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França suspende aumento dos impostos aos combustíveis para acalmar os ‘coletes amarelos’

Primeiro-ministro deve anunciar hoje moratória na taxa sobre a gasolina e o diesel prevista para janeiro

Protesto dos ‘coletes amarelos’ no sul da França
Protesto dos ‘coletes amarelos’ no sul da FrançaAFP

A pressão nas ruas, na oposição e nas próprias fileiras da maioria governista se tornou insuportável ao presidente Emmanuel Macron. O Governo francês prevê anunciar nesta terça-feira, 4, a suspensão do aumento dos preços do combustível previsto para 1º de janeiro, de acordo com a agência France Presse. Com essa decisão, Macron volta atrás na medida que desencadeou a revolta dos chamados 'coletes amarelos', que pedem melhora do poder aquisitivo e demonstram a irritação das classes médias empobrecidas da França provincial.

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A esperança de Macron é que a moratória no preço da gasolina e diesel apazigue os 'coletes amarelos'. O nome do movimento vem desses artefatos de segurança que devem obrigatoriamente estar nos carros franceses. Não é certo que ele consiga.

Desde o início dos protestos há três semanas, outras reivindicações se juntaram à moratória ao imposto do combustível, que penaliza os franceses que usam o carro diariamente nas cidades e regiões francesas com menos transporte público. Entre outros pedidos feitos pelos 'coletes amarelos', estão a diminuição de outras taxas que pesam sobre as classes trabalhadores e a reintrodução do imposto sobre as fortunas, mas outras vão além, como a renúncia de Macron. De acordo com as pesquisas, por volta de 70% dos franceses simpatizam com o protesto.

A oposição parlamentar tentou aproveitar o movimento dos 'coletes amarelos' para enfraquecer o presidente. A extrema direita e a esquerda populista exigiram a dissolução da Assembleia Nacional e eleições legislativas antecipadas. A direita de tradição moderada quer um referendo. O protesto, que no sábado, 1º, acabou em cenas de violência descontrolada em Paris e nessa semana começou a se estender a outros setores como os estudantes de ensino médio, submergiu o presidente em sua pior crise desde que chegou ao poder em maio de 2017.

É insólito que Macron suspenda uma medida já aprovada e o faça sob a pressão das manifestações.

O presidente, que colocou em andamento reformas que incluem a flexibilização do mercado de trabalho, se orgulhou até agora de não se deixar intimidar pelas ruas e não retroceder em suas promessas eleitorais. Queria se diferenciar de antecessores como François Hollande e Jacques Chirac, que algumas vezes cederam diante da pressão das ruas e da opinião pública. Macron pensava que a indecisão dos governantes era uma das causas do caráter irreformável da França. Ele se considerava legitimado por sua vitória eleitoral e pela ampla maioria legislativa de seu partido, A República em Marcha (LREM). E pensava que mudar de rumo seria interpretado como um sinal de fraqueza que faria com seu ambicioso plano para transformar o país perdesse credibilidade.

Desde os primeiros bloqueios dos 'coletes amarelos' nas ruas de Paris, em 17 de novembro, Macron e seu primeiro-ministro, Édouard Philippe, insistiram na negativa de suspender ou adiar o aumento do imposto dos combustíveis. Na realidade é uma medida central no programa do presidente como foi a reforma trabalhista e a reforma das linhas ferroviárias públicas, ambas aprovadas sem maiores contratempos. Consiste em um aumento de 6,5 centavos de euro (28 centavos de real) por litro no preço do diesel e de 2,9 centavos (12 centavos de real) no preço da gasolina. A ideia é alinhar o preço dos dois combustíveis e, em última instância, diminuir o uso de uma fonte de energia que emite gases de efeito estufa. Faz parte do plano de luta contra a mudança climática que a França deve fazer por acordos internacionais que ela mesma promoveu.

A moratória será de alguns meses, de acordo com fontes governamentais citadas pela France Presse. A decisão foi adotada em uma reunião na noite de segunda-feira no Palácio do Eliseu, sede presidencial. O primeiro-ministro Philippe se reunirá na manhã de terça com o grupo parlamentar da LREM para anunciar a decisão. A incógnita é se a moratória acabará com os protestos ou, uma vez detectado que o presidente pode ceder, iniciará novas reclamações.

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