Coalizão anti-‘Brexit’ causa primeiro revés do primeiro-ministro Boris Johnson
Conservadores britânicos veem sua maioria parlamentar reduzida a apenas um deputado, após perder eleição suplementar em Gales
Um pacto entre forças contrárias ao Brexit conseguiu infligir o primeiro revés ao novo Governo britânico de Boris Johnson, que perdeu um valioso assento na eleição suplementar da quinta-feira no distrito de Brecon & Radnorshire, no País de Gales. A vitória da candidata liberal-democrata nesta circunscrição — com o apoio tácito dos nacionalistas e verdes — reduz a maioria parlamentar do premiê de seus aliados a apenas um deputado.
Tanto os independentistas do Plaid Cymru como os ecologistas galeses justificaram durante a campanha seu aval à liberal-democrata Jane Dodds pela prioridade de confrontar a ameaça de Johnson de impor uma saída da UE mesmo sem acordo. A tática de ambos os partidos de não apresentar candidatos próprios para favorecer Dodds lhes permitiu derrotar o conservador Chris Davies, que ocupava a vaga até que foi forçado a renunciar em junho por um caso de corrupção. Aquele escândalo propiciou a by-election (eleição suplementar) da quinta-feira, cujos resultados só foram anunciados na manhã desta sexta.
Davies, considerado culpado pelo uso fraudulento de recursos públicos, voltou a se candidatar, escudando-se em uma condenação leve que se saldou com uma multa e a prestação de 50 horas de serviços comunitários. Seus rivais acabaram por desbancá-lo em um pleito local com ecos nacionais.
Apenas uma semana depois do desembarque de Boris Johnson na residência de Downing Street, aonde foi levado pela militância de seu partido para ocupar o lugar de Theresa May, o dirigente tory vê diminuídos seus já precários apoios parlamentares. O novo chefe de Governo precisa do apoio dos deputados unionistas norte-irlandeses (DUP) na Câmara dos Comuns para somar uma ajustada maioria absoluta, mas a posição contrária a um Brexit duro de alguns de seus correligionários desbarata por completo essa aritmética. Esse cenário vem alimentando especulações sobre supostos planos de Johnson para convocar eleições gerais antecipadas depois do recesso parlamentar que começou em 25 de julho, coincidindo com a substituição no Governo.
O campo de batalha na circunscrição galesa de Brecon & Radnorshire apenas dirimiu, no papel, a designação de um deputado no Parlamento do Westminster. Mas sua relevância nacional reside em ser a primeira vitória de uma frente política contra a resolução do novo Governo de romper com a Europa na marra. O eixo dessa estratégia está no Partido Liberal-Democrata, o mais europeísta do mapa político britânico e, a julgar pelas pesquisas, capaz de arrancar muitos votos do dividido trabalhismo numa eventual eleição geral antecipada.
Na eleição suplementar galesa, os trabalhistas de Jeremy Corbyn ficaram em um humilhante quarto lugar (12,4%), atrás inclusive do ultradireitista Partido do Brexit, que estreava nessa eleição. Corbyn foi matizando sua ambígua posição sobre a União Europeia, a ponto de anunciar recentemente que o Partido Trabalhista votaria sim em um novo referendo sobre a permanência na Europa — mas só se essa fosse a alternativa a um Brexit sem acordo ou a um pacto negociado com Boris Johnson. Em outras palavras, no caso de eleições antecipadas, que muitos consideram inevitáveis, não está claro que defenderia a permanência na UE. E essa é uma pedra que o principal partido da oposição precisa carregar.
A recém-eleita líder liberal-democrata, Jo Swinson, já sugeriu que no caso de antecipação eleitoral os liberais-democratas renunciariam a apresentar candidatura em algumas circunscrições para se aprofundar na nova cooperação entre os partidos da frente anti-Brexit. Sua colega Jane Dodds, a nova deputada por Brecon & Radnorshire, enviou a seguinte mensagem ao primeiro-ministro: “Meu primeiro ato como deputada em Westminster será procurar Boris Johnson, em qualquer lugar onde se esconder, e lhe exigir que deixe de brincar com o futuro de nosso país e descarte um Brexit sem acordo”.
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