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Aumento do nível do mar ameaçará 300 milhões de pessoas em 2050

Relatório triplica o número de afetados pelo risco de inundação devido à mudança climática

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A natureza já não pode mais sustentar os humanos
Aumento do nível do mar acelerou e já é incontrolável, advertem especialistas da ONU

A partir de 2050 as zonas costeiras onde atualmente vivem 300 milhões de pessoas serão inundadas todos os anos. Ou pelo menos isso acontecerá se não forem tomadas medidas de contenção de água, como diques e muros. É uma das consequências mais diretas do aumento incontrolável do nível do mar devido às mudanças climáticas. Os 300 milhões de afetados são o triplo do que havia sido estimado até agora com os modelos de previsão habituais, de acordo com um estudo publicado terça-feira pela Nature Communications.

A Ásia é, sem dúvida, a região mais afetada. Mas na Espanha, por exemplo, também haverá impactos: cerca de 200.000 pessoas residem hoje em áreas que serão expostas a essas inundações anuais a partir de 2050. Na zona vermelha do mapa de risco — elaborado pelos autores do relatório e pela organização Climate Central —, existem áreas importantes por seu valor econômico e natural, como Doñana, o Delta do Ebro, a Manga del Mar Menor e municípios de Cádiz e Huelva.

O aumento do nível do mar já é um dos impactos irreversíveis da mudança climática que o ser humano provocou com as emissões de gases de efeito estufa que superaquecem o planeta, segundo a maioria dos cientistas. O nível do mar continuará subindo principalmente devido ao degelo nos polos, como alertou um relatório recente do IPCC, o painel de especialistas internacionais que assessora a ONU.

“Embora atenuemos, mesmo se cumprirmos o Acordo de Paris, o nível médio do mar continuará subindo durante séculos”, explica Íñigo Losada, diretor do Instituto de Hidráulica da Cantábria e um dos autores do relatório do IPCC. Portanto, Losada destaca a importância de medidas de adaptação à mudança climática por meio, por exemplo, de infraestruturas de contenção de água. O especialista também enfatiza que são necessárias mais pesquisas em áreas de risco.

É a isso que aspira o modelo criado pela Climate Central. Benjamin Strauss, presidente desta organização e coautor do estudo, argumenta que as projeções até agora subestimaram o número de pessoas que podem ser afetadas. “As comunidades humanas se concentram de forma desproporcional nas áreas mais baixas do litoral”, alerta. De fato, o estudo indica que 250 milhões de pessoas residem atualmente em áreas de risco de inundação; as projeções atuais limitavam esse número a 65 milhões, segundo o relatório.

Reduzir emissões

O modelo desenvolvido por essa organização trabalha com vários cenários partindo da evolução das emissões de gases de efeito estufa e da velocidade do degelo. Dependendo desses parâmetros, o nível do mar aumenta mais ou menos e, portanto, varia o número de pessoas que vivem nas áreas afetadas.

Nos diferentes cenários, as projeções para 2050 não oferecem grandes diferenças em relação aos afetados. A grande variação ocorreria no final deste século. Em 2100, no cenário mais otimista (uma rápida redução de gases de efeito estufa e um degelo menos acentuado) na zona vermelha de inundação haveria 340 milhões de pessoas. No pior cenário (com um aumento das emissões e um alto nível de degelo), esse valor aumentaria para 480 milhões em 2100.

O mesmo acontece com as projeções para a Espanha. Em 2050, o intervalo varia pouco — entre 190.000 e 210.000 pessoas — em função das emissões e do nível de degelo. Mas em 2100, o cenário mais otimista fixa a população afetada em 260.000 pessoas, em comparação com as 690.000 do pior cenário. Portanto, como ressaltam os autores, se se deseja limitar os impactos do nível do mar é necessário que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas imediatamente. Ou seja, que se cumpra o Acordo de Paris, que estabelece o objetivo de que o aumento da temperatura média do planeta fique abaixo de dois graus em relação aos níveis pré-industriais e, se possível, abaixo de 1,5ºC.

Novo modelo

“Sem estar livre de limitações, contribui claramente para reduzir cada vez mais as incertezas que temos na determinação do que pode acontecer no futuro”, diz Losada sobre o novo modelo, que inclui um mapa interativo para explorar as áreas afetadas. “Os autores tocam numa questão essencial: devemos ter modelos digitais de terreno que nos sirvam para conhecer os elementos expostos do futuro”, explica Losada. Entre as limitações desse modelo está o fato de que a população afetada pelas projeções ao longo do tempo é a atual. Ou seja, não é levado em consideração o aumento da população mundial que todos os relatórios apontam para este século.

Para Losada, o modelo melhora os dados sobre a elevação do terreno em relação àqueles que estavam sendo utilizados. O problema, segundo os autores do relatório, é que o sistema de cálculo mais difundido até o momento (que como este se baseia em dados de satélites) subestimava a superfície afetada, uma vez que não identificava bem elementos como copas de árvores ou telhados. O novo sistema, segundo os autores, corrige essa distorção, o que faz com que a população potencialmente afetada se multiplique.

A Ásia é sem dúvida a área mais afetada em todo o planeta devido ao risco de inundações relacionadas à mudança climática. “É uma área dominada por áreas muito baixas e superpovoadas”, diz Íñigo Losada, diretor do Instituto de Hidráulica da Cantábria. O relatório publicado na terça-feira indica que a maioria das pessoas expostas reside em seis países asiáticos: China, Bangladesh, Índia, Vietnã, Indonésia e Tailândia. Dos 300 milhões que vivem em áreas de risco de inundação até 2050, aproximadamente 237 milhões residem nesses seis países. A China, com 93 milhões de pessoas agora vivendo em áreas de risco de inundação, é o país mais afetado, segundo o relatório. É seguida por Bangladesh, com 42 milhões, e Índia, com outros 36 milhões de pessoas em risco. Depois deles, Vietnã (31 milhões), Indonésia (23) e Tailândia (12).

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