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Biden se apresenta como a melhor aposta democrata para derrotar Trump

Em debate entre pré-candidatos à Casa Branca, ex-vice-presidente exalta legado de Obama, enquanto adversários exigem políticas mais progressistas

De esquerda a direita, Bernie Sanders, Joe Biden e Elizabeth Warren, nesta quinta-feira durante o debate em Houston.
De esquerda a direita, Bernie Sanders, Joe Biden e Elizabeth Warren, nesta quinta-feira durante o debate em Houston.MIKE BLAKE (REUTERS)
Amanda Mars

Joe Biden, vice-presidente da era Obama, afirmou nesta quinta-feira à noite que é a aposta mais segura para derrotar Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 2020. Ele defendeu seu ideário centrista diante dos dois pré-candidatos do partido Democrata que o seguem nas pesquisas, os senadores de esquerda Bernie Sanders e Elizabeth Warren.

O terceiro debate das primárias transmitido pela televisão, realizado em Houston, tornou-se uma longa conversa sobre ideias e estratégias: se os Estados Unidos precisam de políticas socialdemocratas mais ousadas, se o eleitor está preparado para essa guinada e se a Casa Branca se volta pelo centro ou pela esquerda. “Você pode gostar mais de outro candidato, mas precisa ver quem vai ganhar”, diz a esposa de Biden, Jill, em um anúncio eleitoral das primárias. Por outro lado, um punhado de candidatos se opõe a ele: se em 2016 venceu alguém tão heterodoxo e divisor quanto Donald Trump, as leis da elegibilidade precisam ser repensadas.

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Biden começou no ataque, questionando a viabilidade dos planos de dois progressistas da velha escola, Bernie Sanders e Elizabeth Warren, sobre saúde, uma das questões mais complexas da política interna e das mais cruéis para a classe trabalhadora. Além disso, é um dos dilemas que mais divide os próprios democratas. O ex-vice-presidente defendeu sua ideia de melhorar a cobertura para os norte-americanos partindo da reforma de Obama e criticou duramente a proposta mais ousada, estender o sistema público de cobertura dos maiores de 65 anos (Medicare) a toda a população e, além disso, eliminar o sistema privado de seguros, algo que mais ninguém propõe.

“Como vamos pagar isso?”, perguntou Biden. “Minha amiga e senadora à esquerda [em referência a Elizabeth Warren] não disse como vai pagar isso, mas eu digo como vou pagar minha proposta”. Quando Sanders censurou que os EUA estão pagando em saúde o dobro per capita que o Canadá, espetou: “Isto é a América”.

Tocqueville disse que os americanos adoram as mudanças, mas temem as revoluções. “Todos os dias alteram ou modificam coisas secundárias e tomam muito cuidado para não tocar nas principais”, escreveu. Ninguém como Biden representa esse espírito nesta corrida, seja em saúde, regulamentação de armas ou imigração. Ele questionou que um presidente possa proibir rifles de assalto (que são habitualmente usados em tiroteios em massa) por meio de uma ordem executiva, algo que foi afirmado pela senadora Kamala Harris. “Existem coisas que não podem ser feitas [com uma ordem]”, disse, “Sejamos constitucionais, temos uma Constituição”, insistiu. Enquanto isso, Harris o interrompeu fazendo seu o lema de Obama: “Bem, Joe, em vez de dizer: ‘não podemos, vamos dizer sim, podemos (Yes, we can), de acordo?”

Foi um dos instantes mais emblemáticos do tabuleiro democrata neste momento. Para estabelecer um paralelo com 2008, Biden encarna a primeira candidatura de Hillary Clinton, a experiência e o discurso pragmático diante da mensagem inspiradora daquele jovem senador de Illinois, que se tornou o primeiro presidente afro-americano da história norte-americana. Hoje, a ilusão obamista, que fala de refundações, está dividida entre um grupo muito diversificado de pré-candidatos. Nunca houve tantas mulheres (estiveram no palco nesta noite Warren, Harris e Amy Klobuchar), há um aspirante de origem asiática, Andrew Yang —que propõe uma renda universal, uma verdadeira revolução nos Estados Unidos—, e outro de apenas 37 anos, o primeiro abertamente homossexual. Na liderança, no entanto, estão dois veteranos de Washington, Sanders e Warren.

Esse foi o primeiro em que os três mais bem colocados nas pesquisas se encontraram em um debate, pois, em vez da participação de cerca de vinte candidatos divididos em duas noites, houve uma peneira para excluir a metade —em função de sua posição nas pesquisas e do número de doadores— e apenas os dez que passaram no corte participaram.

A campanha das primárias já está em outra fase, na qual os pré-candidatos mais fortes se distanciam dos demais e na qual o vice-presidente de Barack Obama parece ter tomado fôlego. Foi sua sessão mais enérgica até o momento e reivindicou o legado de Obama, enquanto seus adversários exigiram políticas mais progressistas.

O fato de Joe Bien (de 76 anos), Bernie Sanders (78) e Elizabeth Warren (70) dominarem com autoridade as pesquisas para a corrida presidencial de 2020 reflete que a maior mobilização do voto jovem, palpável nas eleições legislativas de novembro, não impede que o candidato predileto seja um septuagenário. Muito distante dos três, com menos de dois dígitos de intenção de voto nas pesquisas, estão Harris, Buttigieg e os texanos Beto O’Rourke, ex-congressista, e Julian Castro, ex-secretário de Habitação de Obama.

Joga a favor de Biden a chamada electability, ou seja, a probabilidade que um político tem de ganhar a eleição. Em uma pesquisa do The Washington Post-ABC publicada nesta semana, o ex-vice-presidente arrasa: 45% acreditam que ele tem mais chances de derrotar Trump, comparado com 14% de Sanders e 12% de Warren. Há quem questione esse critério na hora de escolher um candidato, como Castro, que em entrevista ao Post afirmou: “Não vamos ganhar tentando jogar da maneira mais segura possível”, “Trump não ganhou jogando assim”.

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