_
_
_
_

Crise no Peru, Equador e Bolívia eleva tensão política e acirra polarização na região andina

Dissolução do Congresso peruano, os fortes protestos no Equador e a iminente eleição presidencial na Bolívia polarizam os três países latino-americanos

Simpatizantes do presidente de Peru, Martín Vizcarra, em protesto na última quinta-feira.
Simpatizantes do presidente de Peru, Martín Vizcarra, em protesto na última quinta-feira.REUTERS
Francesco Manetto

Os Andes enfrentam momentos de inquietação. Pelo menos três países estão passando por uma fase delicada. A dissolução do Congresso do Peru, os fortes protestos desencadeados pelo aumento do preço da gasolina no Equador, que na quinta-feira passada declarou estado de exceção, e as iminentes eleições presidenciais na Bolívia atraem o foco para uma região acostumada às crises políticas. Os motivos das turbulências, e sua intensidade, são diferentes. No entanto, o coquetel de corrupção, insatisfação social e polarização exacerbada entre Governos e oposição multiplicam a tensão de Quito a La Paz.

O último pavio foi aceso no Equador. A eliminação de um subsídio ao preço do combustível provocou manifestações que levaram o presidente Lenín Moreno a decretar estado de exceção. A medida, embora drástica, tem um caráter preventivo para facilitar as detenções nos episódios de violência. Mas a greve nacional no setor de transporte é mais um reflexo do clima político geral e se enquadra, em última análise, no conflito entre o atual presidente e seu antecessor, Rafael Correa. Foi Correa quem impulsionou Moreno. No entanto, depois de ganhar as eleições de 2017, o atual presidente rompeu com o antecessor e começou a desenvolver seu próprio projeto. O ex-governante, cercado por várias investigações judiciais, vive em Bruxelas, considera-se um perseguido e não esconde sua intenção de enfraquecer o Governo.

Mais informações
Presidente do Peru dissolve o Congresso e convoca eleições parlamentares
Oposição resiste ao fechamento do Congresso e mergulha o Peru em grave crise política

A história recente da América Latina ampliou o uso dos termos “golpe” e “golpista”. Na linguagem pública, tornaram-se uma acusação relativamente comum, apesar da situação de excepcionalidade e gravidade que descrevem e de sua carga simbólica. Moreno recorreu a essa palavra noite da quinta-feira, com uma advertência. “O Equador está dizendo não a esses golpistas”, enfatizou, referindo-se aos organizadores dos protestos. No vizinho Peru, a direita e o fujimorismo utilizaram a mesma fórmula, a expressão “golpe de Estado”, para condenar o fechamento do Congresso, decretado na segunda-feira pelo presidente Martín Vizcarra.

Na verdade, Vizcarra aplicou um artigo da Constituição para pôr fim a uma situação de bloqueio e frear uma manobra voltada para o controle do Tribunal Constitucional, e em seguida convocou eleições legislativas, que serão realizadas no final de janeiro. No entanto, a maioria do Parlamento, dominado pela Força Popular, o partido de Keiko Fujimori, e por seus aliados, tomou uma decisão que disparou todos os alarmes: destituiu − embora de maneira simbólica − o chefe de Estado e nomeou como presidenta em exercício a número dois do Executivo, Mercedes Aráoz. Esta acabou renunciando ao entender que não havia condições legais mínimas para concretizar essa manobra. Seu recuo acalmou as águas, embora não tenha resolvido o problema de fundo. A sociedade peruana assiste há anos a um rosário de casos de corrupção, relacionados principalmente às propinas da construtora brasileira Odebrecht, que afetam a classe política, nos quais estão envolvidos todos os ex-presidentes vivos e a líder da oposição.

Eleições na Bolívia

O duro conflito entre Governo e oposição também sacode, há mais de uma década, a Bolívia. No dia 20, o país vai decidir se confia em Evo Morales para um quarto mandato. Morales é o último representante daquilo que foi uma espécie de eixo bolivariano na região, embora sua gestão econômica e a maior estabilidade institucional o coloquem muito distante, quase como antípoda, da deriva que o regime de Nicolás Maduro acelerou na Venezuela. Isso não significa que não sejam eleições complicadas. O presidente boliviano concorre apesar de ter perdido um referendo sobre a reeleição ilimitada e após ter sido habilitado pelo Tribunal Eleitoral. E o Governo sabe que se não ganhar no primeiro turno − precisa obter mais de 50% dos votos ou alcançar 40% e ter uma vantagem de dez pontos sobre o segundo colocado −, o cenário se complicará no segundo.

Às tensões desses três países se somam as vividas há meses na Colômbia. Neste caso, o clima político é determinado em boa medida pela aplicação dos acordos de paz com as FARC. Há um mês, um grupo de dissidentes da extinta guerrilha, encabeçado por Iván Márquez e Jesús Santrich, decidiu romper o acordo com o Governo de Juan Manuel Santos e retomar as armas. Apesar de ser um grupo muito pequeno e sem capacidade militar, essa decisão teve um grande alcance simbólico que acabou exacerbando as hostilidades entre o Governo de Iván Duque, o uribismo mais radical que rejeita o que foi pactuado em Havana e a oposição. Além disso, a possibilidade de que esses dissidentes possam contar com o apoio da Venezuela, como denunciam as autoridades colombianas, multiplicou as tensões entre Bogotá e Caracas, levando-as até o fantasma de um improvável cenário bélico.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_