Milhares de pessoas saem às ruas no Reino Unido contra o fechamento do Parlamento Britânico
Mais de 80 manifestações acontecem neste sábado em diferentes cidades para protestar contra a medida de Boris Johnson na reta final do Brexit
Milhares de pessoas se reuniram neste sábado nas principais cidades do Reino Unido para deter a suspensão do Parlamento imposta por Boris Johnson. O Partido Trabalhista decidiu dar seu apoio oficial a esse movimento de desobediência civil que pretende fazer sua voz ser ouvida em Londres, Manchester, Liverpool, Glasgow e em até 80 núcleos urbanos do país.
Vários movimentos e associações organizaram os protestos, embora a liderança tenha sido assumida pelo Momentum, a corrente interna do trabalhismo que levou Jeremy Corbyn à liderança do partido e multiplicou com seu discurso e sua ação o número de filiados da formação. “Temos um milionário escolhido por uma pequena margem que está adorando explorar as falhas da nossa democracia defeituosa para forçar um Brexit sem acordo e se aliar a Trump”, disse Laura Parker, coordenadora nacional do Momentum, enquanto encorajava mais uma vez os cidadãos a participarem da manifestação.
John McDonnell, o número dois do Partido Trabalhista, faz parte dos oradores que falarão aos manifestantes concentrados às portas de Downing Street, a residência oficial de Boris Johnson.
A Scotland Yard deslocou um número considerável de agentes aos arredores do Parlamento para evitar qualquer incidente.
Em Londres, dezenas de milhares de pessoas se reuniram em frente à cerca que protege a sede do Governo. “Se você fechar o nosso Parlamento, nós fecharemos as ruas!”, “Boris Johnson, vá se foder. Volte para Eton [a escola particular e elitista onde estudou]” são algumas das palavras de ordem ouvidas, combinadas com múltiplos assobios e vaias.
“O que aconteceu se chama golpe de Estado, e a resposta deve ser a ocupação do Parlamento”, explicou Gabriel Adams, de 55 anos, que viajou para Londres desde a cidade de Northhamptonshire. Esse gerente de construção não podia esconder sua decepção com o número de pessoas reunidas. Era muita gente, mas não tanta quanto as expectativas das últimas horas fizeram prever. “O que você está vendo é não é mais do que o princípio do fim”, tentou justificar. “A desobediência civil vai aumentar e dezenas de milhares irão à manifestação convocada para 16 de outubro”.
Adams abriu caminho com os cotovelos até a cerca de Downing Street, onde aproximadamente 12 policiais da Scotland Yard vigiavam os manifestantes com rostos nos quais o tédio e o desconforto se misturavam. Alguns metros mais atrás, dentro do pátio do recinto, estavam outros oito agentes, mas estes portavam armas de assalto. Um homem idoso que estava prestes a desmaiar pediu para sair da multidão e passar para o outro lado. Os policiais o atenderam imediatamente.
“Meus pais moraram 17 anos na França. Eles se beneficiaram de uma mobilidade interna na Europa que esse Governo quer eliminar para a próxima geração de jovens”, contou Nicolette Anderson, apoiada na cerca ao lado de Adams. Ela é diretora de um departamento de recursos humanos, tem 55 anos e, curiosamente, já considera sua trajetória de vida amortizada. Veio à manifestação para apoiar as pessoas que vivem e trabalham no Reino Unido e vieram de outras partes do mundo: “Os imigrantes construíram o atual Reino Unido”, explica.
Johnson passou à defensiva na sexta-feira e acusou seus detratores de estarem minando sua capacidade de negociação em Bruxelas, ao transmitir aos 27 a ideia de que os deputados ainda podem evitar um Brexit sem acordo. “Temo que quanto mais nossos amigos e parceiros europeus acreditarem que o Brexit ainda pode ser evitado —que o Parlamento pode fazer com que o Reino Unido permaneça na EU—, menos dispostos estarão a nos dar o acordo de que precisamos”, disse o primeiro-ministro na sexta-feira à Sky News em uma entrevista “improvisada”. O primeiro-ministro não se dirigiu especificamente aos cidadãos que participam do protesto deste sábado, mas seu entorno acusa a oposição trabalhista de provocar a revolta popular para ganhar nas ruas o que não conseguiu em Westminster.
Os grupos da oposição, liderados pelo trabalhista Jeremy Corbyn, estão se preparando para espremer o breve prazo que se abre na próxima terça-feira e promover um debate de emergência no Parlamento. Pretendem aprovar, contra o relógio, uma resolução com força legal que obrigue o Governo a pedir uma nova prorrogação a Bruxelas. E inclusive, se possível, reverter a decisão do fechamento do período de sessões, previsto a partir de 10 de setembro. Ao lado desse caminho formal, um grupo de mais de 50 deputados dos principais partidos já ameaçou, em um texto público enviado ao jornal The Guardian, constituir uma “Câmara dos Comuns alternativa” para contornar a suspensão decidida por Johnson. “Não podemos permitir que o Governo evite o devido escrutínio em um momento de crise nacional”, diz o grupo.
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