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Incêndios no Brasil tensionam a reunião do G7

Macron tenta justificar ameaça de bloquear o acordo com Mercosul e apaziguar Trump para evitar que a cúpula imploda

Marc Bassets

Missão: conter Donald Trump, evitar que uma de suas explosões imploda uma reunião questionada por ser ineficiente e pouco representativa. A cúpula do G7 começou no sábado em Biarritz com a agenda mexida pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e os incêndios na Amazônia. Em um almoço com Trump anterior ao começo do conclave, Macron se esforçou em diminuir a tensão. E tentou justificar —diante de Trump e de seus parceiros europeus— sua ameaça de bloquear o acordo com o Mercosul pela política ambiental do Brasil.

Donald Trump e Emmanuel Macron, reunidos neste sábado em Biarritz.
Donald Trump e Emmanuel Macron, reunidos neste sábado em Biarritz.CARLOS BARRIA (REUTERS)

O cara a cara com Trump, em um terraço ao lado da praia deserta ocupada pelas forças de segurança, serviu a Macron para revisar todos os obstáculos que transformam o G7 em um campo politicamente minado. Significava, para citar o neologismo utilizado por um colaborador do presidente francês, de “des-conflitar” a relação. Ou seja, procurar o menor denominador comum e, principalmente, jogar a carta da relação pessoal para evitar que entre sábado e domingo, quando a cúpula terminar, tudo descarrile, como aconteceu na reunião do Canadá.

Trump aterrissou na cidade francesa de Biarritz sem papas na língua. Na sexta-feira, antes de entrar no Air Force One, anunciou um aumento de taxas alfandegárias à China em represália por medidas semelhantes adotadas por Pequim, e ordenou às empresas norte-americanas que deixem de fabricar no país asiático. Também ameaçou a França com o aumento dos impostos ao seu vinho como castigo pelas taxas francesas às grandes empresas de tecnologia. “Se o fizerem, imporemos taxas alfandegárias como jamais viram”, alertou.

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A lista de desencontros é longa. Inclui os acordos para combater a mudança climática e para deter o programa nuclear iraniano. Os EUA, sob o comando de Trump, se retiraram de ambos. As divergências chegam à própria existência do G7, o grupo das democracias industriais, que agrupa os Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Itália e o Canadá. Desde que chegou ao poder em 2017, Trump não se sentiu confortável nesse fórum, expressão de um multilateralismo que se choca com a doutrina do America First (América primeiro).

Na última cúpula do G7, em 2018 no Canadá, Trump retirou a assinatura do texto na última hora porque não gostou das palavras do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, na entrevista coletiva final.

Macron dedicou as horas anteriores à inauguração oficial da cúpula —um jantar no farol de Biarritz— a procurar a trégua. “Devemos chegar a uma forma de entendimento, ou seja, estabilizar as coisas e evitar essa guerra comercial que está se instalando em toda parte”, disse primeiro em uma mensagem pela televisão. Minutos depois, após se sentar com Trump para almoçar e antes de que as câmeras e os microfones se retirassem, declarou: “Falaremos de assuntos econômicos, nossa vontade é que as coisas possam se apaziguar ao máximo para o crescimento e a criação de emprego em nossos países”. E Trump brincou: “Às vezes brigamos um pouco, mas não muito”.

A reunião pretendia limpar o terreno. “O encontro do presidente com Trump durante duas horas cara a cara lhe permite convergir, organizar o debate”, disse uma fonte que pediu anonimato. “Não quer guerra com o Irã, quer um acordo. Quer apagar os incêndios na Amazônia, ainda que vejamos as coisas de maneira diferente em relação ao clima. No comércio, tem claro que é preciso pressionar a China, mas entende o impacto que tem sobre a economia mundial”.

Macron precisou se esforçar para dar explicações aos seus parceiros mais próximos sobre sua posição em relação ao pacto de livre comércio com o Mercosul —o mercado comum formado por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Na sexta-feira, o Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, alegou que o presidente brasileiro, o ultradireitista Jair Bolsonaro, havia mentido sobre seus compromissos ambientais ao assinar o acordo em junho. Os incêndios da Amazônia seriam a prova disso, de acordo com esse raciocínio. “Nessas condições, a França se opõe ao acordo do Mercosul tal como está”, disse o Eliseu em um comunicado.

A ameaça, que em parte reflete uma ampla oposição ao acordo com o grupo sul-americano dentro da França, está longe de ser consensual na União Europeia. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, presentes em Biarritz, não a subscrevem. Assim como o presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, convidado ao jantar do G7 no domingo.

“Nós, evidentemente, defendemos o acordo entre a UE e o Mercosul, que também trata da proteção do clima e do meio ambiente”, disse Tusk. “Mas é difícil imaginar um processo de ratificação harmonioso nos países europeus enquanto o Governo brasileiro permitir a destruição das terras verdes do planeta”, afirmou.

Os ausentes em Biarritz foram notados. O líder chinês, Xi Jinping, e Bolsonaro não participaram da cúpula de Biarritz, mas as guerras comerciais e a batalha pela Amazônia os transformaram em protagonistas.

Jantar e vinho típicos do país basco francês

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não bebe álcool. Por se fosse pouco, ameaça com aumentar os impostos às importações de vinho francês se Paris faz questão de seu esforço em implantar um imposto às empresas tecnológicas, conhecido como taxa Google.

Nenhuma surpresa, pois: no jantar de abertura da cimeira do G7, neste sábado na cidade vascofrancesa de Biarritz, os vinhos era franceses. Um era de Iroulegy, no País Basco francês. O outro, de Madiran, no vizinho Béarn. A comida era tipicamente basca. De primeiro, piperrada “contemporânea”, segundo anunciava o menu. De segundo, marmitako de atum vermelho.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não bebe álcool. Como se não bastasse, ameaça aumentar as taxas alfandegárias às importações de vinho francês se Paris insistir em seu empenho de implantar um imposto às empresas de tecnologia, conhecido como taxa Google.

Nenhuma surpresa, portanto: no jantar de abertura da reunião do G7, no sábado na cidade basco-francesa de Biarritz, os vinhos eram franceses. Um era de Iroulegy, no País Basco francês. O outro, de Madiran, do vizinho Béarn. A comida era tipicamente basca. Primeiro, piperrada (espécie de fritada) contemporânea, como anunciava o menu. Depois, marmitako (cozido) de atum vermelho.

Os cozinheiros eram Cédric Béchade, do restaurante L'Auberge Basque, e Guillaume Gómez, o cozinheiro do Palácio do Eliseu. Um jantar como o da noite de sexta, no farol de Biarritz, é um exercício de soft power. Para a França, a defesa da gastronomia e dos produtos autóctones motivam duras brigas nas negociações comerciais: são matéria de interesse nacional.

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