_
_
_
_
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Mulheres negras, as mais vulneráveis entre as mais vulneráveis

De acordo com o Ipea, a vulnerabilidade das mulheres negras ao desemprego é 50% maior que a da população em geral. Nas prisões, elas somam 62% do total

Mulheres negras protestam em Barcelona no Dia Internacional da Mulher.
Mulheres negras protestam em Barcelona no Dia Internacional da Mulher.LLUIS GENE (AFP)
Mais informações
“A sociedade é um meio hostil às mães e à criação dos filhos”
"Por que nós, mulheres do EL PAÍS, estamos em greve neste 8 de março"

Lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho estão na origem da criação de um Dia Internacional das Mulheres. Mais de um século depois, desigualdades persistem e atingem de maneira desproporcional algumas delas. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a vulnerabilidade das mulheres negras ao desemprego é 50% maior que a da população em geral. E, ainda que sua média salarial tenha quase dobrado de 1995 a 2015, é 59% inferior à dos homens brancos e 41,8% inferior à das mulheres brancas.

Na população carcerária, mulheres negras somam 62% do total, de acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Os dados mostram também que a mulher presa é jovem, mãe e com baixa escolaridade. Quem lida diretamente com esse público destaca que necessidades socioeconômicas de seus filhos e outros dependentes frequentemente estão relacionadas à entrada na prisão. As incidências penais pelas quais são presas com maior frequência estão associadas a drogas. Não raro elas ocupam posição de coadjuvantes no cometimento de crimes, que envolve o transporte e pequeno comércio das substâncias, como mostrado pelo próprio Infopen Mulheres. Assim, pensar em estratégias que garantam sua autonomia financeira é tema que merece atenção.

Dentro das penitenciárias, no entanto, encontram precariedade de estruturas e serviços. Desde 2014, o país tem uma Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional que prevê a humanização das condições do cumprimento da pena, inclusive o fomento ao acesso às políticas públicas de proteção social, trabalho e renda. Na prática, porém, apenas um quarto da população prisional feminina acessa atividades de trabalho e educação.

O crescimento expressivo no número de presas nos últimos anos (656% de alta de 2000 a 2016, contra 293% na população prisional masculina) impõe ao governo e à sociedade a necessidade de apoiar essas mulheres no processo de saída do cárcere. Identificar quais vocações e habilidades possuem para expandir e adaptar cursos oferecidos é um bom começo. Alternativas ao emprego em empresas, como projetos de cooperativismo desenvolvidos em Ananindeua (Pará) e Tremembé (São Paulo) também se mostram uma alternativa. Adicionalmente, não se pode deixar de acompanhar e avaliar os programas de qualificação profissional e trabalho que, de maneira geral, são desenvolvidos de maneira fragmentada e pouco sustentável. Incidir em cada etapa do caminho apresentado a essas mulheres tem potencial de impacto na construção de novas trajetórias. Precisamos romper definitivamente com este ciclo perverso.

Dandara Tinoco é assessora em comunicacão e pesquisa do Instituto Igarapé. Jornalista pela PUC-Rio e mestre em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento pela UFRJ.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_