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Bolsonaro: “Incêndios existem em todo o mundo. Não podem ser pretexto para sanções internacionais”

Após semana de pressão internacional diante das queimadas na Amazônia, presidente faz pronunciamento e diz que "o Brasil é exemplo de sustentabilidade"

O presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento nesta sexta-feira.
O presidente Jair Bolsonaro durante pronunciamento nesta sexta-feira. Carolina Antunes/PR
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Após uma semana de forte pressão, que tomou as ruas e as redes sociais dentro e fora do país, o presidente Jair Bolsonaro foi à rede nacional de televisão se pronunciar sobre os incêndios na Amazônia e defender suas políticas ambientais. Em poucos minutos do horário nobre, o presidente defendeu as ações brasileiras de proteção da floresta e afirmou que "incêndios florestais existem em todo o mundo" e que "isso não pode ser pretexto para sanções internacionais". A fala do presidente rebate diretamente o mandatário francês Emmanuel Macron, que ameaçou, na quinta-feira, bloquear o acordo da União Europeia com o Mercosul por causa das "mentiras" de Bolsonaro. Essa foi a gota d'água depois de Macron já ter anunciado sua intenção de incluir esta "crise internacional" na cúpula do G7, que ele organiza neste fim de semana. Segundo o presidente, o Brasil "é exemplo de sustentabilidade" e "possui uma lei ambiental moderna".

No pronunciamento, Bolsonaro também afirmou que "a proteção da floresta é nosso dever". "Estamos cientes disso para combater o desmatamento ilegal e quaisquer atividades criminosas que coloquem a nossa mata em risco". O presidente, que durante a campanha eleitoral chegou a afirmar que "a Amazônia não é nossa", agora se viu obrigado a chamar para si a responsabilidade diante da perplexidade ao redor do mundo. Anunciou o que chamou de "GLO ambiental": a assinatura de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para enviar ajuda militar aos Estados que compreendem a Amazônia Legal —Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e o Maranhão. O decreto, assinado na manhã desta sexta-feira, prevê o uso das Forças Armadas até24 de setembro, caso "haja requerimento dos governadores" dos nove Estados da região. Até o fechamento desta reportagem, Roraima e Rondônia haviam requerido ajuda.

Durante a fala do presidente em rede nacional, alguns bairros em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife registraram panelaços. Enquanto isso, centenas de pessoas foram às ruas em algumas cidades no Brasil e no exterior pela proteção à Amazônia

Defesa nas embaixadas

Diante da repercussão internacional das queimadas, que já devastaram mais de 20.000 hectares de vegetação na Amazônia e Pantanal, o Planalto também enviou um documento a 200 embaixadas brasileiras ao redor do mundo com orientações para que defendam as políticas do Governo para a Amazônia. No documento, há destaque para o Fundo Amazônia, financiamento majoritariamente realizado pela Noruega e Alemanha —e a que ambos países cancelaram as ajudas—. O fundo tornou-se alvo de críticas do presidente, que o considera um "mecanismo que se mostrou ineficaz para controlar o desmatamento". Além disso, a comunicação do Planalto fez circular para a imprensa um documento intitulado "9 fatos sobre incêndios na Amazônia". Ao longo de uma página, o Governo afirma que incêndios florestais ocorrem no Brasil "todo ano" e que está atuando para conter os focos de queimadas. Além disso, afirma que o Brasil é referência mundial no combate terrestre aos incêndios florestais e que mais de 2.000 brigadistas estão atuando e à disposição dos Governos estaduais, "contingente acima da média dos anos anteriores". No final, afirma que os incêndios que ocorrem agora "não estão fora de controle". 

A narrativa desta noite é diferente da adotada pelo presidente até então. Na quarta-feira, o presidente afirmou, sem apresentar provas, que Organizações Não Governamentais poderiam estar por trás dos incêndios. “Pode haver –não estou afirmando– uma ação criminosa dessas ONGs para chamar a atenção precisamente contra mim, contra o Governo do Brasil. Esta é a guerra que enfrentamos. Faremos todo o possível e impossível conter o fogo criminoso”, disse à imprensa.

O presidente defendeu, durante o pronunciamento, que "em anos mais quentes como este de 2019, as queimadas ocorrem com mais frequência". E usando do argumento no qual tem batido desde o início —de que há informações "falsas" vindas de instituições renomadas como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)— atacou informações que classificou como "infundadas" a respeito das queimadas dos últimos dias: "É preciso, por outro lado, ter celeridade. Espalhar dados e mensagens infundadas dentro e fora do Brasil não contribuem".

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