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Merkel dá 30 dias para Johnson arrumar solução contra 'Brexit' selvagem

Primeiro-ministro quer que a União Europeia faça concessões no plano para a fronteira irlandesa

Ana Carbajosa
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta quarta-feira em Berlim
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta quarta-feira em BerlimCarsten Koall (Getty Images)

O relógio corre, sem que surja o acordo para o Brexit. A pouco mais de dois meses da data em que o Reino Unido deverá deixar a União Europeia, seu primeiro-ministro, Boris Johnson, aterrissou nesta quarta-feira em Berlim em busca de novas concessões da UE. Isso, ou um Brexit selvagem, com consequências imprevisíveis para a já frágil economia europeia. Johnson disse querer um acordo, mas pediu a revogação do chamado backstop, a salvaguarda que preserva a liberdade de movimentos na fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, uma província do Reino Unido. Berlim não se moveu, mas o incentivou a oferecer uma solução alternativa em 30 dias.

A chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, mostrou certa flexibilidade, apesar da recusa de seu sócios em abrirem mão do protocolo norte-irlandês, por considerar possível uma solução alternativa. Disse que a salvaguarda é “a expressão de um problema sem solução. Quando o problema for resolvido, não será mais necessária”. Insistiu em que o protocolo da fronteira irlandesa foi concebido como um último recurso, e que em princípio foi dado um prazo de dois anos para que se busque uma solução que respeite as regras dos Acordos da Sexta-Feira Santa (1998), que selou a paz entre republicanos e unionistas na Irlanda do Norte. “Mas talvez possamos encontrar uma solução em 30 dias, por que não?!", perguntou-se. Além das boas palavras, não foram ouvidas propostas concretas na sala de imprensa da Chancelaria em Berlim.

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Johnson quer convencer os 27 países remanescentes a reabrirem o acordo do Brexit para torná-lo palatável ao Parlamento britânico e evitar que se abra um período de máxima incerteza e instabilidade com uma saída na marra. O Parlamento britânico já derrubou em três ocasiões o acordo assinado com a UE, e Johnson argumenta que, sem mudanças no plano para a fronteira irlandesa, os deputados voltarão a rejeitá-lo. O propósito de Johnson, firme defensor do Brexit, é que o Reino Unido deixe a UE em 31 de outubro, sem novos adiamentos.

“Há uma ampla margem para um acordo”, mas desde que “o backstop seja eliminado”, reiterou o primeiro-ministro em Berlim. Merkel devolveu a bola para o lado britânico, observando que cabe a Londres fazer propostas e encontrar novas soluções. Johnson passou recibo e deu por aberta uma nova rodada de negociações, com um prazo de 30 dias. “[Merkel] diz que recai sobre nós o ônus de encontrar ideias e soluções […], e é o que queremos fazer”, afirmou Johnson, sem dar detalhes.

Possibilidade de acordo

O líder britânico ostentou um notável otimismo e recorreu à sua ampla experiência no cenário internacional para afirmar que considera o acordo possível. “Ao longo de minha vida observei muitas negociações europeias, e no princípio parece que é uma força inamovível, mas minha experiência me diz que é possível encontrar uma solução.”

Os 27 até agora rejeitaram de saída qualquer mudança no protocolo do backstop, que busca evitar uma fronteira dura entre a Irlanda e Irlanda do Norte, como estipularam os acordos de 1998. Estabelece que, caso não haja acordo após o período transitório, a Irlanda do Norte ficaria sujeita, em princípio temporariamente, às regras do mercado único e da união alfandegária, enquanto o Reino Unido os deixaria, como garantia de que a fronteira vai continuar aberta.

Mas, junto das boas palavras e da suposta vontade de entendimento, não houve qualquer concreção que permitisse vislumbrar que desta vez será diferente. Tampouco se, além da literalidade das palavras, há uma aproximação real, ou se, pelo contrário, trata-se de fingir uma suposta flexibilidade com o objetivo final de atribuir ao adversário a culpa pela falta de acordo.

Johnson prevê se reunir nesta quinta-feira com o presidente francês, Emmanuel Macron, e no sábado participará da reunião do G7 com os demais líderes mundiais, incluído o presidente norte-americano, Donald Trump. O resultado dessas conversas revelará se há realmente uma aproximação com vistas a um acordo.

Nesta semana, o primeiro-ministro britânico já tinha pedido formalmente por carta aos 27 um acordo do Brexit sem cláusula de salvaguarda irlandesa. Considerou-o “antidemocrático” por permitir ao Reino Unido acabar unilateralmente com o backstop e porque, no seu entender, poria em perigo o processo de paz da Irlanda do Norte. Em troca, propôs algum tipo de acordo alternativo, sem esclarecer qual. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, rejeitou terminantemente essa proposta.

O sucessor de Theresa May chegou ao seu primeiro encontro com a chanceler alemã submetido a uma considerável pressão interna por parte do líder da oposição britânica, que aspira se tornar o chefe de um Governo provisório e alternativo após o atual recesso parlamentar, em 3 de setembro.

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