historiadores refutam cabalmente a afiliação de mandatário brasileiro e de seu chanceler, em voga entre alguns afiliados à extrema direita no Brasil. O próprio museu que acabara de visitar exibe em seu site texto que atribui o nazismo a grupos radicais de direita: “Hitler e o Partido Nazista chegaram ao poder devido a circunstâncias sociais e políticas que caracterizaram o período entre-guerras na Alemanha. Muitos alemães não podiam admitir a derrota de seu país na Primeira Guerra Mundial, argumentando que ‘traições’ e a fragilidade na retaguarda paralisaram e, eventualmente, causaram o colapso na frente de batalha”, afirma o museu em seu site em um texto em inglês.
Armas e nióbio
O museu foi o último compromisso na viagem de Bolsonaro, na qual anunciou a criação de um escritório de negócios em Jerusalém (em vez de uma embaixada como prometera na campanha) e se tornou o primeiro chefe de Estado a visitar, acompanhado de um primeiro-ministro israelense, o Muro das Lamentações, em Jerusalém Oriental. Esse gesto, evitado durante décadas por outros mandatários e condenado pela Autoridade Palestina, pode ser interpretado como o reconhecimento tácito da soberania israelense sobre Jerusalém Oriental.
O chefe de Estado brasileiro também aproveitou a visita para fazer uma defesa apaixonada das armas ao postar, em sua conta no Instagram, uma foto em que aparece apontando um fuzil. Uma imagem que situou em “Jerusalém, Israel” e sob a qual escreveu: “O que torna uma arma nociva depende 100% das intenções de quem a possui. Defendo a liberdade, com critério, para cidadãos que querem se proteger e proteger suas famílias”.
Bolsonaro disse estar “impressionado” com o funcionamento da United Hatzala, uma organização com a qual mais de 5.000 voluntários colaboram em Israel. Equipados com a última tecnologia de localização e coordenados a partir da central em Jerusalém, eles trabalham para atender emergências médicas o mais rápido possível. Uma tarefa para a qual sua equipe médica, além de contar com os meios convencionais, também utiliza motos e bicicletas adaptadas como ambulâncias − que lhes permitem, por exemplo, chegar aos pacientes em lugares de difícil acesso, como o centro histórico de Jerusalém e a antiga Jaffa, cujas ruas estreitas são um obstáculo para as ambulâncias tradicionais. O presidente teria encarregado seus assessores de estudar a possibilidade de implantar um sistema similar no Brasil.
Com informações da Reuters
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