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O delator anônimo que desatou a ameaça de impeachment de Trump

Investigação que levou ao processo de ‘impeachment’ de Trump teve origem na queixa interna de um membro dos serviços de inteligência indignado com as conversas do presidente com ucraniano

Pablo Ximénez de Sandoval
Donald Trump fala por telefone com o primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull, o passado 28 de janeiro.
Donald Trump fala por telefone com o primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull, o passado 28 de janeiro.Alex Brandon (AP)
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A semana que termina com Donald Trump sob a ameaça de impeachment começou com uma notícia um tanto difusa, que continha apenas dois elementos: um denunciante anônimo e um telefonema. A conversa telefônica envolveu o presidente Donald Trump e seu homólogo da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e teve lugar em 25 de julho a partir das 9h03 (hora local de Washington). O denunciante anônimo é alguém que teve acesso a esse telefonema ou ao seu conteúdo e ficou tão alarmado que decidiu contar tudo.

O delator interno (whistleblower é a palavra utilizada nos Estados Unidos) permanece anônimo, seis dias depois das primeiras informações sobre o caso. Dele só se sabe por enquanto que é alguém com acesso ao conteúdo dos telefonemas presidenciais, um grupo muito pequeno que inclui diplomatas e espiões da Casa Branca. As informações que veículos como The Washington Post, The Wall Street Journal e The New York Times têm a seu respeito indicam que se trata de um membro dos serviços de inteligência.

O que precipitou o processo de impeachment contra Trump em apenas uma semana é que essa pessoa expressou sua preocupação por escrito. Depois de ouvir ou ter acesso ao conteúdo da ligação, escreveu uma queixa interna à inspeção geral dos serviços de inteligência do país, através do protocolo estabelecido. Desse documento só se sabe que manifestava uma "preocupação urgente" com o que o presidente havia dito a Zelenski —uma suposta pressão para que colaborasse em investigações contra o filho de seu adversário democrata Joe Biden. A única informação que existe a respeito provém da imprensa, citando fontes anônimas dos serviços de inteligência. Os democratas exigem que o Governo entregue a queixa completa e sem censura ao Congresso, para comprovar o que consta nela.

A primeira pergunta que surge perante esta informação é quem escuta os telefonemas de Trump. Segundo o The New York Times, quando o presidente dos Estados Unidos liga para outro líder, no mínimo está sendo ouvido por seu assessor de Segurança Nacional, por algum auxiliar do assessor especialista na região em questão e por um grupo reduzido de agentes de inteligência que trabalham para a sala do Gabinete de Crise (situation room) da Casa Branca. Segundo um alto funcionário da Casa Branca, o vice-presidente e o secretário de Estado podem eventualmente solicitar acesso.

Esses agentes de inteligência fazem anotações sobre a conversa e preparam uma rápida transcrição de trabalho. Trata-se de um relatório interno e secreto ao qual têm acesso um número indeterminável de pessoas. Não é a primeira vez que o conteúdo das ligações de Trump chega à imprensa. Assim que seu mandato começou, em 2017, já houve polêmicas por causa de diálogos telefônicos dele com o primeiro-ministro da Austrália e o presidente do México.

Os rumores sobre supostas pressões de Trump ao líder ucraniano tiveram início no começo de setembro, e os democratas da Câmara de Representantes (deputados) vinham procurando mais informações sobre o assunto. Na quinta-feira passada, o inspetor-geral dos serviços de inteligência, Michael Atkinson, o homem que recebeu a queixa interna, compareceu as portas fechadas perante o Comitê de Inteligência da Câmara, presidido pelo democrata Adam Schiff. Atkinson, segundo a imprensa de Washington, negou-se a falar sobre o conteúdo do relatório, alegando não estar autorizado.

Há algo que Atkinson disse, segundo a versão compartilhada com a imprensa por membros da comissão. Primeiro, que estava de acordo em que se tratava de um tema urgente; segundo, que a queixa parecia derivar não de uma conversa, mas sim de vários diálogos ou ações do presidente nesse sentido. Afirmou também que não estava de acordo com a opinião emitida por um advogado do Gabinete de Inteligência Nacional, que havia rejeitado a queixa alegando que não recaía sob a jurisdição do seu departamento.

Foi Atkinson, nomeado por Trump, quem recomendou que o Congresso fosse informado sobre a existência do relatório, apesar da opinião contrária do seu chefe, o diretor interino de Segurança Nacional, Joseph Maguire. Maguire se negou a entregar o relatório ao Congresso, contrariando as normas estabelecidas para a relação entre os serviços de inteligência e o Legislativo, num movimento que fez disparar o interesse dos democratas e da imprensa por saber o que dizia aquele documento. Finalmente, na quarta-feira, o Comitê de Inteligência confirmou que teria acesso ao relatório durante a tarde, embora no final da manhã ainda não estivesse claro se sairia na íntegra ou com partes censuradas.

Na terça-feira passada, Schiff escreveu no Twitter: “O advogado do denunciante anônimo interno me informou que seu cliente quer falar com o Comitê e solicitou instruções ao diretor interino de Segurança Nacional (Maguire) sobre como proceder. Estamos em contato com o advogado e esperamos o comparecimento do denunciante já nesta semana". O senador Mark Warner, líder democrata no Comitê de Inteligência do Senado, também informou que o advogado dessa pessoa manifestou à Câmara Alta que ela está interessada em depor. O funcionário anônimo que precipitou o processo de impeachment de Trump poderá deixar de ser anônimo em questão de horas.

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